Vincent Poulingue acredita que o Turismo de Luxo ainda tem grande margem para crescimento no Porto. E não esconde que um dos princípios desafios que enfrenta passa pelo recrutamento de profissionais especializados, pela formação e pelos salários. 



Desde 2017 que dirige os hotéis InterContinental Porto e Crowne Plaza Porto. Já conhecia a realidade portuguesa? O que mais o atraiu neste desafio?

Na verdade, vim a Portugal apenas uma vez, antes de 2014, numa viagem de incentivo. Desde então, a cidade passou por um período de transformação muito grande, num curto espaço de tempo. Foi um desafio muito interessante juntar-me a uma equipa que já se posicionava de forma pioneira no mercado, apostando no desenvolvimento de diferentes competências num mercado em constante mudança.

Tendo experiência noutras geografias, como compara a realidade do turismo em Portugal com a Europa, em termos de desafios e oportunidades?

É um facto que Portugal e, em especial o Porto, estão já posicionados como destinos de referência a visitar. O país ainda tem muito por descobrir: a riqueza cultural, gastronómica, artística, arquitectónica e a natureza protegida. É também por estes motivos que o Porto tem sido procurado, por se manter fiel a si mesmo e pela hospitalidade. 

Um dos grandes desafios que Portugal enfrenta é sustentar o desenvolvimento que tem tido, mantendo o que o faz tão especial, evitando que se torne um destino de massas. Para sustentar este crescimento também é necessário rever questões como a logística e os acessos. 

Outros desafios passarão pelo recrutamento de profissionais especializados, pela formação e pelos salários. 

Atuando mais especificamente no Turismo de Luxo, como vê este segmento em Portugal, mais concretamente no Porto?

O Turismo de Luxo é um segmento que começa agora a ganhar expressão no País em geral e, especialmente, no Porto. Graças às condições económicas propícias do momento, a procura deste mercado tem vindo a aumentar. O crescimento de unidades de cinco estrelas é a prova do trabalho que tem vindo a ser feito para posicionar o Porto como marca Luxury, com um nível de serviços adequado. 

Quais os principais desafios hoje em dia, no segmento de Luxo e no Turismo em geral, em Portugal?

O segmento de Luxo tem uma pequena representação no país, em geral. E a pequena representação que possui é na cidade de Lisboa. Isto acontece porque Lisboa é a capital, é uma cidade maior e as marcas ainda se sentem relutantes em investir noutras cidades. O potencial do Porto ainda está por descobrir: precisamos de elevar os padrões de qualidade do serviço e que o destino aposte em restaurantes, bares e entretenimento de luxo. 

Por vezes diz-se que, sobretudo Lisboa, mas também o Porto, estão saturados de turistas e de hotéis. Como vê este tema? Ainda há margem para crescimento?

Acredito firmemente que o Porto ainda não atingiu o seu ponto de saturação. A cidade tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos, noutras formas de alojamento: guest houses, hostels, airbnb…. Agora é o momento de desenvolver a legislação necessária, para que esse mercado amadureça. 

Por outro lado, o segmento de mercado de quatro/ cinco estrelas vê ainda é uma grande oportunidade de crescimento.

Quando assumiu funções no Porto, que objetivos de negócio estabeleceu?

Os objectivos de negócio foram muito claros: desenvolver os segmentos de MICE (Meeting, Incentives, Conferencing, Exhibitions) e de Luxo. De forma a darmos resposta às necessidades destes segmentos, é necessário continuar a apostar na qualidade do serviço.

O que identifica como os vossos principais desafios atualmente?

Os Recursos Humanos são, neste momento, um dos grandes desafios que temos entre mãos. Em primeiro lugar, porque é necessário encontrar pessoas qualificadas e com as competências ideais para estes segmentos acima mencionados. Em segundo lugar, porque vivemos numa época em que a concorrência é cada vez maior. É nesse sentido que o alinhamento dos salários começa a ser um ponto fulcral, porque esta área é exigente e é preciso saber como motivar a nova geração de profissionais, para que não haja escassez de mão-de-obra. 

Que prioridades de atuação definiram para dar resposta a esses desafios?

Uma das nossas principais prioridades é o investimento nas pessoas. Por esse motivo, desenhamos um plano individualizado de desenvolvimento para as nossas equipas, com formações, para fortalecer determinadas competências, para que os profissionais tenham oportunidade de crescer também a nível técnico. 

