Em 2016, a Natixis, divisão internacional do segundo maior grupo bancário em França, internalizou alguns dos seus serviços de TI, resultando no desenvolvimento de um Centro de Excelência no Porto. Telmo Fernandes revela que Portugal foi escolhido pelos «seus níveis de Educação, Inovação e Empreendedorismo, proximidade cultural com França e “mindset” internacional». E representa um dos maiores investimentos em Recursos Humanos já feito pela Natixis a nível global.

 

A Natixis tem feito um grande investimento em Portugal. O que justifica esta aposta? 

O plano estratégico da Natixis coloca a inovação tecnológica e a digitalização como prioridade de topo para a empresa. Nesse sentido, a Natixis decidiu, em 2016, internalizar alguns dos seus serviços de Tecnologias de Informação (TI), até então prestados por fornecedores externos ou equipas dispersas geograficamente, com o objectivo de ter “in house” o domínio técnico em actividades core, aumentar a força de trabalho especializada, optimizar os custos de TI e melhorar a gestão de risco operacional. A criação do Centro de Excelência em TI surge nesta sequência.

 

E porquê em Portugal? Quais são os principais factores atrativos do País para o Grupo BPCE, do qual fazem parte?

 

A escolha de Portugal resulta de um estudo exaustivo levado a cabo em vários países europeus, tendo o nosso País sido escolhido pelos seus níveis de Educação, Inovação e Empreendedorismo, proximidade cultural com França e “mindset” internacional que procurávamos. 

Portugal é atractivo enquanto ecossistema de empreendedorismo e inovação, com vantagens competitivas não só do ponto de vista das infraestruturas e integração tecnológica, mas também do capital humano: temos universidades de topo, perfis altamente qualificados nas áreas da ciência e tecnologia, proficiente em inglês e francês e com uma cultura profissional internacional. 

Mais ainda, encontrámos na cidade do Porto excelentes instalações, com fáceis acessos, que nos permitem oferecer boas condições de trabalho aos colaboradores. Até agora, tem-se mostrado uma aposta muito bem-sucedida.

 

Sendo uma divisão internacional de banca empresarial e de investimento, de gestão de activos, de seguros e serviços financeiros do segundo maior grupo financeiro em França, um sector que tem sofrido grandes transformações, quais os principais desafios que enfrentam em termos de negócio?

 

Os modelos de negócio estão a mudar e a tendência cada vez maior da digitalização para os serviços financeiros leva a que a tecnologia seja uma alavanca no desenvolvimento da nossa actividade. Por isto, se no passado contratávamos fornecedores de serviços de TI, agora, para estarmos na vanguarda em termos de inovação, a criação tem de partir de nós. Este Centro surge precisamente por isso, como forma de dar resposta às novas tendências no sector, com cada vez mais players e de diferente natureza e com clientes com novos hábitos e exigências.

 

E como funciona esse Centro de Excelência?

A equipa da Natixis em Portugal trabalha de forma totalmente integrada com o negócio global da empresa, apoiando quatro unidades principais: Corporate Investment Banking; Retail; Infraestrutura e segurança e DFO - funções de apoio transversais ao banco. 

 

Para este centro, a empresa pretende criar, até 2019, mais duas centenas de empregos qualificados nas áreas de TI. Como vão dar resposta a esta necessidade, sendo que é sabido que em Portugal a oferta desses recursos é inferior às necessidades das empresas?

A Natixis começou este projeto a partir do zero e, em cerca de ano e meio, já contratou cerca de 450 pessoas, sendo que pretende criar, até ao final de 2019, um total aproximado de 650 empregos qualificados nas áreas de Tecnologia de Informação em Portugal.

Queremos ter na Natixis profissionais de referência. Entre outras coisas, oferecemos aos nossos colaboradores instalações de vanguarda – um espaço de trabalho flexível e moderno, no centro da cidade –, de forma a oferecer as melhores condições de trabalho; desenvolvimento de carreira que inclui a possibilidade de mobilidade interna e internacional, que é algo que os profissionais atualmente valorizam; parcerias com universidades, para garantir conhecimento especializado; programas de formação, técnica e em competências sociais; e metodologias dinâmicas de trabalho, com base na agilidade, na flexibilidade, no empreendedorismo e na criatividade. 

