Em todo o mundo, os profissionais têm sido confrontados com uma série de desafios inesperados. A pandemia, rapidamente seguida de uma desaceleração económica e de uma inflação em alta, criou um ambiente de trabalho incerto e volátil. Muitos dos aspectos fundamentais do local de trabalho foram reescritos, mas os colaboradores têm demonstrado uma enorme resiliência face a estes desafios.

Há 20 anos que capturamos a voz dos profissionais a nível global no nosso relatório Workmonitor. É um dos maiores estudos e com mais longevidade do seu género, que pergunta a opinião a mais de 30,000 profissionais em mais de 30 mercados em toda a Europa, Ásia-Pacífico e Américas.

Investigamos o que os profissionais querem das empresas para as quais trabalham, bem como a sua disponibilidade para o pedir. Durante as últimas duas décadas, assistimos às consequências desde a crise financeira global, à morte dos dias de trabalho em cubículos assim que os escritórios em open-plan se tornaram a norma, ao aumento de uma força de trabalho sempre em movimento e sempre ligada possibilitada por computadores portáteis e smartphones. E o impacto desta perturbação do local de trabalho e dos desafios macroeconómicos mais vastos está a surgir em alto e bom som.

Os resultados deste ano mostram que os profissionais querem o pacote completo por parte das empresas - emprego seguro, flexível, inclusivo e financeiramente estável, num lugar a que sentem que pertencem. Cabe às empresas satisfazer estas expectativas se desejam atrair e reter os melhores talentos no meio de uma escassez contínua.

 

Flexível mas estável

No nosso relatório de 2022 houve uma mudança significativa quanto aos valores - a pandemia fez com que muitos revisitassem o que queriam dos seus empregos. O talento foi atraído para organizações que refletiam as suas próprias prioridades e ofereciam um maior equilíbrio entre trabalho e vida privada. Muito disto é impulsionado pela Gen Z e Millennials, que procuram mais satisfação proveniente do trabalho do que um ordenado consegue proporcionar.

Mas ao entrarmos em 2023, a turbulência financeira acrescentou uma nova dimensão às prioridades e expectativas dos profissionais. Não tem havido qualquer abrandamento no desejo de empresas flexíveis e movidas por valores, mas os profissionais também estão à procura de estabilidade e segurança.

Com a incerteza económica a pesar sobre eles, mais de um terço dos profissionais estão preocupados com perder os seus empregos, enquanto quase dois terços disseram que não aceitariam um emprego se este não proporcionasse segurança. Estes dois números são superiores aos do ano passado. No entanto, os profissionais continuam a prezar os seus valores - dois quintos das pessoas não aceitariam um emprego se este não estivesse de acordo com as suas prioridades sociais e ambientais.

Com isto em mente, o apoio está a tornar-se um novo diferenciador na procura contínua de talentos. As pessoas esperam cada vez mais que as empresas as ajudem a ultrapassar a crise do custo de vida, seja sob a forma de aumentos salariais, subsídios ou reforços mensais em pagamento. E muitas empresas estão de facto a fazer isto - pouco menos de metade das pessoas disse que a sua empresa estava a ajudá-los a lidar com o aumento do custo de vida.

 

Trabalhar mais, por mais tempo

No entanto, isso não impediu que os profissionais sentissem o impacto - quase um quarto já assumiu ou está à procura de assumir trabalho adicional para ajudar com o aumento do custo de vida. E mais de um quinto está a procurar aumentar o número de horas para cobrir o seu déficit financeiro.

A par daqueles que procuram trabalho ou horas adicionais, as perspectivas económicas globais também significam que muitos profissionais mais velhos estão a repensar os seus planos de reforma. Na verdade, esta tendência para a "não reforma" é uma das mais marcantes oscilações de sentimento a que assistimos este ano.

idade da reforma
idade da reforma

Para algumas pessoas isto significará trabalhar mais tempo. No ano passado, 61% pensavam que se iriam reformar antes dos 65 anos, agora só metade pensa assim. E, 7 em cada 10 profissionais dizem que as suas finanças os impedem de se reformarem tão cedo quanto gostariam. Para outros, isto pode significar sair da reforma por completo.

Isto tem claras implicações para o mercado de trabalho do futuro, sendo que muitas empresas já se debatem com uma mão-de-obra envelhecida. E é também uma acentuada inversão da escassez de talentos provocada em parte por pessoas que se reformam antecipadamente como resultado da pandemia.

 

Construir o local de trabalho do futuro

Da dinâmica populacional à digitalização, estamos todos conscientes de que o local de trabalho está a mudar. A competição pelo talento continua a ser feroz, com muitas das aptidões digitais solicitadas para o local de trabalho do futuro também a escassear.

A dinâmica empregador-empregado mudou certamente ao longo do tempo em que realizámos o nosso estudo. Os profissionais estão mais sob controlo do que estavam nos primeiros tempos. Eles têm altas expectativas em relação às empresas e esperam mais em troca das horas que dedicam.

Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais evidente que os profissionais estão dispostos a abandonar os seus empregos por questões como o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, os valores e o sentido de pertença. Mais de metade das pessoas no nosso estudo demitir-se-iam se sentissem que não pertencem ou que não têm um propósito.

Os desafios económicos que enfrentamos atualmente colocaram algumas destas tendências numa nova inclinação. A "Grande Demissão" ("Great Resignation") e a "Grande Rotação" ("Great Rotation") podem estar lentamente a perder vapor, mas as empresas têm de corresponder a estas expectativas se quiserem construir forças de trabalho empenhadas, leais e realizadas.

Cada empresa deve ter como ambição criar um local de trabalho feliz, inclusivo e inspirador onde as pessoas sintam que pertencem. Isto significa ouvir os pontos de vista dos profissionais e respeitar os seus valores. 

E isto deve ser feito em paralelo com a oferta de emprego seguro, flexível e financeiramente estável aos profissionais. As empresas que apoiam os seus profissionais durante condições económicas mais árduas colherão as recompensas em forma de retenção quando os tempos forem mais fáceis.

Isto não só ajudará a prevenir uma futura escassez de talentos, mas também criará uma força de trabalho mais produtiva e satisfeita - o que é benéfico para todos.

sobre o autor
Sander van 't Noordende
Sander van 't Noordende

Sander van 't Noordende

ceo, randstad