Adicionalmente, temos parcerias com escolas e universidades, planos de mobilidade dentro do grupo InterContinental Hotels Group (IHG), que é internacional. Juntamente com estas estratégias, a melhoria dos salários e das condições de trabalho são um ponto que temos em conta constantemente.

É um tema transversal a todos os sectores, mas o que diria que dificulta a atração e retenção de talento no sector em que actuam?

O sector do Turismo é exigente... Neste momento, a dificuldade que sentimos está relacionada com o facto de as posições intermédias poderem dar apoio aos recém-formados. Atrair novos talentos é sempre um desafio e ainda se torna mais complexo num ambiente competitivo. Compete às empresas conseguir dar resposta às expectativas dos jovens talentos. Uma enorme vantagem que temos é que em Portugal existe uma verdadeira cultura de hospitalidade. 

Mas sem dúvida que a maior preocupação neste momento é a capacidade de encontrar pessoas com o perfil adequado a trabalhar no setor do Turismo.  

Diria que o sector do Turismo é atrativo para trabalhar? Porquê?

Vejo o Turismo como uma escada: dá a hipótese de começar e, degrau a degrau; possibilita a subida até onde as capacidades do profissional o permitirem. Com centenas de oportunidades, esta área oferece mobilidade departamental, que possibilita a experiência em várias áreas de actuação diferentes. Apesar da exigência, trabalhar neste sector é gratificante, pois acredito que aqui todos podem encontrar o seu lugar, sem nunca deixar de sonhar.

Com quantas pessoas contam atualmente e quais as principais “preocupações” na sua gestão?

Atualmente, temos mais de 250 pessoas empregadas diretamente pelos hotéis. Além destas, contamos com o apoio de empresas de recrutamento para a contratação de outros profissionais, por exemplo para spa, manutenção, segurança, limpeza, etc, que são essenciais para mantermos a qualidade dos nossos serviços. 

Quais os pilares da vossa política de Recursos Humanos?

Os nossos pilares de Recursos Humanos estão bem assentes: começamos com processos de recrutamento rigorosos, em busca dos perfis adequados às funções. Seguidamente, apostamos na formação, que, por sua vez, permite a estes profissionais crescerem dentro da organização. Por fim, mas não menos importante, é uma prioridade o tratamento justo, igualitário e não-discriminatório na organização. 

Um dos lemas do grupo IHG é “work better together”, e todos os dias trabalhamos arduamente para termos boas relações de trabalho. Pensamos em todas as acções e no alcance que elas terão e, sobretudo, fomentamos o espírito de equipa e o mútuo apoio.

E quais são as práticas mais valorizadas pelos colaboradores?

Uma das práticas mais valorizadas pelos colaboradores, em qualquer parte do mundo, é o reconhecimento. É através do reconhecimento do trabalho das equipas, de benefícios justos como forma de agradecimento e do envolvimento em projectos, que conseguimos manter os nossos profissionais motivados. Além disso, damos às pessoas espaço para crescer e terem expressão dentro da empresa. 

O que mais valoriza em termos de liderança?

Compromisso, confiança, paixão, capacidade de motivar e visão. 

O que mais o motiva, no que faz?

Sempre gostei de viajar, de descobrir novas culturas e desafiar-me diariamente. Tive oportunidade de viajar e trabalhar em diferentes continentes, começando na área das Finanças, passando pelas Operações, pela Estratégia Comercial e ainda pelos Recursos Humanos. Esta é uma área tão emocionante que nunca se torna uma rotina.

Que tendências perspetiva para o Turismo, nomeadamente no segmento de luxo?

Vivemos numa época de grande preocupação ambiental e de consciencialização para a implementação de práticas mais sustentáveis. É nesse sentido que o Grupo IHG se está a posicionar, com o compromisso de nos tornarmos mais responsáveis a nível ambiental, mantendo a qualidade dos nossos produtos/serviços. Além do que já referi, o crescimento do Turismo de Luxo vai continuar e a personalização dos serviços de acordo com o destino em questão, será a chave para uma experiência de verdadeira hospitalidade.  



 

entrevista a
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Vincent Poulingue

director-geral dos hotéis crowne plaza porto e intercontinental porto – palácio das cardosas