Actualmente, um de cada três produtos da Saint-Gobain Weber não existiam há cinco anos. Actuando no sector da construção, e não sendo novidade que alguns empregos vão desaparecer e novos trabalhos serão criados, como empregador a empresa defende a formação dos colaboradores, para que estejam capacitados para acompanhar esta evolução e se mantenham actualizados nos seus conhecimentos e competências.
Entrevista a José Martos, CEO da Saint Gobain Portugal
A Saint-Gobain projecta, fabrica e distribui materiais e soluções para os mercados da construção, mobilidade, saúde e outras aplicações industriais. São materiais e soluções que podem ser encontradas em todos os lugares onde vivemos e no dia-a-dia, e visam proporcionar bem-estar, protecção e segurança, dando resposta aos desafios da construção sustentável. José Martos, CEO da Saint Gobain Portugal, acredita que o percurso de sucesso se alicerça na cultura de inovação – que tem permitido criar novas formas de trabalhar, de comunicar, de nos sentirmos próximos, mesmo com a distância a que fomos obrigados, não esquecendo a aceleração dos processos digitais –, mas sobretudo nas pessoas.
Estão em Portugal desde 1962 - quase há seis décadas - a trabalhar no sector da construção. Como têm consigo manter a história e tradição, ao mesmo tempo que asseguraram a modernização necessária para continuarem relevantes?
A Saint-Gobain é uma empresa que foi criada na França em 1655 por Jean-Baptist Colbert, ministro do Rei Luís XIV, e desde então evoluiu para se tornar um dos maiores grupos industriais do mundo, o que efectivamente nos dá uma cultura empresarial única.
No entanto, a liderança das equipas em Portugal, a proximidade com o cliente e a capacidade de inovar para satisfazer as necessidades do mercado, fizeram com que a Saint-Gobain evoluísse a par com o mercado, assegurando um reconhecimento destacado em todos os segmentos de mercado onde actua.
Quais têm sido os desafios mais recentes, esquecendo os que resultaram da pandemia?
No nosso sector da construção, existem, na minha opinião, três desafios fundamentais, que aumentaram ou se aceleraram com a pandemia:
- Digitalização, tanto para aumentar a eficiência dos nossos processos operacionais, como também no relacionamento com os clientes e na criação de novos modelos de negócios baseados em tecnologias digitais.
- Sustentabilidade. Na União Europeia os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia, por 36% das emissões de CO2 e por um terço do consumo dos recursos naturais. Com um impacto ambiental a este nível, o sector da edificação tem que, de forma responsável e pró-activa, implementar soluções que ajudem a preservar o nosso planeta e a melhorar a nossa forma de vida.
- Produtividade. Existe uma grande falta de mão-de-obra especializada no sector da construção em Portugal. Acredito que isso irá acelerar o uso da pré-fabricação e construção industrializada para satisfazer a procura de habitação no país.
Que prioridades definiram para dar resposta a esses desafios?
Para dar resposta a estes desafios, estamos a trabalhar no investimento em várias áreas prioritárias:
- “Customer Journey”, onde temos vários projectos em curso para digitalizar o mais possível as interacções com os nossos clientes, desde a avaliação dos nossos produtos e soluções, encomendas até à formação.
- “Plano de Sustentabilidade”: Em Setembro de 2019, a Saint-Gobain anunciou o seu compromisso de alcançar zero emissões líquidas de carbono até 2050, um objectivo alinhado com a tarefa de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Este compromisso requer um ambicioso plano de acção que influenciará a forma como fazemos negócios, as matérias-primas que utilizamos, os nossos processos produtivos, a forma como reutilizamos materiais para minimizar o desperdício. Ou seja, de uma forma geral, todas e cada uma das nossas acções visam contribuir positivamente para o futuro do nosso planeta.
- Excelência operacional e Industria 4.0, para garantir a máxima produtividade e eficácia dos nossos processos de fabrico de forma a, por um lado, optimizar o nosso desempenho industrial e, por outro, maximizar a satisfação dos clientes.
