Hoje, o dia-a-dia é vivido de uma forma muito mais rápida, do que alguma vez se viveu. Vivemos numa constante “correria”, desde que acordamos até que nos deitamos . Os dias parecem horas, as semanas dias e os meses semanas. Vivemos aparentemente, sempre atrasados e com sentido de urgência, para que tudo aconteça pelo menos, não muito diferente, daquela que gostaríamos que acontecesse.
Este sentido de urgência, está presente em todas as áreas da nossa vida.
Nas empresas, a capacidade de resposta está, hoje mais do que nunca, ligada à qualidade vs quantidade, mas também ao tempo de resolução. Aparentemente, a velha máxima “rápido e bem, não há quem”, passou a ser encarada como um desafio, onde se trabalha para sermos, os melhores, os mais eficientes e também os mais rápidos. A estrutura organizacional, é criada em torno destas três métricas, sem descurar na importância do capital humano.
Existe hoje, uma maior e melhor capacidade de encontrar a pessoa certa para o lugar certo (expressão máxima utilizada na literatura da especialidade), mas mais impressionante ainda, é a rapidez com que se faz. Mas será isto verdade? Estamos nós a conseguir ter as pessoas certas? Estão as empresas hoje a criar novos postos de trabalho, ou a rotatividade de pessoas aumentou!? E se aumentou, será esta responsabilidade única e exclusiva, das empresas?
Temos hoje números recordes de jovens licenciados, nas mais diversas áreas, como resultado do processo de “massificação” de licenciaturas, entupindo o mercado de trabalho com licenciaturas equivalentes a bacharelados e mestrados equivalentes a licenciaturas.
Os nossos jovens, entram no mercado de trabalho, não apenas sedentos para colocarem em prática todos os ensinamentos teóricos que adquiriram, mas também para fazerem a diferença, para se destacarem dos demais. Esta vontade/intenção, resulta também ela, das regras parentais que também elas hoje são muito diferentes.
Os “nossos do amanhã”, são criados com uma perfeita noção do seu papel nos mais diversos círculos a que pertencem, onde no seio familiar, deixaram de ser apenas informados, para serem consultados e onde, a sua opinião/vontade importa e influencia, o rumo dos acontecimentos, ou até mesmo, o desfecho dos mesmos. Crescem a acreditar, que são especiais e únicos. Crescem, com uma noção bastante clara (e por vezes errada) de todos aqueles que são os seus direitos e apenas, com uma bastante pálida ideia, daqueles que são os seus deveres. Vivem com um sentimento bastante apurado de justiça, igualdade de direitos e de certezas absolutas (onde na sua maioria, não são certezas, mas sim suposições e de absolutas têm tudo de relativas). A sua entrada no mercado trabalho, torna-se rapidamente num choque. Nas organizações não existem lugares para pessoas únicas e especiais. É necessário criar o seu caminho. É preciso trabalhar muito e bem, agarrar as oportunidades que surgem e claro, ter uma visão clara e concreta do que se pretende. Trivialmente há quem diga, que também é preciso ter sorte. É possível. Para mim, ter sorte é apenas significado de se ter de trabalhar muito.
Perante este choque, os “ nossos do amanhã” focam estas dificuldades nos outros e não em si. E porque haveriam de não o fazer? Que bases têm, para acharem que o problema ou a resolução está em si?
Isto traduz-se numa aparente desmotivação, num eterno descontentamento e sentimento de não identificação, com as ideologias, objetivos, procedimentos e pilares das organizações às quais pertencem, provocando quase como que, um estado ativo de busca constante de novas e melhores oportunidades, culminando em “trocas” quase que, consecutivas de locais de trabalho. E será que encontram? Ou melhor, será que existe?
Arrisco a dizer que se avizinham tempos de preocupações para as organizações, uma vez que a valorização do capital humano irá assumir, amanhã, mais do que nunca, um custo financeiro elevado e talvez o maior custo de todos, reeducar formas e métodos de trabalho.
Estarão as empresas preparadas para esta inevitável realidade?