Para João Cachatra, gerente e diretor-geral da Eugster & Frismag, assegurar «mais e melhor gestão» será um dos grandes desafios das empresas nos próximos anos. Bem como dar resposta à crescente escassez de talento e não perder o “comboio” da globalização e da transformação digital.

 

Quais os principais desafios que perspetiva para este ano, para o setor onde atuam?

O sector terá que lidar com alguma desaceleração previsível no crescimento do mercado das máquinas de café, a nível mundial e, em especial, na Europa. Para além disso, terá que estar atento e antecipar os possíveis impactos das “guerras comerciais” União Europeia-Estados Unidos da América-China.

 

E para a vossa empresa, em particular, quais os principais desafios?



O maior desafio da empresa passa por dar continuidade ao processo de transformação cultural e organizacional, que tem como elemento pivot a introdução das metodologia Lean e Kaizen.

 

Qual o principal foco, atualmente, da estratégia da Eugster para Portugal?



Precisamente dar continuidade ao projeto Lean/ Kaizen e finalizar o atual projeto de ampliação das instalações e da capacidade produtiva, iniciado em 2018. 

 

Como tem evoluído o vosso posicionamento no grupo?



Das cinco que acualmente constituem o Grupo Eugster/ Frismag (E&F), somos a empresa que tem mantido uma trajetória mais estável de crescimento, desde 2011. Temos um papel muito importante na garantia da competitividade de outras empresas do Grupo, nomeadamente as sedeadas na Suíça, através da nossa atividade como fornecedor interno, de componentes e sub-conjuntos, a qual representa, hoje em dia, mais de 15% da nossa faturação anual.

 

Quais diria que foram os principais marcos evolutivos desde que estão em Portugal?



O início da atividade no nosso país fez-se em 1989, com produtos de gama tecnológica baixa, essencialmente máquinas de café de filtro e torradeiras. O primeiro salto tecnológico deu-se em 1996, com a produção de máquinas de café expresso, com doseador. E em 2001 tiveram início as produções de máquinas expresso com cápsulas, para o cliente Nespresso, as quais se prolongaram por cerca de 10 anos.

Mas foi em 2006 que ocorreu o grande “salto em frente”, com a produção de máquinas de café automáticas, que constituem, hoje em dia, e cada vez mais, o centro da atividade da empresa. O desenvolvimento deste tipo de produção obrigou ao maior ciclo de  crescimento da empresa desde 2011, apesar de este não ter sido o único, nos 30 anos de história da E&F Portugal.

 

O que acredita que vos distingue no mercado?



Qualidade, flexibilidade e o posicionamento logístico em relação aos principais mercados.

 

Em termos de negócio, que objetivos se propõem alcançar?



Manter e melhorar os níveis de competitividade e eficiência; e manter e melhorar as condições para o crescimento que for requerido pelos clientes. 

 

E em termos das vossas pessoas, que prioridades assumem? Quais os pilares estratégicos da vossa política de Recursos Humanos?



O respeito integral pela legislação laboral e contratação coletiva; assegurar formação permanente, de qualidade, alinhada com os objetivos da empresa e com forte contributo para o desenvolvimento pessoal; e oferecer de condições de trabalho de elevada qualidade que, em conjunto com o sucesso da empresa, são fator essencial para a satisfação e motivação dos colaboradores.

 

Qual a importância esta área assume no vosso negócio?



Fundamental, a área de Recursos Humanos dá suporte ao crescimento, físico e organizacional, da empresa e garante a satisfação dos clientes e da “casa mãe”, ambos fatores de sustentação da atividade e construção do futuro.

 

Quais os principais desafios na gestão de uma massa humana de cerca de mil colaboradores?



A rápida integração no processo produtivo, com o menor impacto possível nos níveis de qualidade e produtividade; o recrutamento para algumas funções técnicas intermédias; e a criação e manutenção das melhores condições de trabalho e (con)vivência na empresa.

 

É só para as funções técnicas que têm dificuldade em recrutar? Como dão resposta a este “problema”?



Sentimos de recrutamento especialmente em algumas funções técnicas, como por exemplo afinadores de máquinas e técnicos de manutenção de moldes. A solução tem passado por apostar, de forma consolidada, na formação interna desses quadros técnicos e por estarmos atentos, de forma permanente e ativa, às oportunidades de recrutamento, com ou sem apoio de empresas especializadas.

 

São uns dos maiores empregadores do concelho de Torres Vedras. O que diria que vos torna um bom local para trabalhar? 



Apesar da dimensão, a existência, ainda, de uma cultura familiar. Destacaria ainda os bons produtos que temos, os clientes de renome e os processos de trabalho modernos. E, não menos importante, o pagamento atempado das remunerações, sem histórico de falhas nos 30 anos de existência da empresa, e as boas condições de trabalho que asseguramos, em permanente melhoria.

 

Como acha que Portugal pode ser competitivo e atrativo para os melhores talentos?



Através da criação de negócios com cada vez mais valor acrescentado e atualização tecnológica. As condições naturais farão o resto. Igualmente relevantes são o enquadramento fiscal e legal e a eficiência dos respetivos sistemas.

 

E para o investimento de grandes grupos, somos atrativos? O que temos de melhor e de pior?



Sim, com certeza. Entre os aspetos positivos destaco a grande qualidade dos gestores e dos outros trabalhadores em Portugal, as nossas condições naturais e climáticas e a segurança. 

Em relação aos aspetos menos positivos, de referir algum défice de qualidade na gestão pública, demasiado burocrática e, muitas vezes, “fora da realidade”, apesar de se notarem progressos sensíveis nos últimos anos, ainda que não de um modo uniforme e totalmente sustentado.

Alguns aspetos da legislação laboral que, muitas vezes, constrange o processo de seleção dos melhores, também não nos beneficia, embora noutros aspetos me pareça ser bastante equilibrada; e as inconsistências, contradições e instabilidade dos sistemas fiscal e legal.

 

O que perspetiva como sendo os maiores desafios para as empresas num futuro próximo?



As mudanças tecnológicas nos processos, com maior automação/ automatização, e introdução de plataformas digitais e outras tecnologias; a continuação da adaptação aos desenvolvimentos da globalização; a resolução da escassez e dificuldade de contratação de colaboradores, com a qualificação e a experiência necessárias, para muitos tipos de função; e, por fim, assegurar mais e melhor gestão. 

 

Números em destaque 



- 46 000 m2 de área coberta;

- Cerca de 1000 colaboradores, com contratos diretos com a E&F Portugal ou recrutados através de empresa de trabalho temporário;

- 640 mil produtos acabados, produzidos anualmente;

- Faturação anual de cerca de 120 milhões de euros;

- 10 linhas de montagem, com uma capacidade diária total de cerca de 3500 produtos acabados;

- 62 máquinas de injeção de plásticos, entre as 28 e as 900 toneladas de força de fecho (em breve serão 72).

 

João Cachatra, gerente e director-geral da Eugster & Frismag, Electrodomésticos

João Cachatra
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João Cachatra

gerente e director-geral da eugster & frismag, electrodomésticos