A Huawei ICT Academy vem colocar ao serviço das universidades nacionais as melhores práticas, a inovação e o know-how da tecnológica chinesa. É aposta formação das próximas gerações e um contributo para responder às necessidades de um mercado cada vez mais exigente, competitivo e global. A nível global, pretende contribuir para o desenvolvimento de dois milhões de profissionais de TIC nos próximos cinco anos. Diogo Madeira da Silva, Head of Public Affairs & Communications da Huawei, explica como.
Entrevista a Diogo Madeira da Silva, Head of Public Affairs & Communications
A iniciativa ICT Academy é um programa global da Huawei, através do qual se estabelecem acordos de parceria com instituições de ensino, com vista ao enriquecimento dos conteúdos formativos, seja mediante a incorporação de novos conteúdos nos planos curriculares ou da disponibilização de novos cursos ou acções de formação, seja da certificação de docentes e formadores. A iniciativa pretende assim potenciar a transferência de conhecimento do mundo corporativo para as academias, aproximando-as da realidade do mercado de trabalho, nomeadamente na indústria Tecnológica.
A primeira versão do programa foi criada em 2013 e a iniciativa tem vindo a estender-se um pouco por todo o mundo. Chega agora a Portugal.
Sendo um projecto global, já com sete anos, que resultados já conseguem perceber, nos países onde a iniciativa está implementada há mais tempo?
As ICT Academy têm hoje alcance global e estão presentes em regiões como o Sudeste Asiático, Médio Oriente, África, Europa, América Latina e Pacífico, cobrindo 72 países, com mais de 900 academias, cerca de 1200 professores certificados e abrangendo mais de 45 mil estudantes por ano.
Por exemplo, na Universidade de Reading [Inglaterra], criou-se um centro de formação e investigação para executivos em áreas relacionadas às TIC [tecnologias de Informação e Comunicação], que já atraiu mais de 150 estudantes para cursos com a certificação Huawei Certified ICT Associate.
O que motivou esta aposta, agora, em Portugal e que objectivos pretendem alcançar?
Quando ocupamos estas funções, inseridos numa estrutura global, temos que olhar para dentro e perceber o que podemos trazer para o nosso mercado, de forma a responder às necessidades e ambições de desenvolvimento do nosso país. E é também nesse contexto, numa altura em que Portugal discute o tema das competências digitais, que a implementação deste programa é pertinente.
As universidades portuguesas têm feito um óptimo trabalho nas áreas de Engenharia e TIC, e a Huawei tem um histórico de proximidade a estas instituições, desenvolvido ao longo dos mais de 15 anos de actividade no país. Agora, colocamos ao serviço das universidades nacionais um programa mais estruturado e evoluído, que bebe muito das melhores práticas, da inovação e do know-how da Huawei a nível global.
Qual está a ser a receptividade das universidades portuguesas? Que parcerias já estabeleceram?
A receptividade tem sido excelente. Estamos já em contactos com várias instituições e contamos apresentar em breve as primeiras parcerias. O trabalho feito pela Huawei Portugal ao longo dos anos com as universidades permite acelerar esta iniciativa, já que este programa é também uma evolução de programas anteriores, como as HAINA Academy (Huawei Authorized Information & Network Academy), caracterizadas por cursos e certificações, em particular nas vertentes de networking – routing & switiching –, em que entidades como a Universidade de Évora, a Universidade do Algarve e a Universidade de Trás os Montes e Alto Douro foram pioneiras em Portugal.
Que tipo de conhecimento, recursos e ferramentas a Huawei disponibiliza? E como?
Com o programa ICT Academy, queremos disponibilizar uma solução alargada de formação e transferência de conhecimento em áreas determinantes para as exigências do futuro. Apoiamos as universidades ao nível de conteúdos, formação e certificação adicional, para os professores e alunos, bem como do acesso a algumas das mais recentes inovações tecnológicas no campo das TIC.
Numa fase inicial, começámos por apresentar o programa, as suas diferentes variáveis, e depois discutimos em conjunto qual a melhor forma de o aplicar à instituição em particular. Apesar de ser uma iniciativa muito recente, estamos muito satisfeitos por ver o entusiasmo por parte dos professores e das instituições em relação ao programa.