Qual a importância que as vossas pessoas têm assumido nesse caminho?
Toda a importância! As nossas pessoas são a chave para o desempenho fantástico que a nossa empresa está a ter. Todos temos a responsabilidade de preparar e implementar as acções que nos levem a alcançar os nossos objectivos. Estou tremendamente orgulhoso das nossas equipas e é uma honra para mim podermos trabalhar juntos.
A inovação é importante não só no negócio, mas também na gestão de Pessoas. Como a têm promovido?
A inovação é para a Saint-Gobain um pilar bastante importante a todos os níveis e a Gestão de Pessoas, pela importância que tem também no Grupo, não fica excluída deste pilar.
Perante um momento tão desafiante como o que passamos, em que quase tudo e todos fomos postos à prova, tem sido incrível o esforço, a solidariedade e flexibilidade das nossas equipas na adaptação à mudança. Todos os desafios que temos encontrado foram resolvidos com uma agilidade fantástica. E este, é sem dúvida, o resultado da nossa cultura de inovação, permitindo-nos rapidamente criar novas formas de trabalhar, de comunicar, de nos sentirmos próximos, mesmo com a distância a que fomos obrigados, não esquecendo a aceleração dos nossos processos digitais e a promoção de acções que ajudassem as nossas equipas a permanecerem protegidas e sãs, física e mentalmente.
Considera que o vosso sector - e empresa em particular - é atractivo para trabalhar? Proporciona conteúdo de trabalho interessante?
O sector de construção tem sido um dos mais resilientes durante a pandemia. Acho que oferece oportunidades de crescimento de carreira para profissionais do sector e, portanto, é atraente.
O nosso desafio está, na minha opinião, na mudança geracional. Acredito que temos um grande desafio em atrair as gerações mais jovens, que se sentem mais ligadas a negócios mais digitais e que, em geral, não apresentam grandes motivações para ingressar no nosso sector.
Estamos a trabalhar muito para que a Saint-Gobain Portugal seja muito mais atraente, tanto para nossos actuais colaboradores, quanto para as gerações mais jovens. Nesse sentido, estamos a implementar neste momento dois projectos principais.
Quais são?
O nosso propósito “Making the World a Better Home”, que surgiu de um processo colaborativo onde participaram mais de 15 mil colaboradores a nível mundial e onde definimos qual a nossa contribuição como empresa para o mundo, e o que podemos aportar para tornar a sociedade melhor. Entender esse propósito e sentir-se identificado com ele traz sentido ao nosso trabalho diário e pessoalmente acredito que é uma motivação fundamental.
Por outro lado, através das nossas formas de trabalho “Confiança, Empowerment, Colaboração”, a Saint-Gobain Portugal pretende estar mais próximo dos seus clientes e ser mais responsivo, o que requer simplicidade e agilidade. Para ter um processo de tomada de decisão mais curto e rápido, isso implica que os gestores estão comprometidos em dotar as suas equipas de maior autonomia e responsabilidade pelos resultados. Este caminho para a autonomia e responsabilidade requer uma profunda renovação dos nossos métodos de gestão, adoção de novas formas de trabalho, com base na confiança, empowerment e colaboração. Estes três são os pilares da nossa cultura de trabalho.
Actuando no sector da construção, tipicamente com tarefas mais rotineiras, continua a haver espaço para a criatividade e inovação ou a rotina bloqueia a inovação?
A Saint-Gobain foi nomeada pelo nono ano consecutivo Derwent Top 100 Global Innovator ™ 2020 pela Clarivate Analytics, que determinou o ranking global das empresas e instituições mais inovadoras. É um reconhecimento da quantidade, da qualidade e do impacto das nossas patentes, o que aclama a prioridade da Saint-Gobain em inovação e I&D há vários anos.
