No Grupo Selina, contratam-se pessoas mesmo sem experiência, sendo a prioridade que se identifiquem com o conceito dos seus hotéis e que tenham a energia certa. Porque uma equipa motivada traz novas ideias e acrescenta valor.
O Grupo Selina abriu o seu primeiro hotel em Portugal o ano passado, sendo o único país europeu onde estão presente. E o investimento no nosso País já ultrapassou os 70 milhões de euros. A directora de Recursos Humanos explica o porquê deste investimento e principais desafios, nomeadamente ao nível da Gestão de Pessoas, visto que pretendem abrir mais 20 hotéis nos próximos quatro anos.
O que justifica o investimento que o Grupo Selina tem feito em Portugal?
Portugal é um país fantástico que está cada vez mais nas bocas do mundo. Os indicadores do turismo têm estado a crescer nos últimos anos, por isso quando decidimos expandir para a Europa, Portugal foi logo o primeiro país a ser escolhido. De qualquer forma, e a partir de 2019, estaremos presentes no Reino Unido, Grécia e Áustria, e estamos com projectos em desenvolvimento na Alemanha, Polónia, Espanha e Israel.
Quais os principais desafios com que se depararam?
O maior desafio é sobretudo as próprias estruturas conseguirem acompanhar a rapidez de abertura de um Selina em Portugal. Somos uma empresa com um forte dinamismo, temos no ADN uma forte componente de "make things happen" e muitas vezes os players da indústria não conseguem acompanhar.
Actualmente, quais são os principais desafios, do Grupo Selina, em particular, e do sector, em geral?
Do sector, o maior desafio é, sobretudo, ser capaz de ser visto e notado num mercado tão competitivo. E ser capaz de mostrar ao mercado a value proposal que temos para entregar.
Do Grupo Selina, o maior desafio é, sendo esta uma empresa global, muito focada ainda no mercado do LATAM [América Latina], ainda há um trabalho a fazer para se adaptar às exigências do mercado europeu.
Num sector tão competitivo, o que acredita que vos distingue?
Desde logo o facto de trazemos, pela primeira vez, um produto que combina viajar com trabalhar, ao termos nos nossos espaços hoteleiros zonas de cowork, com as quais fazemos pacotes de hospitalidade e vendemos para fora.
Segundo, porque somos a única unidade hoteleira que tem uma programação diária artística e musical em todas as unidades. E, terceiro, porque trazemos para cada unidade o melhor de cada local onde ficamos - para o Grupo só faz sentido uma unidade existir se os locais, e o melhor do que os locais têm, for trazido para cada unidade. Mais do que uma hotelaria fechada em si própria, o Selina é uma hotelaria de todos para todos, onde só faz sentido existir com a co-existência entre locais e viajantes globais.
Que balanço faz da vossa presença em Portugal?
O balanço tem sido bastante positivo. Lisboa e Porto estão com ocupações médias de 85%, e Ericeira e Vila Nova vão acabar o primeiro mês com 75%. A marca tem crescido bastante no digital e atingindo targets bastante diferentes.
Que prioridades e objectivos assumem, a nível do negócio?
A maior prioridade é ser capaz de ter impacto nas comunidades onde nos situamos, e criar valor artístico e musical para todas os locais onde estamos. Em termos de objectivos, o maior de todos é, em três anos, tornarmo-nos o alojamento oficial do universo artístico, cultural, musical e de desporto em Portugal.
O crescimento do negócio traz desafios ao nível da Gestão de Pessoas. De que forma esta área se integra na vossa estratégia, com vista a alcançar os objectivos que referiu?
O crescimento exponencial de negócio traz-nos vários desafios a nível da Gestão de Pessoas. Diria que o maior desafio para acompanhar o crescimento do negócio passa pela identificação do talento certo. Um dos KPI’s [key performance indicators] com mais peso em Recursos Humanos no Selina é o “Right Staffing”, isto porque encontrar a equipa certa traz vantagens a vários níveis, não só o lado financeiro – a equipa é mais produtiva, está alinhada com os valores da empresa e reduz-se o turnover – mas também o lado criativo e dinâmico em que a equipa motivada traz ideias novas e acrescenta valor. Numa empresa que acaba de entrar num mercado extremamente competitivo torna-se fundamental para nos destacarmos.
Outro desafio é garantir que, com a velocidade a que estamos a crescer, garantimos um processo de integração e formação estruturado. Temos uma equipa a nível global focada apenas neste processo, pois acreditamos, e vários estudos suportam, a teoria de que uma pessoa que receba a formação certa e o apoio necessário nas suas primeiras semanas irá ser muito mais produtiva e reduz bastante o risco de turnover. Sempre que entra um colaborador, o seu chefe directo recebe um alerta pela nossa plataforma interna com todos os passos para preparar o novo membro da sua equipa. Este deve preparar a sessão – com estrutura do departamento/ empresa, definir objectivos, atribuir um mentor, completar os cursos online de onboarding incluindo as politicas da empresa –, apresenta-lo à equipa e garantir que este completa o e-learning preparado para cada função.
Para finalizar, a retenção de talento. Os dois pontos acima jogam muito a nosso favor mas não são suficientes. A estratégia aqui passa por uma análise mensal de questionários de satisfação, pela nossa política de bónus e benefícios e pelas oportunidades de crescimento na carreira.
Nos próximos quatro anos planeiam abrir mais 20 hotéis. E, tendo actualmente cerca de 90 colaboradores, perspetivam chegar aos 200 em dois anos. Num contexto de “guerra” pelo talento, que, com o crescimento do turismo em Portugal, se tem feito sentir bastante no sector em que actuam, que estratégia de recrutamento têm?
