gosto muito de desafios e de aprender. de sair da minha zona de conforto.
Uma pessoa de muitas paixões – que já fez parte de uma banda –, impaciente, e que até tem carta de patrão local. É o lado B de Ana Porfírio que, a nível profissional, ambiciona deixar um legado que a orgulhe. Partilha as que foram 48 horas mais stressantes da sua carreira e também as principais aprendizagens.
Entrevista a Ana Porfírio, diretora de Recursos Humanos da Jaba Recordati
A sua formação é em Recursos Humanos e é em Recursos Humanos que tem desenvolvido toda a sua carreira. Como surgiu esta paixão? Ou quando soube que era esta a área que queria seguir?
Desde miúda, dos 10/11 anos, que fui tendo contacto com a área comercial e atendimento ao cliente através de negócios de família. Depois, já na altura de decidir qual o curso que iria seguir, coloquei duas opções: Sociologia ou Gestão de Recursos Humanos. Acabei por optar pela última e não me arrependo nada. Claro que na altura o meu foco estava na parte “sexy” da Gestão de Pessoas, o recrutamento e selecção, a gestão e avaliação de desempenho, os planos de Formação, etc. Mas depressa percebi o mundo que é esta área. O mais curioso é que o factor diferenciador na minha selecção para a consultora foi o conhecimento que tinha na construção e uso de bases de dados - nada a ver com Recursos Humanos.
O que mais a apaixona na Gestão de Pessoas? Alguma vez se sentiu tentada a experimentar outra área?
As pessoas! Trabalhar numa área que possibilita desenhar, acompanhar, ajustar, intervir, desafiar, influenciar todo o career path do trabalhador na companhia, desde a atracção, selecção, desenvolvimento, promoção e progressão de carreiras e por vezes também a saída, garantindo que sincronizamos o mais possível os objectivos da empresa com os objectivos individuais de cada um. É de facto apaixonante.
Quando temos a sorte de trabalhar com uma equipa de gestão que considera os Recursos Humanos como elemento estratégico do sucesso do negócio, redobra o sentido de realização, o posicionamento e a influência, o que me leva à segunda questão. Gosto muito de desafios e de aprender. De sair da minha zona de conforto. Felizmente tenho sido desafiada a desenvolver e implementar vários projectos para além de RH e tem sido muito recompensador.
O que recorda do seu primeiro dia de trabalho/ início de carreira?
Vou focar-me na área de Recursos Humanos, uma vez que, enquanto estudei, trabalhei noutras áreas. Recordo-me sobretudo do enorme sentido de responsabilidade por estar a iniciar a carreira numa grande empresa e de me questionar se conseguiria corresponder às expectativas!
É diretora de Recursos Humanos na Jaba Recordari deste 2015. Como foi o seu percurso até aqui?
Comecei a trabalhar muito nova, nas férias de Verão, ainda antes da universidade, em lojas de amigas da minha mãe. Já na altura da faculdade, estive na área taxfree do aeroporto de Lisboa. Depois da licenciatura iniciei logo funções em RH numa empresa de Recrutamento e Selecção. No ano seguinte passei para a consultora onde estive 15 anos e tive oportunidade de trabalhar em várias geografias, como Polónia ou Angola. Em 2015 fui convidada a integrar a equipa de gestão da Jaba Recordati.
Antes de integrar o setor farmacêutico vinha então do setor da consultoria, de uma das big four. Os desafios na Gestão de Pessoas são muito diferentes nesses dois setores?
As características específicas dos diferentes setores de atividade, assim como a estratégia definida para o negócio impactam nas práticas de RH a adotar, assim como as características demográficas dos trabalhadores das empresas, níveis de turnover, entre outros. No entanto – e como esta crise pandémica veio demonstrar –, existem fatores externos que condicionam de forma transversal, e com os mesmos desafios, as práticas de Recursos Humanos, dos modelos de trabalho, à saúde e segurança das pessoas, passando pelo reskill e upskill, etc. Depois é tudo uma questão de escala.
