A rápida evolução da tecnologia tem levado a Critical Software a uma aposta constante na capacitação das suas pessoas, pois acreditam que só assim podem manter-se competitivos. Outra aposta tem sido a criação de centros de engenharia no interior do país, para ajudar a tornar Portugal mais competitivo como um todo.

  

A Critical Software nasceu em 1998, em Coimbra, numa altura em que não se ouvia falar em empreendedorismo em Portugal. A NASA foi um dos seus primeiros clientes, mas hoje actuamos em muitas outras indústrias além da Aeroespacial, desde a Energia aos Transportes, passando pela Defesa e pelas Finanças. Especializados no desenvolvimento de soluções de software e serviços de engenharia para o suporte de sistemas críticos, propõem-se «ajudar os sistemas e software dos clientes a alcançar os mais elevados padrões de qualidade, desempenho e fiabilidade». Quem o diz é Paula Gomes da Costa, People Director da empresa, que partilha os desafios da Gestão de Pessoas, agora que têm quase mil colaboradores.

 

Foi em 1998 que a Critical Software foi criada, em Coimbra. Hoje, é uma empresa global com quase mil colaboradores. Sucintamente, quais foram os principais marcos evolutivos?

O trabalho com a NASA, numa fase inicial da empresa, foi um dos grandes marcos. Pouco a pouco, fomos alcançando reconhecimento internacional. Fomos selecionados pela Agência Espacial Europeia [ESA] como case study para as PME [Pequenas e Médias Empresas] europeias que actuavam no sector espacial. Em 2003, fomos a primeira empresa ibérica a ser reconhecida com a certificação de qualidade ISO 9001:2000 TickIT, uma distinção feita às empresas com os melhores standards de desenvolvimento de software. Em 2011, integrámos a lista da Bloomberg Business Week das 500 empresas de maior crescimento na Europa.

Expandir e abrir centros de engenharia noutras geografias é sempre um marco, neste momento temos nove, assim como lançar empresas spin-off. A primeira foi a Critical Links, mas somamos já cerca de sete, a que devemos adicionar joint ventures como a Critical Techworks, fundada em setembro de 2018, em parceria com a BMW.

Estamos satisfeitos com o nosso percurso, mas de olhos postos nos desafios que o futuro nos poderá trazer.

 

Nesse, percurso, quais têm sido os principais desafios?

Diria que, nestas últimas duas décadas de actuação, o principal desafio que a Critical Software enfrentou foi a sua consolidação enquanto referência global de excelência no desenvolvimento de software crítico para algumas das indústrias mais desafiantes.

A isto acresce a consolidação da empresa em alguns dos mercados mais exigentes do mundo, indo ao encontro dos desafios lançados por clientes que só trabalham com as empresas de referência na área. Isto só é possível porque a qualidade é uma prioridade para nós.

 

E hoje, quais os principais desafios? Actuam num sector altamente competitivo, mas a vossa rota tem sido sempre de crescimento...

Como somos uma empresa que opera para o mercado global, diria que os maiores desafios que nos são apresentados prendem-se justamente com a volatilidade de alguns mercados.

Refira-se, ainda, a rápida evolução da tecnologia, que nos leva a uma aposta constante na capacitação das nossas pessoas, por forma a mantermo-nos competitivos face aos desafios que nos vão sendo apresentados.

 

Que prioridades assumem para dar resposta a esses desafios, nomeadamente o da capacitação das vossas pessoas?

A formação dos colaboradores é a nossa maior prioridade. Temos um extenso calendário com várias formações agendadas, para permitir alavancar o conhecimento dentro da organização através da capacitação das nossas pessoas. Além disto, de forma mais direccionada, apostamos também na formação de áreas de conhecimento altamente diferenciadoras, em áreas de negócio muito específicas e que aportam grande valor aos nossos clientes. 

 

Tendo subsidiárias em vários países, que comparação conseguem fazer em relação aos desafios enfrentados?

A Critical Software define-se como uma empresa metanacional, o que significa que oferecemos as mesmas condições e respostas nos nossos nove centros de engenharia. É evidente que existem nuances relacionadas com a cultura e a legislação específicas de cada localização. Por exemplo, um colaborador que mude o seu local de trabalho da sede da Critical Software, em Coimbra, para o centro de engenharia de Southampton, no Reino Unido, terá à sua disposição todos os elementos que lhe permitam o conforto de uma rápida adaptação.

 

Com o crescimento do negócio, a equipa também cresceu, e muito. Que outros centros têm fora de Portugal?

Fora de Portugal, temos escritórios em Southampton e Munique. Em solo nacional, temos a nossa sede, em Coimbra, com perto de 500 colaboradores, Lisboa, com 100, Porto, com 230, Viseu, que já tem uma equipa de perto de 50 elementos, e Tomar e Vila Real, com cerca de 25 colaboradores cada.

 

Em termos de total de colaboradores isso traduz-se em mil…

Sim, no total, temos cerca de 950 colaboradores e planeamos chegar às 1000 até ao final do ano. A equipa tem crescido gradualmente e de forma sustentada.

 

Quais os vossos principais desafios na gestão dessas 950 pessoas?

Dada a nossa taxa de crescimento, o maior desafio passa por tentar uniformizar uma oferta adequada e inovadora que garanta que todas as nossas pessoas tenham acesso às melhores oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal.

 

A vossa sede é em Coimbra e, apesar de terem escritórios em Lisboa e no Porto, a aposta mais forte continua a ser no interior do país. Porquê?