Em que áreas, em concreto, no universo da tecnologia, disponibilizam este tipo de conteúdos?
Estamos a falar, entre outros, de conteúdos focados nas tecnologias emergentes, como Inteligência Artificial, big data, cloud computing, Internet das Coisas ou redes de quinta geração. É importante que as empresas se mantenham ligadas à academia, para que os programas se possam alinhar no sentido das mais recentes inovações tecnológicas.
Para que desafios do futuro acreditam que o desenvolvimento destas competências é essencial?
Ao longo das próximas décadas, o desenvolvimento tecnológico vai permitir que vivamos num mundo mais inteligente, onde grande parte do que está à nossa volta estará sensorizado e ligado. Mas até lá chegarmos, a indústria das TIC vai precisar de talento de alta qualidade, com ideias inovadoras e competências digitais. Este talento será a força motriz do futuro da indústria e aqueles que tiverem as competências interdisciplinares adequadas serão bastante procurados.
Esta é uma indústria de conhecimento intensivo, algo que está a ser exacerbado à medida que a velocidade aumenta. O desenvolvimento destas competências é fundamental para gerar o talento de que o mundo necessita. E não estamos só a falar da indústria das TIC, mas de todos os sectores, à medida de a incorporação de tecnologia vai aumentando em todas as áreas.
Esta é uma forma de ter mão-de-obra mais bem preparada para os desafios reais das empresas ou de tornar os cursos mais atractivos, para que haja mais recursos nas áreas das TIC?
É uma aposta inequívoca na formação das próximas gerações e um contributo para responder às necessidades de um mercado cada vez mais exigente, competitivo e global. O mercado de trabalho terá sempre capacidade de absorver profissionais e talentos com elevadas competências digitais alinhadas com o desenvolvimento tecnológico. E acreditamos que, quanto mais alinhados os programas de formação estiverem com as tendências de I&D [Investigação & Desenvolvimento], mais estimulantes e atractivos serão.
Vivemos um contexto extraordinário, em que muito mudou – e ainda vai mudar – nas empresas. Será que a escassez de talento ainda é/ vai continuar a ser, um dos principais desafios das organizações?
Acredito que sim. Até porque a tecnologia é instrumental e serão sempre as pessoas a fazer a diferença. Algumas estimativas apontam para uma escassez de talento na área das TIC na casa dos 7 milhões de profissionais nos próximos 10 anos. O próprio ritmo do desenvolvimento e da inovação tecnológica também dependerá da existência de talento.
Vou dar o exemplo da Huawei, reconhecidamente uma das empresas mais inovadoras do mundo. Perto de 50% dos colaboradores a nível global estão alocados a áreas de R&D [Research and development]. É a área a que mais profissionais estão alocados em termos globais. Estamos a falar de quase 100 mil pessoas que, diariamente, trabalham para criar os produtos que definirão o futuro da empresa e das indústrias.
Que investimento tem sido feito neste projecto e que retorno/resultados esperam obter?
Através deste programa, a Huawei pretende contribuir para o desenvolvimento de dois milhões de profissionais de TIC nos próximos cinco anos, bem como para a generalização das competências digitais, em conjunto com as universidades.
Este programa insere-se na iniciativa de inclusão digital da Huawei, denominada TECT4ALL, que pretende expandir os benefícios da tecnologia a todas as pessoas, em todos os locais.
Em termos de investimento, a Huawei já anunciou a criação do Huawei ICT Academy Development Incentive Fund (ADIF), dotado de pelo menos 50 milhões de dólares para os próximos cinco anos.
Ao estarem a fazer esse investimento "na base" – ao invés, por exemplo, de criar uma academia própria – faz com que corram o risco de estarem a contribuir para a formação de talentos para a concorrência. Acha que a resposta ao problema da escassez de talento passa por uma "aliança" entre as empresas, concorrentes ou não, para que haja mais talentos, para todos?
Não podemos implementar programas de formação como este, direccionado para os profissionais de amanhã, a pensar apenas em nós ou no benefício imediato para a empresa. O desenvolvimento das competências digitais é benéfico para o País e para a economia como um todo, bem como para todos os sectores e indústrias.
