O setor automóvel em Portugal é, atualmente, das áreas mais afetadas pela crise mundial que vivemos. Analisando em termos cronológicos, os últimos três anos foram dos mais desafiantes para este setor. 

Em 2020, com o início da pandemia surgiram novos desafios e os impactos da Covid-19 na indústria automóvel foram diversos De acordo com o artigo da Organização Internacional do Trabalho, “Conduzir a mudança: o futuro do trabalho no setor automóvel português”, os confinamentos, o encerramento de fábricas, as restrições de circulação entre países e a perda de receitas (devido ao cancelamento de encomendas, às restrições de deslocações de pessoas e à perda de rendimentos), colapsaram a procura de vendas de automóveis. Grande parte das fábricas entraram em lay-off e reduziram a sua força de trabalho. 

O ano de 2021 prometia o início da recuperação. No entanto, quando as fábricas reabriram, enfrentaram a escassez de microchips e semicondutores, consequência da lenta recuperação das cadeias de abastecimento. Esta falta de componentes resultou, mais uma vez, em quebras de produção e despedimento de colaboradores. 

No início deste ano de 2022, a esperança de estabilidade e recuperação era muito mais elevada que no ano anterior mas, em fevereiro, algo inesperado aconteceu: a guerra na Ucrânia. A Ucrânia, grande produtora de cablagens elétricas e a Rússia, produtora de alumínio e magnésio, viram as suas cadeias de abastecimento cortadas. As redes logísticas foram suspensas e a falta de componentes originaram mais uma vez fortes perturbações na produção automóvel. 

Apesar das tentativas de recuperação do setor da crise financeira, existe, também, uma crise de empregabilidade. Os colaboradores recrutados por para trabalho temporário, representam grande parte da mão de obra e são contratados para suprir acréscimos de produção. No entanto, o constante cancelamento de encomendas que resulta em linhas paradas leva ao excedente de trabalhadores (normalmente trabalhadores temporários). Estes, no caso de quebra, são os primeiros a sair. 

No mercado de trabalho atual, estes constantes avanços e recuos e a falta de estabilidade e certeza no dia de amanhã, conduzem a um recrutamento cada vez mais difícil e desafiante. É necessária, muitas vezes, a reinvenção de estratégias de retenção cada vez mais credíveis e eficientes. 

Sem produção, não há emprego, sem emprego não existe recrutamento e consequentemente lucros. É errado pensar que tudo é linear e que a crise de um setor não afeta o outro. 

Nós, empregadores, temos de acompanhar o balanço do mundo.

 

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inês santos

account specialist, randstad portugal