A reputação é uma das prioridades dos executivos e conselhos de administração quando iniciam um processo de recrutamento para cargos de direcção? Porquê?
As pessoas são marcas individuais com reputação própria, que podem acrescentar ou retirar valor a uma organização. A esfera de impacto das mesmas pode ser muito grande ou mais reduzida, mas existe sempre.
Esta consciência leva-nos à importância do “employer branding” que coloca os colaboradores como os principais embaixadores da marca e é também neste papel que a sua reputação individual pode ter impacto. As redes sociais e a comunicação 360 fazem com que também se misture a reputação individual com a reputação funcional, ou seja, enquanto profissional de determinada empresa. Por isso, cada vez mais as organizações têm de entrar numa esfera alegadamente pessoal, como seja por exemplo a gestão dos perfis sociais dos seus executivos em redes profissionais como o LinkedIn. Com esta abordagem, no recrutamento de quadros de direcção a reputação é sempre um elemento crítico a ter em conta e que hoje complementa o próprio perfil técnico e comportamental.
Em termos práticos, como é que a Randstad avalia a reputação de um candidato a um cargo de direcção?
A Randstad enquanto empresa especialista em recursos humanos tem um conjunto de ferramentas e soluções para de forma pró activa e reactiva avaliar os candidatos. As nossas técnicas avaliam a reputação não de forma isolada, mas integrada com o perfil do candidato enquanto um todo e ainda tendo em consideração a função e a empresa.
Quais são os principais desafios que as empresas de recrutamento enfrentam hoje em dia na selecção de candidatos para cargos de direcção das empresas clientes?
O desafio que as empresas de recrutamento enfrentam é a capacidade de cruzar a informação que hoje é de fácil acesso mas que também é extensa e muito trabalhada (alvo de marketing e muitas vezes de bom marketing). A Randstad tem-se distinguido no mercado por trabalhar muito tendo por base as referências e essa é uma das técnicas utilizadas. Da mesma forma é preciso avaliar cirurgicamente o percurso, as competências e ainda o potencial de talento de cada candidato, porque queremos verdadeiramente acrescentar valor através das pessoas e por isso temos de ir muito além do currículo. É nesta avaliação que se distinguem os players do mercado, porque para encontrar o melhor candidato é preciso ter um profundo know-how em pessoas.
Há indústrias em que a atenção para o activo reputação é maior do que em outras? Porquê?
Na Randstad enquanto empresa global de Recursos Humanos deparamo-nos com o impacto da reputação negativa de algumas áreas em que actuamos. A génese dessa reputação está ligada a estigmas sociais e também a comportamentos menos claros de alguns players. Mais do que se conformarem com esta reputação negativa, as empresas que reconhecem as valências do negócio devem ser não apenas exímias no seu modo de actuar, como mais do que isso devem contribuir para a melhoria da imagem do sector. Por exemplo em relação ao trabalho temporário e em sede da APESPE, associação das empresas do sector, procuramos comunicar activamente a importância deste modelo de contratação flexível e em paralelo denunciamos práticas abusivas do sector. Da mesma forma, na APCC, associação de empresas de contact centres, temos um papel activo na dignificação da actividade, valorizando não apenas esta actividade, mas também as pessoas que trabalham na mesma.
Como é que se pode proteger a reputação de uma empresa?
A reputação é trabalhada todos os dias através da marca da empresa. Um ser vivo e em constante actividade, que se revela quer através da sua comunicação externa e interna, quer através das suas pessoas, dos seus colaboradores. Um código genético forte, o conhecimento da estratégia e posicionamento da organização pelos seus colaboradores, assim como um conjunto de ferramentas para reportar más práticas são crucias na gestão da reputação. Surveys internos a colaboradores para avaliação da reputação juntamente com avaliações externas à marca são elementos críticos e que não representam um custo, mas sim um investimento na solidez da empresa e no desenvolvimento do negócio.
Que benefícios tangíveis podem ser alcançados através da reputação?
A reputação de uma empresa tem um conjunto de benefícios no reforço da importância da marca e na motivação das pessoas. Consequentemente estes factores ligam-se ao reforço do posicionamento na sua área de actuação, à sua capacidade para atrair e reter talentos e ao seu crescimento. Se quisermos resumir, a reputação contribui para a rentabilidade da empresa, porque a verdadeira reputação é construída sobre factos sólidos e princípios reais e não é uma mera teoria comercial. Assim, as empresas ganham personalidade e um lugar de destaque enquanto parceiras de outras ou como marcas de eleição pelos consumidores
A preocupação com a reputação tem aumentado ao longo dos anos? Qual foi a evolução da Randstad em relação a esta questão?
A nossa reputação sempre fez parte da nossa estratégia através da preocupação que temos em ter uma marca forte, com conceitos sólidos, recorrendo às melhores pessoas e garantindo a excelência na execução. Ao longo dos anos temos adequado a nossa estratégia às mudanças do mercado, como seja a necessidade de flexibilização, as questões demográficas, a desregulação e a procura por uma oferta global por parte dos clientes.
Desde cedo que desenvolvemos as nossas ferramentas internas de avaliação e gestão da reputação. É neste sentido que agora evoluímos para a análise da experiência do candidato e do cliente, identificando os momentos críticos de satisfação e de insatisfação dos mesmos. Queremos que sejam experiências de valor acrescentado que fidelizem quem se relaciona connosco e esta é uma das áreas que estamos a desenvolver e que tem bastante impacto para a reputação.
José Miguel Leonardo
Director Geral da Randstad Portugal
Artigo publicado originalmente na revista Executive Digest.