É isto que Martim Oliveira, fundador e sócio de várias empresas, acredita que dita o sucesso de um empreendedor: as pessoas, a diferenciação, a vontade, a persistência… mas também a sorte.
Em 2008 Martim Oliveira abriu a sua primeira empresa. Entretanto fundou mais quatro, três das quais mantém. O foco está no digital, «porque o digital é o futuro» e partilha que o principal desafio tem ser resistir à tentação do crescimento descontrolado e saber dizer que não, para não comprometer os resultados dos clientes. Esse, e atrair e reter talento. Aí, o salário emocional tem um peso cada vez maior.
Quando e como descobriu a sua "veia" empreendedora?
Aconteceu um pouco por acaso. Tive a sorte de ir trabalhar para a L’Oréal em 2006, na área de Marketing, e de ter conhecido pessoas inspiradoras que me ensinaram muito e que me ajudaram a perceber que este podia ser o meu caminho
E dois anos foram suficientes para deixar a carreira "corporativa"… O que o fez optar por trabalhar por conta própria?
Não foi nada muito pensado, começou com um desafio familiar de aplicar o conhecimento e experiência adquirida num negócio que fosse meu. Sempre tive a ambição de fazer o meu próprio caminho e, a experiência na L’Oréal fez-me começar a interessar mais pela área de Marketing Digital e a investir em formação.
Desde então, quantas empresas criou e quantas tem agora?
Em 2008 abri a primeira empresa, uma representação em Portugal de uma marca brasileira de Formação, a BIT Company). Mais tarde, a empresa tomou outro rumo transformando-se na actual Learn to Grow, mais dedicada ao público português. A realidade digital era cada vez mais uma certeza e, em 2013, nasceu a Boost Your Digital (BYD), agência de Marketing Digital focada num único objectivo - resultados.
Mas a necessidade de um pensamento estruturado com estratégias integradas e uma oferta mais completa aos clientes, fez nascer, em 2017, a Convert, uma empresa de Marketing Performance. Mais recentemente, criámos a Emotion Films, uma produtora de vídeo, uma vez que este formato é uma componente cada vez mais imprescindível no digital. Entretanto, em 2019, tornei-me sócio da Reorganiza, empresa que actua na intermediação de crédito, que era desde 2017 cliente da Boost Your Digital.
Diria que Portugal é um país de empreendedores? Ou propício a ...
Acho que muitos empreendedores iniciaram este caminho mais por necessidade do que por vocação. Muitas pessoas com talento viram-se em empresas, sem margem de progressão e com estruturas muito hierarquizadas, vendo no empreendedorismo uma solução para conseguirem progredir e ter melhores condições de vida. Os portugueses são tendencialmente trabalhadores, focados na solução, desenrascados, responsáveis e gostam de arriscar… características essenciais para serem empreendedores de sucesso.
Têm surgido muitas startups em Portugal, sobretudo na área tecnológica, mas a verdade é que muitas têm uma existência curta. O que acredita que dita o sucesso de uma startup?
As pessoas, a diferenciação, a vontade, a persistência… mas também a sorte. Às vezes, não basta ter uma boa ideia, o timing tem que ser o correcto, é essencial criar a necessidade e ter as pessoas certas para enfrentar todos os dias como se fossem o primeiro. Costumo dizer que conheço pessoas que conseguem fazer de qualquer ideia um enorme sucesso. Mais do que a ideia, o que verdadeiramente dita o sucesso são as pessoas que a vão implementar.
O seu foco tem sido sempre o digital? Porquê?
Porque o digital é o futuro. As pessoas vivem o imediato, são cada vez mais comodistas, e o digital permite dar tudo aqui e agora, em tempo real. Além disso, o digital permite-nos medir correctamente os resultados da nossa estratégia, perceber o que está a correr bem, o que precisa de ser alterado, o que devemos manter. Para uma empresa focada nos resultados, este é o melhor caminho.
Em particular, têm desenvolvido estratégias digitais de recrutamento. O que está a mudar neste âmbito?
Está a mudar, e muito rápido! Estamos com os níveis de desemprego em mínimos históricos, os jovens têm cada vez mais opções, num mundo global, e o tempo de permanência na empresa é cada vez menor. Temos de utilizar o digital para nos aproximarmos das pessoas, mas também para credibilizarmos a empresa. Tal como na Hotelaria temos o booking ou tripadvisor, onde vamos consultar a qualidade dos hotéis, no recrutamento temos plataformas como o Indeed ou Glassdoor, onde os candidatos vão analisar as empresas. É fundamental ter uma estratégia digital global para atrair talento.
Em que estágio de desenvolvimento acredita que estão as empresas em Portugal nesta matéria?
Em estágios muito diferentes. Há empresas que já perceberam o potencial e que estão em vantagem. Outras, acreditam no potencial, mas na altura da implementação são mais conservadoras e não conseguem arriscar como deviam. Existem ainda aquelas que estão em negação. Isto é uma realidade para todos os sectores e é igualmente interessante perceber que empresas do mesmo sector de atividade estão em estágios completamente diferentes.
As que não estão em negação, como estão a responder a esta realidade, cada vez mais tecnológica?
Diria que, de um modo geral, as empresas querem adaptar-se a esta nova realidade, por isso estão a procurar ajustar o seu serviço às novas necessidades do mercado e exigências do candidato. A tecnologia é uma realidade e não há como fugir. Os candidatos exigem atenção permanente, têm diversas opções e escolhem aquela em quem mais confiam. A rapidez e forma como são contactados é crucial, e muitas empresas começam a utilizar tecnologia para manter este contacto regular com os potenciais trabalhadores.