A nossa grande vantagem é que nos diferenciamos bastante desse sector em Portugal. O Selina veio inovar a realidade hoteleira no mundo, não somos nem um hotel, nem um hostel somos um lifestyle hotel que procurar partilhar experiencias não só com os seus clientes mas também com os seus colaboradores, que contrata pessoas mesmo sem experiencia que se identificam com o conceito e tenham a energia certa, que integra e apoia a comunidade.
Numa pré abertura, temos uma abordagem de recrutamento, acredito, que diferente da maioria da concorrência. Criámos um programa chamado Selina’s Got Talent, que consiste em dois dias inteiros: no primeiro fazemos uma selecção com entrevistas – chamamos a equipa de outros hotéis Selina para ajudarem nesta seleção pois eles melhor que ninguém sabem exatamente os valores que devem identificar–; o segundo com dinâmicas de grupo, role model.
O feedback tem sido excelente e chegamos mesmo a ter pessoas que fazem amigos nestes dois dias e muitos que não são seleccionados tornam-se clientes assíduos por se identificarem com a cultura e disserem ser uma “experiência única”.
Em paralelo apostamos em programas de responsabilidade social. Passa por uma formação de dois meses para pessoas menos favorecidas, como refugiados, dando-lhes oportunidade de serem certificados e ficarem a trabalhar no Selina ou facilitar a procura de emprego de forma geral.
Trabalhamos também muito com estagiários de todas as áreas pois acreditamos que, tendo uma experiência positiva, serão nossos embaixadores em faculdades e acaba por ser uma excelente politica de atração.
Qual o perfil de colaboradores que procuram? Que características privilegiam?
A Selina abre as suas portas a todos aqueles que queiram e possam enriquecer a nossa comunidade. Estamos empenhados em promover um ambiente em que todos possam participar e sentir-se bem recebidos e respeitados. Dito isto, procuramos pessoas dinâmicas com vontade de aprender. Para o Selina, o valor está na vontade das pessoas e não no curso que tiraram. Se a pessoa tiver vontade, e se identificar com os valores da empresa, o Selina tem os recursos suficientes para investir na sua formação. Temos muitos casos de sucesso a nível global de colaboradores sem experiência que hoje em dia estão a gerir uma propriedade.
Recrutam só em Portugal ou também no estrangeiro?
No Selina promovemos a diversidade cultural e damos as boas-vindas ao entusiasmo e aprendizagem que um estrangeiro pode trazer às nossas operações locais. Queremos poder dar a oportunidade a todas as pessoas que se identificam com o projecto e queiram fazer parte dele. Permitir a todos a integração numa nova realidade, serem nómadas pelo mundo, quer a trabalhar, quer a viajar e viverem um pouco o nosso espírito e cultura.
O Selina já está presente na maioria dos países da américa latina, nos Estados Unidos e na Europa, por isso, cada vez mais, temos uma grande abertura para os nossos colaboradores de outros países que queiram conhecer novos horizontes. Facilitamos as transferências entre países e propriedades, respeitando sempre todos os requisitos relativos a autorizações de trabalho e imigração antes de proceder à contratação de serviços ou colaboradores fora do seu país de origem.
Acredita que Portugal é um país atractivo para trabalhar? Quais os seus principais factores de atratividade?
Penso que Portugal, nos últimos cinco anos, se tem tornado cada vez mais atractivo, com uma qualidade de vida acima da média e crescente conectividade com o mundo. No entanto, para algumas áreas, os salários precisam de ser alinhados com o crescimento económico do país e devem ser balançados com uma forte política de benefícios.
Diria que o sector da Hotelaria, é atrativo para os jovens?
O sector da Hotelaria é dinâmico, divertido e permite um horário flexível, o que acaba naturalmente por atrair os jovens.
E o Grupo Selina, o que o torna um bom local para trabalhar?
O Grupo Selina, mais que uma hotelaria fechada em si própria, é uma hotelaria de todos para todos, onde só faz sentido existir com a co-existência entre locais e viajantes globais. Sendo que, cada vez mais, são os jovens que querem viajar e ter experiências enriquecedoras, no Selina acabam por poder conciliar o trabalho/carreira com a oportunidade para viajar e conhecer um novo pais.
Temos pessoas de todo o mundo a trabalhar connosco com todo o tipo de backgrounds, seja hotelaria, engenharia, arquitectura, gestão ou dança, que se identificam com a nossa filosofia nómada e decidem ficar a trabalhar para terem oportunidade de explorar o mundo enquanto desenvolvem uma carreira.
A nossa grande vantagem, para além de um programa de benefícios muito completo e atractivo, é estarmos já presentes em 16 países, o que significa que podermos dar a oportunidade aos nossos colaboradores de trabalharem em vários países.
Quais os pilares estratégicos da vossa política de Recursos Humanos?
Diria que são quatro: (1) clareza nos KPIs – dada a forte política de integração e formação pelo impacto que tem na produtividade e turnover; (2) motivação do colaboradores – garantir que é dado feedback reciproco, especialmente numa fase inicial, para orientar o colaborador e percebermos se os objectivos ficaram bem definidos; (3) desenvolvimento pessoal e profissional – inspiramos e capacitamos os nossos colaboradores para que tomem as rédeas da sua carreira, pois é através do seu desenvolvimento que a Selina continua a crescer, e passados nove meses, quem tiver resultados proveitosos, podem candidatar-se a tornar-se “donos” das suas propriedades; (4) trabalho em equipa – o Selina funciona com o mindset de família, e de trabalho em equipa, devendo todos trabalhar para a melhor experiencia do cliente mas também dos seus colegas.