Mais concretamente, a Saint-Gobain Portugal tem apostado fortemente na inovação como pilar fundamental da sua liderança no mercado português. Como exemplo, o laboratório em Aveiro da Saint-Gobain Weber Portugal é o centro de competências global para argamassas industriais de colagem de cerâmica, o que faz com que sejam os nossos engenheiros portugueses a liderar os projectos mais avançados nesta área e, consequentemente, nos permite ter e lançar sistematicamente produtos inovadores no mercado português.
Actualmente, um de cada três produtos da Saint-Gobain Weber não existiam há cinco anos, o que representa o alto nível de inovação.
Por outro lado, há rotinas fundamentais, por questões de segurança, por exemplo, e também para assegurar a produtividade. Como vê esta dicotomia? Acredita que todas as tarefas rotineiras estão condenadas a ser substituídas por máquinas?
Pessoalmente, acredito que vamos avançar para um processo imperativo de digitalização e automação de muitas tarefas.
É claro que diferentes sectores se movem em velocidades diferentes em termos da adopção da digitalização, mas realmente a implementação tanto de Internet of Things (IoT), inteligência artificial (IA) ou Blockchain permitirão um grande aumento da produtividade num futuro próximo.
Isso não é novidade, faz parte da evolução humana, e como tem acontecido ao longo da história, alguns empregos vão desaparecer e novos trabalhos serão criados. O que considero importante como empregador é a formação dos nossos colaboradores, para que estejam capacitados para acompanhar esta evolução e se mantenham actualizados nos seus conhecimentos e competências.
Como se motivam as pessoas neste contexto, onde temas como a flexibilidade, por exemplo, não são tão exequíveis?
Acho importante entender que dentro de uma equipa, cada indivíduo contribui com uma função diferente. É importante comunicar e explicar a importância da contribuição de cada um para o sucesso da organização e, obviamente, essa contribuição deve ser valorizada e reconhecida.
Pelo sexto ano consecutivo, receberam certificação como Top Employer. Em que indicadores mais evoluíram e quais ainda estão aquém dos vossos objectivos?
O Grupo Saint-Gobain foi sim distinguido como Top Employer Global pelo sexto ano consecutivo. Para se ser “Top Employer Global”, as empresas devem obter a certificação em, pelo menos, 20 países de vários continentes nos quais operam. No nosso Grupo foi conseguida esta certificação em 36 dos seus países, um a mais do que no ano passado, e em cinco regiões, renovando a certificação como "Top Employer Middle East", "Top Employer Europe", "Top Employer North America", "Top Employer Asia-Pacific" e "Top Employer Latin America”.
Já no que diz respeito à certificação local, para cada país, o estudo é baseado num levantamento que abrange mais de 400 práticas em termos de condições de trabalho, que são auditadas, validadas e agrupadas em 6 categorias. Este reconhecimento em Portugal aplica-se à sociedade Saint-Gobain Portugal, presente hoje no mercado português com as marcas Weber, Placo® e ISOVER®.
A Saint-Gobain destaca-se nesta certificação em particular pelo bom desempenho em termos de ética e integridade, liderança, política de Responsabilidade Social Corporativa (RSC), com uma melhoria significativa em relação ao ano passado, e por último, a maior importância dada ao compromisso dos colaboradores: medir o compromisso, o envolvimento dos colaboradores e desenvolver planos de cação. Nesse sentido, os resultados evidenciam a gestão do desempenho profissional da Saint-Gobain através da sua actuação na área de feedback e reconhecimento dos colaboradores.
O Grupo distingue-se também pela política de recrutamento de talentos, pela atenção que dispensa à implicação dos seus colaboradores durante o processo e pela utilização de soluções inovadoras como a gamificação ou programática.
Neste momento, e a nível local, um dos nossos maiores focos passa pela digitalização dos nossos processos RH de uma forma mais intensa, não só para dar resposta à estratégia do Grupo, mas também pelas necessidades que enfrentamos há cerca de um ano com a situação pandémica que vivemos. O outro tema a reforçar será a robustez da marca Saint-Gobain em Portugal como Employer Brand.
