O CEO da Randstad Portugal diz que a subida do salário mínimo e a descida do salário médio pode criar uma "situação perigosa".
“O stock de capacidades do mercado nacional é melhor hoje do que alguma vez foi.” Esta é a visão que o CEO da Randstad Portugal tem do mercado laboral português. José Miguel Leonardo acredita que a qualidade dos recém-licenciados tem vindo a melhorar ao longo dos anos, mas lamenta a falta de condições para que o tecido empresarial nacional consiga atingir o seu verdadeiro potencial.
O gestor dá desde logo o exemplo da remuneração, salientando que “ao mesmo tempo que o salário mínimo aumenta, o salário médio tem vindo a decrescer”, uma realidade que descreve como “perigosa”, uma vez que “torna desinteressantes algumas posições de ofertas de trabalho” em Portugal, mantendo viável a opção da emigração
“Temos empresários que investem 30 milhões numa nova fábrica em Viseu e que têm sérias dificuldades em contratar pessoas. É um contrassenso quando continuamos a ter uma taxa de desemprego que continua a ser elevada”, exemplifica o responsável, referindo-se ao caso da ASM Industries.
Numa análise às mais recentes manifestações da função pública, José Miguel Leonardo lembra que, “no setor privado, encontramos declínios de rendimentos ainda mais acentuados”, razão pela qual chama o governo à atenção para a necessidade de tomar medidas.
E os “incentivos” de que fala podiam já vir acautelados no Orçamento do Estado para 2018. “Não me refiro a subsídios. Os incentivos são facilitar o investimento e as relações com o Estado, ter um Estado que seja cumpridor, que se obrigue e obrigue a que haja um cumprimento escrupuloso das regras do jogo económico pagando a tempo e horas, fazendo que também as empresas cumpram as obrigações, um Estado que tutelasse e não permitisse a concorrência desleal”, enumera.
O executivo não é, contudo, o único alvo de críticas do presidente executivo da Randstad, que chama também a atenção para as faculdades, que apesar de prepararem trabalhadores cada vez mais qualificados mantêm velhos hábitos.
“Ao mesmo tempo que eu posso dizer que, hoje, as condições e a qualidade do ensino estão a melhorar significativamente, continuo a ter algumas dúvidas de que estejamos a acomodar aquilo que vão ser as necessidades futuras ao nível do ensino”, lamenta, referindo-se ao distanciamento que ainda existe entre o mundo académico e o empresarial.
Na ótica de José Miguel Leonardo, deveria haver mais “cooperação” entre as universidades e as empresas, de modo a transmitir aos alunos “uma maior noção da realidade”.
Uma vez que o critério “experiência” se mantém imperial nas fases de recrutamento dos parceiros com quem a Randstad trabalha, o gestor sugere às instituições de ensino superior que promovam “parte da aprendizagem on the job”, dando como exemplo os estágios que, “após o curso, podem ter alguma significância”, mas que esta “pode ser muito maior se o estágio decorrer durante a aprendizagem, criando uma maior maturidade do próprio estudante ao pô-lo em contacto com a vida real”.
in Dinheiro Vivo