No entanto, acreditamos que a nossa cultura é a chave para nos diferenciarmos neste mercado tão competitivo: afinal, combinamos o espírito empreendedor de uma startup com a solidez e experiência de um banco multinacional.

 

Que tipos de perfis procuram? 

Para o Centro de Excelência, a Natixis está à procura de diversos perfis de TI – para muitas áreas e tecnologias. A empresa está, neste momento, predominantemente à procura de pessoas para as áreas de suporte aplicacional, análise de negócio, administração de bases de dados, big data, business intelligence, bem como para funções mais transversais, como agile coach. E somos grandes defensores da presença de mulheres nestas áreas – ainda muito percepcionadas como men’s job -, pelo que promovemos activamente a integração e diversidade na nossa empresa. 

 

Onde pretendem encontrar estes talentos?

A Natixis tem promovido eventos de recrutamento, fóruns tecnológicos – como o nosso Open Day, em Abril -, e outro tipo de iniciativas, como o job tasting – experiência na qual os participantes têm oportunidade de passar parte do dia com os colaboradores da Natixis, e sentir in loco como é trabalhar na equipa. Estes encontros permitem-nos, não só mostrar o projecto que estamos a desenvolver em Portugal, como são ainda uma forma de estarmos em contacto com jovens talentos, conhecermos as suas expectativas e falar-lhes sobre as tecnologias que estão tão presentes na nossa atividade.

Além destes eventos, a Natixis estabeleceu ainda parcerias com universidades, nomeadamente a Porto Business School, e lançou a Natixis Academy, que consiste num programa remunerado de formação destinado a recém-graduados das áreas tecnológicas.

O próximo evento tecnológico da Natixis, NATWORK, irá decorrer em Lisboa, no dia 20 de Outubro, na Warehouse j9A. 

 

Este desafio, de recrutamento, é o principal em termos de Gestão de Pessoas? Que outros desafios enfrentam nesta área?

Como destaquei há pouco, principalmente num cenário tecnológico tão competitivo em Portugal, a criação de uma cultura diferenciadora é fundamental. É uma prioridade para a Natixis trabalhar esta cultura desde o primeiro contacto com potenciais colaboradores, estendendo-a ao longo do processo de recrutamento, na contratação e na retenção. 

 

Como é que estes desafios, e os do negócio, se interligam e como a Gestão de Pessoas ajuda a dar resposta a estes últimos?

A cultura está sempre no centro da nossa estratégia. Acima de tudo, importa alinhar a forma como comunicamos e implementamos os valores da empresa, desde a proposta de valor que oferecemos ao cliente à proposta de valor que oferecemos aos colaboradores, enquanto empregador. O nosso princípio é o mesmo para ambos os públicos: “go beyond”. 

A nossa maior prioridade é criar uma cultura genuína, totalmente alinhada com os princípios da casa-mãe, mas ajustada ao contexto local e à realidade de um Centro de TI, tão diferente de uma holding. Queremos, acima de tudo, que a nossa cultura seja coerente e consistente em todos os processos e projetos.

 

Qual o posicionamento e importância estratégica que esta área assume na empresa?

Podemos afirmar que este é um dos maiores investimentos em Recursos Humanos já feito pela Natixis a nível global. Se o Centro é estratégico para a empresa, garantir a qualidade das pessoas que aqui trabalham é também, claramente, uma prioridade que perseguimos.

 

Que objetivos pretendem alcançar a curto/ médio prazo, não só em termos de negócio, mas das vossas pessoas?

Pretendemos continuar a promover o espírito empreendedor que tanto nos caracteriza e trazer mais projectos tecnológicos que fomentem a inovação dentro e fora de portas.

  

Entrevista a Telmo Fernandes, director de Recursos Humanos da Natixis em Portugal