Chego ao escritório de manhã. Ligo o computador e começo a responder a emails. Olho para o relógio e percebo que estou atrasado para a reunião de equipa. Regresso ao computador e continuo a responder a emails. Tenho entretanto uma reunião de projecto, mas como não fiz o trabalho de preparação, deixo o grupo falar e mantenho-me passivo às questões levantadas, esperando que nenhuma seja dirigida a mim. Tenho entretanto a caixa de entrada a rebentar com questões e casos por resolver, mas vou deixando acumular, respondo quando puder. Chego ao final do dia, com a ilusória sensação de dever cumprido; afinal de contas, até consegui dar resposta a alguns temas. Mas consegui deixar a minha marca em cada tarefa terminada?
Somos seres rotineiros, executamos as tarefas em modo automático, com hábitos enraizados que nem sequer sabemos qual a origem. Realizamos aquilo que nos é pedido, acreditando que não temos margem para poder escolher de que forma queremos criar maior e melhor impacto nos outros. Mas queremos fazê-lo? Muitas vezes não. Isso implica sair da mera execução da tarefa, e pensar de que forma podemos influenciar o próximo. Quando algo não está a correr como antecipámos, é mais fácil culpar todas as variáveis envolventes do que reflectir sobre de que modo poderei eu, directamente, contribuir para o seu sucesso. Este não é o caminho mais fácil mas é, sem qualquer dúvida, aquele que me valoriza mais e que pode contaminar positivamente aqueles que me rodeiam. Comportamento gera comportamento. Por conseguinte, querer deixar a nossa impressão digital puxa pelo melhor dos outros, incentiva a determinação, o desejo de fazer bem e melhor. E, no final de contas, não é esse o desejo de todas as organizações? Terem consigo as melhores pessoas?
No mundo real, onde a transformação está na ordem do dia e o amanhã rapidamente se transforma num passado distante, inócuo, o poder do eu assume um papel diferenciador nas organizações. Falamos em hr analytics, data-driven information, inteligência artificial, business intelligence e, depois de tudo isso, o indivíduo continua lá, não de braços cruzados, esperando que venham novos ventos de bonança, mas com as mãos no leme, pois ele é, na essência, o capitão deste navio. Mas como fazer a diferença num mundo em que as máquinas já nos afastam de muitos processos?
Devemos reflectir sobre qual a marca que queremos deixar em tudo o que fazemos, em cada colega com que contactamos e colaboramos, em cada projecto onde estamos envolvidos. Aí, seremos não só bons executantes mas também profissionais impactantes. Cumprimos a tarefa ou o projecto e somos reconhecidos pela qualidade do trabalho e pela forma como o desenvolvemos. Porém, onde está o maior valor: na entrega do trabalho ou no apoio que proactivamente prestámos ao nosso colega?
Paralelamente a estas alterações, assistimos também a mudanças na forma como os recursos humanos se encontram organizados: o achatamento da pirâmide hierárquica, o desvanecimento do report formal como o conhecemos, passando assim a estar organizado consoante o projecto em que estamos inseridos, a crescente procura de colaboração em regime freelancer, permitindo uma maior flexibilização e liberdade laborais, todos eles temas que colocam o indivíduo no centro da equação. Deixámos de trabalhar em gabinetes, isolados, e passámos para o formato open space o que já é, por si só, uma oportunidade para criarmos sinergias sem a problemática da barreira física a servir de desculpa para tal. Esta é a oportunidade que cada um de nós tem para mostrar o seu adn, o seu valor, nos diferentes níveis da organização.
Todos os dias devemos ter em consideração que somos uma poderosa rede, e que o nosso trabalho estabelece pontos de contacto com várias pessoas. Se falamos tanto em employer branding, então não nos esqueçamos do personal branding. Se o primeiro dita, actualmente, o sucesso de uma organização, então o segundo é também, em simultâneo, determinante para o sucesso do indivíduo no mercado de trabalho.
Importa por isso saber: O que nos distingue? O que nos marca enquanto profissionais? Queremos ter uma marca que nos demarca ou que nos desmarca e nos torna mais um número na organização?
Claramente, são mais as perguntas do que as respostas, mas temos o dever de entregar o melhor de nós em tudo aquilo que fazemos. No final do dia, quero acredito que o indivíduo é ainda o mais importante e que é essa a marca que nos (de)marca!
Maria João Lourenço, Business Operations | Professionals, Outplacement, Human Consulting, RPO, Assessment& Development na Randstad Portugal