O que vos distingue em termos de processos e políticas de Recursos Humanos?
Os processos e políticas de RH não mudarão muito de empresa para empresa, quando nos comparamos com os outros parceiros Top Employer. O que provavelmente nos distinguirá mais é a cultura da nossa empresa, e também o pacote de benefícios sociais e de bem-estar extensível a todos os nossos colaboradores, que consideramos muito atractivo e valorizado, quer interna quer externamente.
O facto de realmente colocarmos como pilar da nossa gestão as pessoas poderá fazer toda a diferença. Tudo fazemos para que desde a selecção até à saída, todos sejam incluídos de forma equitativa, respeitados e valorizados cada um com o seu papel, contribuindo diariamente para o mesmo objectivo: o sucesso da nossa empresa aliado à motivação das nossas pessoas.
No que diz respeito a políticas e processos de RH temo-nos distinguido pela atracção, seleção e desenvolvimento de talento, o bom desempenho no que diz respeito à ética, integridade, liderança e RSC, assim como os esforços desenvolvidos na criação de canais de feedback e reconhecimento dos colaboradores.
O que diria que é mais valorizado pelos colaboradores?
Na Saint-Gobain realizamos um inquérito anual, nomeado me@saint-gobain, onde todos os nossos colaboradores podem dizer-nos, de forma anónima, o que mais valorizam da nossa empresa e da nossa gestão, assim como os aspectos que acham que deveríamos melhorar.
No ano 2020 o mais valorizado pelos colaboradores na Saint-Gobain Portugal foi: a segurança e a saúde como uma prioridade; formação para desempenhar as tarefas; o conhecimento do desempenho de vendas e financeiro da empresa; a Qualidade dos produtos e serviços fornecidos pela empresa; o orgulho de trabalhar na Saint-Gobain.
Enquanto CEO, qual a importância que a Gestão de Pessoas assume para si?
De acordo com a minha experiência, quanto maior é o perímetro de responsabilidade dentro de uma empresa, mais crítico é ser um bom gestor de pessoas. Consequentemente, dedico uma parte muito importante do meu tempo na gestão das nossas equipas.
É absolutamente imprescindível ter as pessoas certas em cada posto da organização, garantir que elas tenham à sua disposição todas as ferramentas e o ambiente para que possam dar o melhor de si, se sintam realizadas e contribuam o máximo possível para a realização dos objectivos da empresa.
O que assume como prioritário na gestão dos seus mais de 800 colaboradores?
Considero que há três linhas de atuação fundamentais para um CEO:
- A cultura da empresa, que passa por proporcionar um ambiente de trabalho seguro, não só do ponto de vista da protecção física, como na prevenção de acidentes, mas também do ponto de vista da confiança, empowerment e colaboração, através dos quais os colaboradores se sintam valorizados e tenham as ferramentas para aportar o máximo desempenho.
- Comunicação da visão e desenho da estratégia da empresa.
- Gestão de pessoas, assegurando que temos as pessoas certas em toda a nossa organização para uma implementação com êxito da nossa estratégia e realização dos nossos objectivos.
Que objectivos delineou para 2021 e quais os principais desafios que perspetiva?
Temos a ambição de continuar a crescer em Portugal, tanto nos nossos mercados mais tradicionais, como em novos segmentos de mercado onde possamos desenvolver novos modelos de negócio.
Este objectivo de crescimento deve ser alcançado pela digitalização da experiencia do cliente, a excelência operacional e a sustentabilidade, de forma a que todas as nossas acções contribuam para o nosso propósito último “Making the World a Better Home”.
O principal desafio está claramente centrado na evolução da pandemia, dado o imenso custo humano e económico que está a ter. Consequentemente, a falta de confiança dos investidores no mercado da construção está a começar a notar-se em alguns sectores relacionados com o Turismo e o Retalho principalmente. Espero do fundo do coração que encontremos rapidamente a solução para uma retoma normal das actividades.