Não é a nossa aposta mais forte, visto que todos os centros de engenharia têm igual importância para nós. Apesar disso, um dos nossos grandes objectivos é melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e ajudar a tornar o país mais competitivo como um todo.

Acreditamos que a aposta no interior é uma forma de atrair novos investimentos para essas regiões. Acreditamos igualmente na existência de talento nessas localizações que, com a abertura destes centros de engenharia, não terá de se deslocar para as metrópoles, com vista a desenvolver uma carreira na área da tecnologia, podendo assim conciliar a sua vida pessoal e familiar com as suas ambições profissionais.

Gostamos ainda de pensar que este movimento será um vector determinante no desenvolvimento das economias locais.

 

E para a Critical Software, em particular, que vantagens a descentralização vos traz?

A descentralização permite-nos conciliar a nossa aposta no talento local com as necessidades dos nossos projectos globais. Temos inúmeros exemplos de colegas que, desta forma, conseguem contribuir com as suas capacidades de engenharia para um projecto nos Estados Unidos ou na Alemanha e sair a tempo de ir buscar os filhos na creche em Viseu. Neste sentido, diria que a maior vantagem que a descentralização nos traz é a possibilidade de termos os nossos colaboradores motivados e alinhados com a missão da Critical Software.

 

Sentiram maiores dificuldades de recrutamento para os escritórios de Tomar, Viseu e Vila Real do que para os de Lisboa e do Porto?

Não sentimos maiores dificuldades, mas os desafios são certamente diferentes. Enquanto que os mercados do Porto e de Lisboa estão consolidados, as realidades em Tomar, Viseu e Vila Real são simplesmente diferentes.  

Estas três cidades estão em crescimento e, apesar de já contarem com algumas empresas nesta área, ainda não há uma consciencialização por parte dos seus habitantes quanto à existência destas novas apostas na empregabilidade na área da tecnologia. Se antes estas pessoas precisavam de se mudar para um dos grandes polos, como Lisboa e Porto, para trabalhar neste tipo de empresas, este cenário está gradualmente a mudar, sendo esta uma das missões da Critical Software.

 

No geral, têm sentido o desafio de que tanto se fala da escassez de talento? Que argumentos têm nesta "guerra"? O que vos diferencia?

Tendencialmente, a entrada de tecnológicas estrangeiras e crescente aparecimento de novas empresas e startups desta área torna o mercado mais competitivo, o que não é necessariamente mau. A concorrência nunca nos assustou e acreditamos que reunimos condições únicas e mais-valias que ao longo deste tempo nos têm distinguido das restantes empresas e permitido crescer.

 

Disse que pretendem, ainda este anos, chegar aos 1000 colaboradores. Mais 50, portanto. Que perfis procuram?

Acima de tudo, procuramos profissionais nas áreas de engenharia com vontade de apostar em projectos e tecnologias de elevada complexidade. Outro factor que valorizamos é a capacidade de trabalhar em equipa e o desejo de integrar a família Critical Software e acrescentar valor a qualquer equipa em que se insiram.

De referir ainda que, apesar de procurarmos pessoas com competências nas áreas de engenharia de software nas suas várias vertentes, temos colaboradores que passaram por programas de requalificação e até alguns que são autodidatas.

 

Recrutam a nível internacional, cálculo. O que acredita que torna Portugal um país atractivo para trabalhar? Ou é a empresa, mais do que o país, e o que oferece, que faz a diferença?

Portugal tem vários aspectos positivos que o torna atractivo para os recursos humanos. Além do óbvio, ou seja, o clima ameno, a riqueza cultural, a qualidade de vida, a segurança e a estabilidade política, diria que Portugal se tem posicionado como um hub tecnológico de excelência, o que acredito que também desempenhe um papel fundamental na atracção de talento estrangeiro.

Ainda assim, a atractividade da empresa que vão integrar também desempenha um papel importante na decisão de mudar de país. No nosso caso, aquilo que notamos é que os nossos colaboradores dão bastante valor à possibilidade de trabalhar em equipas ágeis, projectos aliciantes e com clientes internacionais.

 

É isso que acredita que as pessoas mais valorizam hoje em dia na altura de escolher onde trabalhar?

Depende das áreas de actuação das empresas, mas, no nosso caso, apercebemo-nos que os colaboradores valorizam os desafios tecnológicos, a possibilidade de integrar projectos com impacto real, a formação a que têm acesso e a flexibilidade de horário e modo de trabalho, o que, na Critical Software, podemos dizer que é uma realidade. 

 

Que objectivos pretendem concretizar a curto/ médio prazo?

Para além do objectivo já referido de atingir os 1000 colaboradores até ao final do ano, queremos, a partir daí, continuar a crescer, para garantir o crescimento sustentado da nossa pegada de projectos internacionais e a qualidade e o nível de exigência que até agora nos tem sido característica.

 

Se pudesse escolher só um, o que considera como o factor crítico do vosso sucesso?

O factor crítico para o nosso sucesso são, sem dúvida, as nossas pessoas. O sucesso da Critical Software depende única e exclusivamente das nossas equipas. Além das iniciativas de desenvolvimento profissional e pessoal que já referimos, encorajamos a discussão aberta e a constante partilha de ideias, visando uma política de melhoria constante que seja partilhada por todos.

 

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Paula Costa
Paula Costa

paula gomes da costa

people director da critical software