A Huawei não tem por hábito desenvolver estes programas a pensar no seu benefício imediato. Um exemplo: todos os anos, no âmbito da iniciativa “Seeds for the Future”, temos levado uma dezena de estudantes para um programa de duas semanas, através do qual têm oportunidade de saber mais sobre a empresa e aprender com os nossos profissionais e investigadores em Shenzhen. A participação neste programa nunca implicou qualquer obrigação ou vínculo posterior à empresa, o que não invalida que não seja um contributo para a identificação de talento.
Faz também parte da responsabilidade social das empresas contribuir para o desenvolvimento do talento das regiões onde se inserem. Além disso, as empresas são as principais interessadas em ter uma base de recrutamento alargada e qualificada. Depois, cada um usará os seus argumentos para atrair e reter os talentos de que necessita.
Mas, só para esclarecer, a nível interno essa academia também existe. A formação dos nossos profissionais é uma prioridade e todos os colaboradores têm à sua disposição um leque alargado e robusto de recursos formativos. Não será por acaso que temos inúmeros profissionais que estão connosco há vários anos, alguns praticamente desde o início da empresa em Portugal, numa indústria que é conhecida por ter níveis de rotatividade acima das outras.
Qual a importância que este projecto assume para a estratégia da Huawei em Portugal?
Não sendo um projecto comercial, esta iniciativa é importante para continuar a aprofundar a integração com o ecossistema universitário e com o sistema Técnico e Científico. Este é um caminho com mais de 15 anos e acreditamos que estamos a prestar um bom contributo para as ambições de desenvolvimento do país.
Por onde passa a estratégia do negócio actualmente?
Aquilo que fazemos está muito alinhado com as prioridades do País em termos de transição digital e descarbonização. Temos credenciais fortes, entregamos inovação e tecnologia de ponta, e estamos focados em contribuir para levar a digitalização a todas as pessoas, lares e organizações do nosso País. Continuamos apostados em entregar tecnologia inovadora e segura, em todas as nossas áreas de negócio.
Quais diria que são, hoje, os vossos principais desafios? A pandemia veio trazer alguma alteração nas vossas prioridades de actuação, por exemplo?
Uma das vantagens de sermos uma empresa privada, propriedade dos seus colaboradores, é que não trabalhamos para o curto-prazo. A prioridade da Huawei passa sempre por ajudar os clientes a serem bem-sucedidos e isso não muda com a pandemia. Mantemo-nos fiéis aos princípios de customer centricity, dedicação, perseverança e reflexão.
Cada empresa tem os seus valores, mas acredito que os nossos são especialmente importantes neste contexto, porque dão-nos boas ferramentas para lidar com o que está a acontecer. Seja junto dos operadores, a quem todos devemos uma palavra de reconhecimento pelo seu papel fundamental ao longo destes tempos, que tem permitido que o país continue a funcionar; com todas as entidades, públicas e privadas, que se vêem confrontadas com novos desafios no âmbito dos seus processos de digitalização; ou em todas as outras áreas de actividade.
Se dúvidas existissem, a obrigatoriedade de confinamento que exigiu que a maioria das empresas continuasse a sua actividade remotamente, provou que, em muitos casos, se pode trabalhar a partir de qualquer lugar, mantendo a produtividade. Acha que a pandemia veio reforçar ou fragilizar a atractividade de Portugal enquanto destino para trabalhar?
As mais-valias de Portugal não se perderam. A transição para o digital já se tinha iniciado, foi apenas acelerada fruto da pandemia, pelo que estamos certos de que sairemos desta crise mais fortes e capacitados.
Mas esta pandemia sublinha a necessidade de continuarmos a desenvolver infraestruturas tecnológicas sólidas, robustas e alinhadas com os novos ciclos de inovação. São estas as novas auto-estradas do desenvolvimento, e Portugal só se conseguirá manter atractivo e competitivo se estiver devidamente infraestruturado a esse nível.
Estando a Huawei presente em várias geografias e continentes, diria que Portugal é um país atractivo para trabalhar?
Sou supeito porque sou português e adoro o meu país. As mais-valias são evidentes e reconhecidas por todos, mas a atractividade de Portugal dependerá muito da sua integração no mundo digital.
