“Eu sou eu e a minha circunstância.” (Ortega y Gasset, filósofo espanhol)
Apesar de iniciar esta reflexão com a palavra eu, na verdade ela centra-se no outro. Porque o outro deve ser sempre a principal preocupação de quem trabalha em recursos humanos. Recursos Humanos. Uma designação que cada vez mais me causa algum desconforto. Porque é demonstrativo da desumanização em que vivemos nos dias que correm. Os recursos humanos são as pessoas. E é isso que somos. Pessoas que trabalham com as pessoas e, fundamentalmente, para as pessoas.
E como podemos querer trabalhar com e para as pessoas sem uma das mais poderosas competências, a empatia? É, talvez, das mais faladas e mais “in”. Mas, também, aquela que a maioria de nós tem dificuldade em praticar nos dias de ritmo alucinante em que vivemos atualmente.
Porque nesta corrida diária, a nossa maior preocupação acaba por ser, invariavelmente, a tarefa, o negócio, o resultado, o sucesso. Neste mundo de competição tendemos a ver o outro como um concorrente e não como um aliado. E, no meio disso, perdemos a capacidade de nos conectar. Esquecemo-nos do outro e da sua ciscunstância. Da sua visão. E cabe-nos também a nós, mostrar-lhe a nossa. Não esperar que, milagrosamente, ele a compreenda sem ajuda, sem dados. Como poderá fazê-lo se, ele próprio, não conhece a nossa circunstância?
É recorrente ouvirmos dizer:
É impressionante que ainda não tenham compreendido.
Não acredito que ainda estejam a cometer este erro.
Não percebem o impacto que isto tem no meu trabalho.
E se o dizemos é porque assumimos que a circunstância do outro é a nossa.
Porque não estamos disponíveis para ver e compreender a sua perspetiva.
Porque é mais fácil julgar que tentar compreender. É mais simples, mais rápido e protege-nos.
Mas, a longo prazo, isto apenas resulta num meio em que ninguém está disposto a apoiar ninguém e em que a preocupação maior das pessoas são os seus próprios objetivos, os seus próprios problemas e os seus próprios sucessos. E cada um de nós transforma-se numa bolha impenetrável que apenas entra em choque com as restantes, o que, em última análise, e na maioria dos casos, impacta nos nossos próprios resultados. É um ciclo perigoso.
Tornar esta bolha permeável e fazer com que o outro também o faça é um desafio. Porque não nos é natural. Porque nos guiamos pelo inato instinto de sobrevivência em que o nosso bem estar surge acima de tudo o resto.
E como lutar contra isto? Como inverter algo que nos é inato?
Com comunicação. Com escuta. E, acima de tudo, com disponibilidade para ver o que o outro vê. Tudo isto, embrulhado num ambiente seguro. Que não se decreta. Que não se impõe. Constrói-se com ações e atitudes coerentes, dia após dia. Com interesse genuíno pelo outro. Por outras palavras: com empatia.
E empatia é compreender a perspetiva do outro. É descentrarmo-nos de nós e olharmos verdadeiramente à nossa volta.
E enquanto não tomarmos consciência de que não vemos o mundo como ele é, mas sim como somos, não conseguiremos mudar os nossos paradigmas nem compreender a perspetiva do outro.
“A partir do momento em que conseguirmos ver o mundo como ele é, pensaremos, sentiremos e agiremos de forma diferente. E iremos fazê-lo automaticamente, espontaneamente.” (Stephen Covey, escritor).
Esta iniciativa não começa no outro. Começa em cada um de nós. E só funciona nos dois sentidos e se ambas as partes estiverem dispostas a colaborar.
É este o exercício que tento fazer, diariamente, em todos os projetos e em todas as interações que tenho com quem se cruza comigo. Com todos os colegas que são, igualmente, o meu cliente. Porque tudo o que faço é para eles.
Se não o fizer, como poderei entregar-lhes uma resposta que valorizem? Que lhes faça sentido?
Como poderei querer colocar-me no lugar do outro e calçar os seus sapatos, se não estiver disposta a perguntar-lhe primeiro que número calça?
Mas esta é só a minha perspetiva. Qual é a vossa?