Liderança é uma palavra feminina. Um substantivo feminino. E para início e fim da sessão de gramática, diria, ponto final parágrafo. A liderança no feminino é, ou deve ser, o mesmo que a liderança no masculino. Ou melhor ainda, a liderança não deve ter género. Representa desde uma função ou situação hierárquica, mais literalmente falando, até uma posição imaterial de autoridade e ascendência.
Mas representa antes de mais um exemplo, um modelo aspiracional daquilo que ambicionamos.
“Lidera-se pelo exemplo”, ouvimos muitas vezes, tal como é também pelo exemplo que se educa. Os anglo saxónicos, sem género associado à palavra, têm o assunto mais facilmente resolvido: “it’s a role model” ou “great leadership example”.
Então porque se fala tanto de liderança no feminino? Porque, por questões sócio-culturais, quer no mundo em geral, quer em Portugal, em particular, durante muitos anos, não existiram muitas mulheres em funções de liderança formal (sendo que sempre estiveram presentes – em número, força e qualidade -, transversalmente, em todos os sectores, situações e ramos da vida em sociedade); e felizmente que hoje a tendência é já outra, e que na maioria dos países e situações as mulheres têm acesso (pela sua competência e mérito) a todas as funções e actividades profissionais da sua escolha, como, aliás tem de ser (o que, por sua vez, ainda mais triste, preocupante e grave torna a situação daquelas sociedades em que isso não acontece).
Uma liderança eficaz tem de ser empática sem ser frágil; tem de saber escutar sem ser apática; tem de saber e ousar agir e decidir no momento certo, sem ser estouvada; tem de ter proactividade e iniciativa, sem facilitismos; tem de ser emocional, sem ser “lamechas”; tem de ser corajosa, sem ser agressiva; tem de ser forte sem ser brusca e tem de ser intuitiva e pragmática em doses iguais. Nenhuma destas características é exclusiva de homens ou de mulheres, mas todas têm de ser mandatórias em pessoas e profissionais completos, equilibrados e de sucesso. Sem isso não teremos bons líderes.
Antoine de Saint-Exupéry, escreveu na sua obra “O Principezinho”: “(...) tornamo-nos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos.”; ao passarmos para o campo da gestão não duvido que tornamo-nos eternamente responsáveis por aqueles que lideramos.
Por isso, a liderança (formal ou informal) tem de ser, antes de mais, um acto de maturidade, uma forma de agir e de nos comportarmos, o assumir de responsabilidades directas e indirectas com repercussões longas no tempo e no espaço. Liderança é, igualmente, uma opção: a decisão de pensarmos por nós próprios e tomarmos nas nossas mãos as rédeas da nossa vida pessoal e profissional.
Líder não é quem tem um título; líder é quem tem atitude; independentemente das suas crenças políticas e religiosas, de idade e de género.
Numa época tão transformacional como a que vivemos cabe-nos a todos ajudar numa pequena revolução, não tanto cultural, mas mais gramatical: que passe de substantivo feminino para verbo; um verbo que se constrói todos os dias, até alcançar um pretérito mais-que-perfeito.