O que tem sido mais difícil, ou desafiante, no seu percurso de empreendedor?
Conseguir um equilíbrio entre o crescimento de negócio e da estrutura. As nossas empresas têm um ADN 100% digital e, estando o mercado em alta, era muito fácil crescer todos os anos de forma um pouco descontrolada. Apesar de crescermos anualmente numa média de 70%, gosto de pensar que tenho uma gestão conservadora, e que isso faz com que o nosso crescimento tenha sido grande, mas controlado. Estamos muito focados em atrair e reter talento, acredito que essa é chave para continuarmos a fazer crescer o negócio, sem ficarmos com uma estrutura pouco flexível.
Mas a equipa tem crescido… é inevitável. A BYD, em cinco anos, cresceu de duas pessoas para 30. Que desafios isso tem trazido?
O maior desafio é atrair e reter talento. Isso obriga-nos a continuar próximos da equipa, a apostar na sua formação, a oferecer um espaço de trabalho acolhedor e dinâmico e a premiar o esforço e talento, através de novos desafios e responsabilidades. Este ano tivemos pessoas a fazer formação em Londres, colaboradores que foram convidados para sócios e um novo escritório feito à medida de todos e ajustado às necessidades de cada um.
Acredita que é isso que faz que, nestes cinco anos, apenas duas pessoas tenham saída da sua equipa?
Somos muito criteriosos no que toca à escolha da equipa e valorizamos mais as competências comportamentais do que as técnicas. O que significa que escolhemos pessoas que acreditamos que partilham os nossos valores e que têm vontade de aprender e crescer connosco. Acreditamos que somos uma família e fazemos tudo para que cada um se sinta uma peça fundamental do puzzle.
E para atraído talento, resultam os mesmos critérios?
Por um lado, escolhemos pessoas com as quais já trabalhámos, que já conhecemos, e que temos a convicção que se vão integrar e entregar à causa. Por outro, os nossos colaboradores são os nossos melhores embaixadores. Talento atrai talento.
O que acredita que os seus colaboradores mais valorizam?
O espirito familiar e genuíno que se vive na BYD. A responsabilização, valorização e reconhecimento do trabalho de cada um.
O salário está de facto a perder peso na hora dos profissionais escolherem onde trabalhar? O que faz verdadeiramente a diferença? O desafio, o ambiente…?
O salário ainda é muito importante. É fundamental que cada um sinta que o seu salário é justo, mas existem outros factores que estão a ser cada vez mais valorizados. Um bom ambiente de trabalho, sim, ter as condições necessárias para o desempenho das suas funções, formação à medida, potencial de crescimento interno, oferta do dia de anos, flexibilidade de horários, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Todos estes factores fazem parte do que chamamos o salário emocional, e é cada vez mais importante no momento da escolha.
Que políticas de Gestão de Pessoas destacaria, em concreto?
As relacionadas com a valorização do indivíduo e do profissional, isso é fundamental para que cada um se sinta bem e realizado. Por exemplo, investimos na formação dos nossos colaboradores, seja ela interna ou externa, fazemos avaliações semestrais com prémios associados, desenhamos em conjunto um plano de carreira, que normalmente é antecipado porque privilegiamos a promoção interna, e acreditamos na flexibilidade responsável, ou seja, cada colaborador gere o seu dia e o seu trabalho.
Em termos de liderança, o que para si é fundamental?
O líder tem que dar o exemplo, ser coerente e respeitar cada colaborador, para que seja respeitado também. Se a forma de agir não estiver alinhada com os valores definidos, então não vai ter a equipa do seu lado. Acreditamos que existem três princípios base que nunca devemos esquecer e que nos ajudam a ir mais longe: Humildade, para aprender sempre mais; ambição, para querer chegar longe; e consistência, para nos credibilizarmos perante os nossos clientes, fornecedores ou colegas de trabalho.
Qual é, atualmente, o vosso principal desafio?
Saber dizer não. Não queremos crescer mais do que podemos e não queremos comprometer os resultados dos clientes, por isso, muitas vezes, temos que dizer que não ao mercado.
E o que destacaria pela positiva, nomeadamente projetos particularmente aliciantes ou resultados que o surpreenderam?
Temos muitos projetos de que nos orgulhamos de estar envolvidos. Por exemplo, quando começamos a trabalhar a MBway, tinham 5000 utilizadores, neste momento são quase dois milhões. Na Teleperformance desenvolvemos e implementámos estratégias que ajudam a recrutar em mais de 30 diferentes países. Através da Reorganiza ajudamos milhares de portugueses a poupar nos seus créditos e a melhorar a sua qualidade de vida. Podia ficar uma tarde a falar do que nos orgulhamos…
Que objetivos pretende alcançar a curto/ médio prazo?
Queremos continuar a crescer de forma consolidada. E queremos continuar a atingir os objetivos e desafios que os clientes atuais nos colocam, de forma a fortalecer as relações de confiança.
Que tendências perspetiva para a área digital e que impacto isso terá no mundo do trabalho?
O digital vai continuar a crescer e vai ser uma realidade cada vez mais presente no dia-a-dia das empresas e dos colaboradores. No entanto, o digital deve ser encarado como um complemento e não um substituto. O digital nunca vai substituir o fator humano. O recrutamento é um excelente exemplo, podemos fazer campanhas para angariar candidatos, trabalhar as diferentes plataformas digitais para credibilizar a marca, mas vamos sempre continuar a precisar de pessoas para entrevistar os candidatos.