A estabilidade profissional parece ter uma definição muito simples, principalmente quando culturalmente nos habituamos a um conceito em que a estabilidade profissional passa por conseguir chegar a um patamar onde se tem por garantida uma carreira numa empresa sólida e com capacidade financeira. Seguir os processos e não infringir as regras será o suficiente para garantir a continuidade, até ao dia em que se encontre disponível para “arrumar as chuteiras” e passar a vez a outro. O conceito parece à partida bastante simples, no entanto, este pode ser bem mais complexo do que possamos imaginar. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, esta velha máxima mantém-se sempre muito atual e no contexto profissional as novas gerações só a vêm reforçar.
O mundo do trabalho está em constante mudança, as empresas procuram cada vez mais a agilidade e a capacidade de resposta aos desafios de um mercado global em constante evolução tecnológica, onde as palavras de ordem são “Cliente”, “Transformação” e “Sustentabilidade”.
Por sua vez, os profissionais esperam cada vez mais que as empresas ofereçam muito mais que um emprego para a vida, isso já não é um motivador, pelo contrário, pode ser um sinal de estagnação profissional. Mas o que pode ser tão mais importante e valorizado que um emprego para a vida?
Propósito
A ideia de ter um trabalho com um propósito é algo cada vez mais valorizado. O facto de todos os dias poder contribuir para algo cujo o impacto na vida de outras pessoas será extremamente positivo, sendo também um facilitador da compreensão da missão da organização e do papel de cada um dos envolvidos, é cada vez mais procurado. A existência de um propósito claro é sem dúvida um factor que contribui para a sensação de estabilidade profissional.
Equilíbrio entre a vida profissional e pessoal
Vivemos a quarta revolução industrial, as organizações procuram acelerar para não perder o momento, tudo acontece a uma grande velocidade e muitas vezes tende-se a perder o controlo sobre equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. O contexto Covid-19 veio agravar esta dinâmica, que já era uma grande preocupação para as empresas e profissionais. A possibilidade de conciliar a vida profissional e a pessoal e a percepção de que a entidade empregadora possui genuinamente esta preocupação, torna-se um elemento essencial na procura da estabilidade profissional.
Benefícios
O acesso a um pacote robusto de benefícios acaba por traduzir um investimento da empresa no colaborador e com isto uma sensação de estabilidade profissional. O acesso a benefícios como Seguros de Saúde, soluções de work from anywhere ou dias adicionais de férias, são cada vez mais valorizados pelos colaboradores e vistos como Employee Value Proposition com grande impacto na retenção de talento, na satisfação dos colaboradores, e, ao mesmo tempo, acabam por ser factores que contribuem para a estabilidade profissional.
Desenvolvimento de Competências e Progressão
A estabilidade profissional é também conseguida através das competências individuais. O facto de um indivíduo ter o perfeito domínio sobre as competências que domina e daquelas que necessita de desenvolver, bem como do valor que estas acrescentam às organizações, acaba por contribuir para a estabilidade profissional. Cada vez mais é valorizada uma carreira profissional construída por experiências em diversos ambientes. A valorização pessoal e o autoconhecimento desse valor traz uma maior segurança na forma como o mercado de trabalho é enfrentado. O facto do contributo de um colaborador poder estar esgotado para uma determinada organização, não significa que possa ser esperada uma quebra na estabilidade profissional, pelo contrário, pode significar uma oportunidade de crescimento de carreira numa outra organização, ou mesmo, numa outra área da mesma empresa. De igual modo, a capacidade das organizações desenvolverem programas de up skilling e reskilling, dotando os seus colaboradores de novas competências e capacitando-os para assumirem novas funções, veio mudar a forma como a carreira profissional e a estabilidade profissional são percepcionadas.
Aprendizagem Contínua
Longe vão os tempos em que o investimento num colaborador se limitava ao pagamento do salário. A velocidade dos processos de transformação que as empresas enfrentam, a necessidade de adoptar modelos de liderança atualizados e que ajudem na obtenção do rendimento máximo de cada um, obriga a que a formação e o desenvolvimento contínuo dos seus ativos seja mais que uma obrigação, um factor crítico de sucesso. O acesso à formação e a novas competências veio permitir às organizações desafiar os seus colaboradores para assumirem novos papéis e responsabilidades. Este sentido de desafio constante, da capacidade de acrescentar valor e de aprender a enfrentar os problemas com novas abordagens, acaba por ser essencial na criação da estabilidade profissional.
Para além da valorização profissional, por via da formação, o acesso à tecnologia e inovação são também vistos como factores que contribuem para a estabilidade profissional. Quando as empresas investem para manter os seus colaboradores atualizados, estes ficam mais valorizados para o mercado de trabalho e não apenas para aquela organização.
Ambiente de trabalho
Sendo muito mais que um local, o ambiente de trabalho assume cada vez mais um papel importante na satisfação dos colaboradores. Organizações que promovem a inclusão, a comunicação e o feedback são as mais apreciadas e mais propensas a promover a estabilidade profissional dos seus colaboradores. O acesso a lideranças que inspiram ao mesmo tempo que desafiam as equipas com objetivos claros, feedback permanente e contribuem activamente para o desenvolvimento dos colaboradores, é cada vez mais um factor essencial no garante da sensação de estabilidade por parte dos profissionais.
O mundo do trabalho está nos últimos anos a sofrer grandes alterações. A forma como as novas gerações vêem o mercado de trabalho é agora muito diferente, o que tem levado as organizações a repensarem a forma como captam e gerem o seu talento. Já do lado do talento, o conceito de estabilidade profissional pode parecer menos fiel e comprometido às organizações, mas, em contrapartida, é cada vez mais alinhado ao propósito, à sustentabilidade, ao imediatismo e aos valores pessoais. Compete às organizações garantir que o Employer Brand é trabalhado por forma a conseguir que as suas marcas façam parte da ambição profissional dos novos talentos, e, mesmo não sendo para a vida, que estes possam encontrar a estabilidade profissional nas passagens que por lá possam vir a ter.