Depois da “The Great Resignation”, há outro fenómeno pós-pandemia ao qual as empresas na Europa e EUA estão atentas. O “Quiet Quitting” pode fazer reavaliar a forma como vivemos o trabalho, destaca a Forbes.
Iniciado no TikTok, num vídeo publicado em Julho e que rapidamente se tornou viral, o movimento #QuietQuitting, ou “demissão silenciosa”, está a emergir no mundo corporativo e já conta com mais de 65 milhões de menções naquela rede social.
O “quiet quitting” pode levar a uma reavaliação profunda sobre o trabalho, já que, ao contrário de “A grande Demissão”, não se trata de deixar o emprego ou fazer planos para se despedir “silenciosamente”, avança a Forbes. Reflete, sim, a importância de limitar as tarefas profissionais apenas ao que está estritamente definido na descrição do trabalho. Ou seja, não assumir mais tarefas e responsabilidades do que a sua função atual estabelece e isso significa executar apenas o seu trabalho específico, de forma profissional claro, e nada mais.
Os objetivos são evitar o burnout, ao trabalhar mais horas do que o necessário, e evitar fazer mais do que aquilo para o que foi contratado, sem ser remunerado por isso.
Esse movimento também dá voz aos que estão insatisfeitos com a forma como são tratados por líderes de gestores, nomeadamente com as imposições de regresso ao escritório ou as horas e trabalho extra que não são pagas.
Além dos desafios a nível profissional, a pandemia levou a sociedade a estar mais atenta ao burnout, depressão, ansiedade, entre outros e colocou o tema da saúde mental na agenda das empresas. Para os colaboradores que se encontram em trabalho remoto, a conciliação das vidas profissional, pessoal e familiar – com prestação de cuidados a crianças e idosos, entre outras responsabilidades – acontece no mesmo espaço e na mesma quantidade de tempo.
Embora este modelo permita mais flexibilidade, está comprovado que torna mais difícil o “desligar” – já que o colaborador está constantemente online –, o ter tempo para relaxar, passar tempo de qualidade em família ou até mesmo para os hobbies. Além do aumento de stress, muitos colaboradores aperceberam-se que estão a trabalhar mais e durante mais horas para iniciativas, projetos e em tarefas para as quais não foram contratados e para as quais não estão a ser remunerados.
O “quiet quitting” transmite uma sensação de poder pessoal e urgência em relação ao que os trabalhadores estão a sentir, e permite também refletir sobre como recuperar o controlo das suas vidas. Mas é preciso ter em consideração que cumprir os requisitos mínimos do trabalho estipulado em contrato pode causar mal-entendidos entre colaboradores e chefias. Além disso, existem regras não ditas sobre o que é necessário fazer para se ter sucesso e avançar na carreira.
A Forbes deixa dicas para contornar esta tendência silenciosa:
Entenda o que não está a resultar e porquê
Tire um tempo para refletir sobre o que está ou não a funcionar na sua função e carreira. Avalie por que acha que está a fazer mais do que é necessário ou pedido. Descubra há quanto tempo isso acontece e se passou pela mesma situação em empregos anteriores.
Seja objetivo e claro
Antes de parar “silenciosamente” de fazer um trabalho que era considerado seu, partilhe a sua visão com a sua chefia, para poderem estar em sintonia. Apresente os motivos pelos quais tem mais tarefas do que deveria para o salário que recebe, de forma clara, objetiva e assertiva. Assim, a sua situação será bem percecionada e as mudanças na empresa e na equipa terão resultados positivos.
Estabeleça limites mais fortes
Seja claro com a sua chefia e equipa e apresente soluções para o envolvimento e procedimentos relativamente a emails, chamadas e temas urgentes. Se está a trabalhar em demasia e com um ritmo pouco saudável, analise esse comportamento. Se é um comportamento crónico e não apenas relacionado com o seu trabalho, pergunte-se «há quantos anos tenho este problema?». E procure ajuda profissional externa.
Priorize o que importa
Descubra o que é mais importante para si e elabore uma lista. Depois analise bem a forma como gere o seu tempo (ou não). Depois de estabelecidas as prioridades, tenha a coragem de as honrar.
Lidere melhor
Se é líder, está na hora de se ligar verdadeiramente com a sua equipa. Aproveite esta oportunidade para conversar com os colaboradores individualmente e em grupo e ter um diálogo aberto e sincero sobre o que está ou não a resultar. Seja o líder que gostaria de ter e pergunte o que tem de mudar.