Somos um país pequeno e não podemos ser periféricos a esse nível. Temos que criar condições para gerar inovação dentro de portas e conseguir levá-la a todos os cantos do mundo. Mas, para isso, temos que ter acesso às melhores infraestruturas tecnológicas.
Acreditamos que o projecto que anunciámos recentemente com a Universidade de Aveiro e o Instituto de Telecomunicações pode ser um contributo importante para isso, ao dotar o País de uma plataforma tecnológica inovadora no campo da Inteligência Artificial e das redes de quinta geração.
Quais os pontos fortes da "marca Portugal" enquanto empregador?
Sem empresas saudáveis e com capacidade de investimento não há emprego, pelo que acredito que a força de Portugal enquanto empregador depende da capacidade de desenvolver, atrair e reter projectos e empresas saudáveis – nacionais e internacionais –, que tenham condições para oferecer desafios profissionais interessantes e estimulantes.
A qualidade de vida e a segurança são pontos a favor, mas isso, por si, pode não chegar para reter profissionais de excelência. O talento vai atrás das oportunidades, estejam elas onde estiverem.
Estou satisfeito por trabalhar numa empresa que tem mostrado continuamente a capacidade e interesse em contribuir para fortalecer Portugal a esse nível. Não tenho dúvidas de que grande parte dos meus colegas arranjava emprego com facilidade noutro país.
E o que identifica de menos positivo?
Há sempre hipótese de melhorar, mas creio que ao longo das últimas décadas temos feito um percurso muito positivo na modernização do País. Hoje, as universidades portuguesas atraem estudantes de diversos pontos do mundo. O ecossistema de empreendedorismo e inovação tem uma dinâmica muito interessante, e grandes empresas como a Huawei, entre outras, olharam para Portugal como um país onde seria interessante desenvolver a sua actividade, investindo de raiz na criação de uma empresa e na contração de profissionais qualificados.
Como é que a Huawei ICT Academy se integra na vossa estratégia de Recursos Humanos/ Employer Branding.
A ICT Academy é um programa global e considerámos que este era o momento certo para implementar o programa em Portugal, quando discutimos o tema da capacitação e transição digital.
A nossa abordagem ao recrutamento está muito focada em competências específicas. Se contribuirmos para a capacitação dos estudantes universitários e para a aproximação dos programas à realidade das empresas e da inovação tecnológica, estaremos também a fortalecer as nossas próprias probabilidades de encontrar profissionais com os perfis de talento que procuramos.
O que acredita ser fundamental, hoje em dia, para as empresas conseguirem, não só atrair, mas também reter os melhores talentos?
Essa é uma equação complexa, que inclui variáveis como a capacidade de oferecer desafios estimulantes e constantes, oportunidades de crescimento profissional, a existência de um propósito e uma matriz de valores na qual as pessoas se revejam e, claro, reconhecimento efectivo a vários níveis.
As novas gerações de talento querem sentir que o que fazem importa, e isso tem obrigado as empresas a rever a forma como comunicam com estes segmentos. É preciso saber explicar por que é que aquilo que fazemos tem valor, para além da questão do retorno financeiro. As marcas têm aqui um papel importante, porque encerram em si os atributos em que as pessoas se revêem ou não. Se perguntarem aos jovens de hoje quais são as empresas onde querem trabalhar, eles conseguem facilmente apontar nomes. Mas se perguntarem o que querem fazer, as respostas já não são tão claras.
Adicionalmente, os colaboradores são os primeiros embaixadores da marca. Quando me perguntam o que faço e eu respondo “trabalho na Huawei”, estou a dizer que trabalho num sítio onde a customer centricity, a dedicação, perseverança e reflexão, são elementos basilares do que fazemos. Estou também a dizer que trabalho numa das empresas mais inovadoras do mundo e que tenho acesso a outras realidades, outras culturas e a um mundo que vai para além dos limites geográficos do local onde estou.
As histórias que temos para contar da nossa experiência profissional são bastante mais eficazes que qualquer campanha de Employer Branding. Por isso, é determinante apostar e investir no capital humano, no seu bem-estar e na formação contínua. Só assim é possível reter os melhores profissionais e atrair talentos qualificados