Daniel Newman, analista do Futurum Research e CEO do Broadsuite Media Group, identificou, num artigo que escreveu para a Forbes, nove tendências principais da transformação digital para 2019.
A transformação digital não é apenas uma mudança tecnológica, mas uma mudança organizacional, no cruzamento de tecnologia, negócios e pessoas. A tecnologia em si não significa transformação digital. O cliente, a cultura e os colaboradores, juntamente com a continuidade do negócio, devem estar no centro de todos os investimentos em tecnologia. Feita a ressalva, eis o que esperar no ano que se avizinha.
1 – Chatbots passam de bons a óptimos.
Todos tivemos experiências frustrantes com chatbots. Mas há boas notícias: continuam a ser dados grandes passos no processamento de linguagem natural (PLN) e na análise aos sentimentos – tantos que, de facto, algumas pessoas acreditam que o PLN irá criar um abanão no setor dos serviços, de forma inimaginável. Basta pensarmos nos serviços que podem ser oferecidos sem humanos – linhas no setor de fast food, processamento de empréstimos, recrutadores.
Mais ainda, o PLN permite às empresas recolherem informações e melhorarem os seus serviços com base nisso. Cerca de 40% dos grandes negócios irão adotar o PLN até ao final de 2019. Cabe às empresas atualizar os seus colaboradores em vez de os substituir, já que as máquinas são boas a concretizar pedidos claros, mas deixam muito a desejar no que toca a lidar com empatia e emoção humana, exigidas para oferecer boas experiências ao cliente.
2 – Clouds interligadas (públicas, privadas, híbridas).
As empresas estão a compreender que colocar tudo numa cloud pública, numa cloud privada ou num centro de dados não é a melhor opção. Por vezes, é preciso a mistura de todas ou de algumas das opções. Assim, as clouds interligadas irão continuar a desenvolver-se para satisfazer as necessidades das empresas – quer queiram espaço na cloud, networking, segurança ou implementação de aplicações.
O termo “multicloud” será a nova palavra do momento em todos os debates que envolvam a cloud. A experiência para as Tecnologias de Informação (TI) e para todos aqueles que utilizam as aplicações precisa de ser integrada, segura e eficiente.
3 – O blockchain será finalmente compreendido.
À medida que continuamos a explorar este milagre tecnológico, percebemos que o blockchain é uma confusão. É demasiado complicado para que os leigos o utilizem correctamente e não há uma forma “normal” de o usar porque todos o queremos usar de forma diferente. A única maneira de criar uma adoção do blockchain em massa é criar uma versão plug-and-play que todos possam usar e compreender. Há empresas empenhadas no potencial do blockchain para aplicações para lá da criptomoeda. No setor do transporte de bens e serviços, por exemplo. Os programadores continuarão a trabalhar para compreenderem o potencial do blockchain em 2019, mas só daqui a dois ou três anos começaremos a ver o início do que foi prometido.
4 – Dos dados às ferramentas analíticas, à aprendizagem das máquinas e à IA.
Os dados são a chave para que as empresas tomem boas decisões sobre produtos, serviços, colaboradores, estratégia e mais. Não veremos um abrandamento tão cedo. Dados recentes mostram que criámos 90% dos dados mundiais no último ano, mas pesquisas revelam que usamos eficazmente apenas 1% dos dados.
Com uma melhoria no poder de processamento, o que aumenta a aprendizagem das máquinas, veremos os líderes digitais a investirem na transformação dos seus dados e isto será feito com a aprendizagem das máquinas e com a IA. O 1% passará para 3% ou 4% em 2020. Pode parecer pouco, mas é um aumento enorme na utilização de dados.
5 – O RGPD pressiona as empresas.
Em Agosto de 2018, cerca de um terço das empresas ainda não cumpriam o Regulamento Geral de Proteção de Dados europeu. Mas os clientes mais informados começarão a ver quais as empresas que realmente se preocupam com a proteção dos seus dados. Embora as marcas não tenham necessariamente de cumprir, este movimento irá servir de aviso às empresas, já que estas precisam de encontrar novas formas de desenvolver genuinamente relações com os clientes, em oposição à má utilização e abuso claro de dados pessoais em nome do marketing e das vendas.
6 – Realidade Aumentada sim, Realidade virtual (ainda) não.
A RV é muito entusiasmante, mas não é viável para lá dos jogos e de aplicações muito especializadas no mercado de hoje – por agora. Já a RA – irmã mais nova e menos interessante da RV – continua a estar presente nas tendências de transformação digital de 2019. Tem diversas aplicações na formação empresarial, o que significa que, além de entusiasmante, é útil. E é isso que deve ser a tecnologia.
7 – Do Edge ao Core e à IoT.
À medida que a Internet of Things cresce – e o número de aparelhos interligados dispara – faz sentido que precisemos de mais espaço para processarmos os dados que são recolhidos e processados. Os conceitos de cidades inteligentes e veículos inteligentes não podem ser compreendidos se o processamento de dados acontecer na cloud. Isso significa que iremos cada vez mais na direção do edge computing. As ferramentas analíticas e os dados não servirão apenas para processamento – servirão para processamento em tempo real. E isso é algo que, neste momento, só é suportado pelo edge computing. Contudo, “edge” e “cloud” não são mutuamente exclusivos.
8 – Serviços de TI para consumo.
CIOs e executivos de TI mostram-se interessados em criar eficiência, ter mais flexibilidade em relação à sua carga de trabalho e ter capacidade para aumentar ou diminuir a escala rapidamente, conforme necessário. Isto significa, da mesma forma que vimos a Salesforce tornar-se um peso-pesado no CRM como serviço, que a ideia de tudo e qualquer coisa como serviço é altamente desejável. Com o sector do ‘as-a-service’ a crescer, as empresas estão a tornar-se mais sofisticadas ao escolherem serviços de TI “a la carte” para satisfazerem as suas necessidades. Estas “TIaaS” oferecem escala, as tecnologias mais recentes, ciclos de fornecimento mais curtos e um aumento da agilidade.
9 – Os CEO pegam nas rédeas.
Inúmeros estudos mostraram que os colaboradores desejam ver a transformação digital a começar no topo da empresa, mas as tendências ainda mostram que a tarefa é frequentemente delegada para o departamento de TI, de Marketing ou de Recursos Humanos. Contratar para a transformação digital será uma prioridade, reconhecendo-se a natureza essencial do desenvolvimento de novas culturas e o valor de requalificar colaboradores.
A transformação digital irá continuar a mudar a forma como fazemos negócios – em todos os sectores. Apesar de ser difícil ver os trajetos de algumas dessas tecnologias, o seu potencial para mudar a forma como trabalhamos, socializamos e interagimos é enorme – e as suas implicações irão continuar muito para lá do ano que se avizinha.