Quais são agora os seus principais desafios?
Ajustar o modelo de trabalho a este “novo diferente”, atendendo ao novo quadro laboral, a reorganização da estrutura de acordo com a nova estratégia definida pelo grupo Recordati, e a segurança, saúde e bem-estar dos nossos profissionais face ao desgaste destes dois anos de pandemia.
Do seu percurso, quais os principais desafios que recorda?
Tenho tido vários. Alguns que me acrescentaram muitos cabelos brancos, mas por outro lado, que me obrigaram a sair da zona de conforto e até ver reconhecida a solução adotada como boa prática internacional dentro do grupo. Todos os desafios relacionados com a saúde e a segurança dos trabalhadores são sempre de elevado stress: gripe A, ébola e agora o coronavírus foram alturas difíceis, de muito trabalho e muito desgaste, devido também às geografias onde tenho operado.
Houve também uma situação de catástrofe natural numa geografia onde tínhamos uma equipa de cinco pessoas que tínhamos que fazer regressar a território português em segurança. Foram talvez as 48 horas mais stressantes da minha carreira.
Recordo também um projeto muito desafiante, quando foi feita a aquisição de uma tecnológica. A integração, atendendo quer à diferença de culturas quer à diferença de práticas de gestão, eram enormes e foi um processo de mudança e integração duro, com avanços e recuos, e onde pude aprender muito também. São apenas alguns exemplos.
E quais as principais aprendizagens?
As principais aprendizagens são a importância da colaboração: estamos todos a trabalhar para o mesmo objectivo. Se aproveitarmos as sinergias existentes fica tudo mais facilitado; comunicação: fazer-se investimento em planos de comunicação interna utilizando diferentes meios e, ao mesmo tempo, a estar disponível para ouvir, receber feedback; e adaptação e resiliência: são a chave do sucesso nos momentos de crise.
O que identifica como principal conquista até à data?
Aquilo que mais valorizo é o legado, deixar a marca, por isso faço muitas vezes esse exercício crítico de olhar para o meu percurso e para as pessoas que tenho encontrado nesse caminho e avaliar de que forma deixei algo meu de bom. Considero que sim e isso deixa-me realizada.
Qual a decisão mais difícil que teve que tomar?
Várias. Fazer escolhas, tomar decisões e viver com o resultado das mesmas é sempre difícil, sobretudo quando falamos de pessoas. Talvez a mais difícil tenha sido dar prevalência à carreira em detrimento da família. Sabia que durante aquele período tinha que estar presente de forma a influenciar decisões, o que me obrigou a muitas viagens e ausências mais longas. Foi uma decisão difícil mas não alterava. Considero que faz parte do percurso e da aprendizagem.
Onde se imagina daqui a 10 anos?
Quero estar num projeto que me apaixone – como agora estou –, desafiante e que me preencha. Para além da carreira empresarial, também gosto muito da academia, e espero nessa altura já ter terminado o meu doutoramento e poder contribuir de alguma forma para a tão necessária aproximação entre o mundo académico e o mundo empresarial.
Quem é a Ana Porfírio, para lá da profissional?
Sou uma pessoa que, apesar de aparentar uma presença calma e sob controlo, sou muito impaciente, tenho muitas paixões. Tive formação musical quando era mais nova e fiz parte de uma banda; e pratiquei natação durante anos. Mais tarde quis ser formadora e fiz o CAP, dei formação pedagógica de formadores aos sábados durante algum tempo. Tenho uma paixão pela cozinha. Ao longo de mais de 20 anos tenho vindo a reunir as receitas de família e amigos mais próximos. Este ano comecei a fazer um curso de cozinha. Estou a adorar. Também gosto muito de andar em embarcações de recreio, por isso fui tirar a carta de patrão local. Como temos uma embarcação, este ano pretendemos voltar ao mar. Gosto muito de ler, apesar de nos últimos anos, quer por causa do doutoramento, quer por causa de alguns desafios que me têm colocado na academia, tenho lido, sobretudo, livros técnicos.