Tinha de fazer. Mas não fez. Convenceu-se que foi porque não tinha tempo, o sistema falhou e também lhe disseram que não iam  conseguir. E quando lhe perguntaram se tinha feito, explicou, argumentou e disse porque não foi feito. Depois de tanto tempo a justificar, rematou com um ponto final, como se a justificação elimina-se a execução e nada mais houvesse a dizer sobre a promessa não cumprida, a responsabilidade não executada. Em nenhum momento sugeriu ou assumiu que poderia ter feito mais. Era como se estivesse sentado a olhar para um único ecrã, sem questionar e sem perceber qual era o seu super poder. 

E não é que não quisesse fazer, quando aceitou pensou que seria fácil. Achava que os outros veriam com os seus olhos os benefícios e que bastava partilhar com eles, dar duas pancadinhas nas costas e tudo ia acontecer. Bem, na verdade foi assim que aconteceu, mas depois começaram a surgir as dificuldades. Aquele que não reconhecia a importância de fazer, o outro que não conseguia mas culpava o sistema e ainda ele próprio, que tinha tanto na sua agenda que não sabia se conseguia incluir mais esta tarefa, não tinha tempo. Em momento nenhum parou. Em momento nenhum questionou. 

Afinal, não era um miúdo na idade dos porquês e se começasse com questões até poderiam duvidar se tinha compreendido, se conseguia fazer. Foi ensinado ao longo da sua carreira a não questionar. Tinham-lhe dado uma tarefa, ele tinha de mostrar essa disponibilidade e simplesmente assumir  que ia acontecer. Mas não aconteceu. E sem culpa, elencou todos os motivos que bloquearam a execução, sem perceber que podia ter feito tanto para que o desfecho fosse diferente. Sem perceber que a sua culpa não estava no não fazer mas na forma como geriu a sua equipa e a sua própria liderança.

Esta é uma história que se repete nas nossas empresas. Perdemos tempo e eficiência em desculpas pelo que não foi feito, pelo que não aconteceu. Gastamos energia a culpar os responsáveis, a desculpar os que não fizeram, em vez de nos centrarmos em resolver e em fazer acontecer. Se a culpa é do sistema, vamos desconstruir e perceber se é da tecnologia ou se está na adopção. Se as  pessoas não estão a fazer, é preciso identificar se conhecem o processo, se precisam de treino ou se temos de reforçar a comunicação. Temos de ouvir, não para depois justificar, mas para agir e garantir que acontece. “Commitment” não se traduz num simples “sim”, é muito mais do que isso, é um compromisso que assumimos e que vamos até ao fim para o entregar.

É verdade que a maioria dos “commitments” que são assumidos implicam pequenas ou grandes mudanças e mudar é uma chatice. Sair da zona de conforto, re-aprender, ou fazer de forma completamente diferente. Umas vezes reclamamos outras resistimos até de forma inconsciente, assentes nas nossas convicções de que estamos a fazer melhor e de que não faz sentido. O que mais pode contribuir para acelerar o processo de mudança é saber perguntar, fazer questões para que se compreenda e interiorize o processo, o que está a ser pedido e o porquê. 

As crianças não têm medo de fazer perguntas. 

As crianças são curiosas e tudo o que desconhecem questionam sem barreiras e sem receios de assumiram que não sabem. À medida que crescem desenvolvem pouco esta capacidade e começam a ganhar barreiras à curiosidade. São limitadas pelos pais, pelos professores, pelo seu próprio grupo, por nós. Temem ouvir em alto e bom som que a pergunta não faz sentido. Mas será que há questões que não fazem sentido? ou que por termos perdido ao longo do tempo a capacidade de questionar, quando finalmente o fazemos, não sabemos como o fazer? ou talvez tenhamos ficado com demasiadas questões  por responder...

Os verdadeiros líderes perguntam. 

Perguntam muito. 

São curiosos e não têm receio em assumir o que não sabem. Ter a resposta para tudo não é um ato de liderança, diria até que dificilmente será um reflexo de conhecimento, pois ninguém sabe tudo. Assumo que não é confortável questionar, mas quando ouvimos e questionamos, as perguntas certas vão surgir. Nada se aprende sozinho e não querer saber, não ter essa vontade é sinal de desinteresse e mata-nos aos poucos. Assim, fica aqui um pequeno exercício de curiosidade que pode aplicar todos os dias: comece numa pergunta e refaça-a numa melhor ainda. Em pouco tempo conseguirá encontrar novas perspetivas e encontrar as verdadeiras questões a colocar. Porque questionar, não é só perguntar porquê.

 

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José Miguel Leonardo
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