Este mês estivemos à conversa com João Costa, Human Resources Manager da Trèves Portugal.
Nesta entrevista, partilhou que sempre soube que queria trabalhar em algo que o permitisse estar conectado com outras pessoas. Contou-nos como apoia o desenvolvimento e progressão dos colaboradores, quais as tendências que perspetiva para o setor e como as novas tecnologias têm impactado as práticas de Recursos Humanos.
Entrevista a João Costa, Human Resources Manager da Trèves Portugal
O que queria ser quando fosse grande?
Desde de muito cedo que sentia que queria estar ligado a pessoas, sem ter necessariamente algo concebido. Hoje a mesma pergunta tem outro peso para mim, e numa perspetiva mais realista substituo a palavra "ser" pelo fazer, e aí penso o que posso fazer para me transformar e transformar os outros... No final o que quero fazer para deixar um legado, ainda que simples, valores bons e ser o mais humano possível.
E o que o motivou a entrar na área de recursos humanos?
O gosto pelas pessoas acima de tudo, desde cedo como atleta de futebol ligado à equipa da freguesia, na escola secundária e faculdade como membro da AE; e neste caminho ter conhecido pessoas que me fizeram despertar a paixão (ainda que por vezes dura) que tenho pela área.
Desde que começou a trabalhar até aos dias de hoje, o que acha que mudou mais? E como DRH, como promove a aprendizagem contínua e a adaptação a estas mudanças dentro da empresa?
Bem, são mais de 20 anos de histórias... mas se pensar de forma rápida, diria 3 coisas: tecnologia, ambiente que nos rodeia e a gestão.
Poderíamos desenvolver quase sem fim cada uma delas, e o desafio que nos implica enquanto pessoas e empresas, deixo no ar, se para melhor ou pior, e qual o caminho que estamos a levar ou seguir..um bom tópico (controverso) para refletirmos.
O que tentamos promover enquanto equipa antes de qualquer coisa são atitudes assentes na proatividade, adaptabilidade e relacionamento interpessoal, sair do discurso e pôr em prática, ser capaz de se adaptar de acordo com as necessidades, situações e circunstâncias, e por fim procurar o melhor de cada um. O desafio inicial é sempre tentar encontrar boas pessoas, com boa índole, que transmitam leveza, energia positiva e que nos encham com sorrisos, as soft skills e, de acordo com a nossa realidade, são o que mais procuramos.
Ao dia de hoje, temos um know how próprio e muito específico, ferramentas internas (direcionadas pelo grupo e de forma transversal) para nos ajudar nos diagnósticos (DF's, matriz de competências, levantamento de Nec. de formação, plano de formação, matriz motivacional, inquéritos ao clima organizacional, people review, etc), como na tomada de decisão (definição e desdobramento de objetivos claros para todos, alinhados com os do grupo e sua avaliação periódica, KPIs específicos para cada departamento...). No final a aprendizagem é contínua, constante, por parte de todos, e uns com os outros. Reconhecer isto, termos essa humildade (e a indústria automóvel assim o exige) é determinante.
A instabilidade, o desafio constante e a imprevisibilidade obrigam-nos a encontrar soluções e a desenvolvermos uma capacidade adaptativa única nesta indústria.
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oiça aquiQue tendências e desafios espera para o futuro do setor?
O desafio atual é geral, não só para o nosso setor (automóvel). O lucro, a liquidez, a produtividade, a competitividade, aliada a escassez de mão de obra qualificada (comprometida), nunca estiveram tão sublinhadas como estão, o que faz que todos na cadeia de decisão fiquem com uma pressão nunca vista e acrescida. Sermos capazes de acompanhar a evolução tecnológica do mundo, do mercado, da concorrência; encontrar novas formas de fazer coisas, alternativas ao comum e sair fora da caixa, com todo o bloqueio burocrático existente, mantendo a valorização do nosso valor maior e ainda fator diferencial, as nossas pessoas, os nossos colaboradores pela qualidade do seu trabalho e empenho, são hoje e amanhã os maiores desafios que temos.
Manter a perenidade e sustentabilidade é o desafio.
Quais são as competências e skills que acha que devem ser mais valorizadas nos dias de hoje?
Penso que cada empresa se deverá conhecer bem, a sua cultura, os meios que tem e onde quer chegar e definir que competências encontrar ou trabalhar para formar o seu ADN.
Quanto às chamadas technical skills, o mercado de trabalho e de ensino em Portugal apresentam excelentes profissionais cheios de potencial, (tenham as empresas a nível nacional capacidade para os atrair). Quanto às soft skills a história é outra. A capacidade para sofrer, ser resiliente de forma constante, procurar soluções em vez de se focar no problema, e aliar isso com o ser bom colega, capacidade de entreajuda sendo entusiasta e leal, é bem mais difícil. Num caminho que não é curto, cabe a cada organização encontrar o seu equilíbrio (ou pelo menos tentar).
Segundo a última edição do nosso estudo Randstad Employer Brand Research, a progressão de carreira é dos fatores mais valorizados pelos profissionais, na escolha de um empregador. Como é que a Trèves apoia o desenvolvimento profissional dos seus colaboradores? Têm alguns programas internos para promover esse desenvolvimento?
A Trèves Portugal é uma empresa da Indústria automóvel com 140 pessoas, inserida num grupo multinacional. Gostaríamos de possibilitar cada vez mais a progressão de carreira dos nossos colaboradores, mas a verdade é que nem sempre é possível. Contudo levamos a cabo um trabalho que é assente nas ferramentas transversalizadas pelo grupo, que ao dia de hoje dispomos e aplicamos. Começamos pela EDA, no fundo é uma entrevista anual de avaliação de desempenho, entre a chefia e o seu colaborador, onde são acompanhados e avaliados objetivos e competências, e definidas áreas de melhoria, como expectativas futuras de carreira. Esta ferramenta está diretamente ligada ao People Review que a determinado nível permite identificar de forma rápida as pessoas chave da empresa, e trabalhar num plano de ações a médio prazo, para o desenvolvimento da sua carreira.
Temos na Trèves Portugal vários exemplos bem sucedidos, colegas que começaram com funções de 2ª linha e hoje têm lugares de Management seja em interno, como no Grupo.
Como é que as novas tecnologias têm impactado as práticas de gestão de recursos humanos na Trèves?
A cada dia que passa impacta. Tudo está em constante mudança e evolução, desde a IA, até à digitalização básica. Nos últimos anos estamos a trabalhar para sermos cada vez mais rápidos e fiáveis na apresentação da informação, na redução de tempos, como da otimização e rentabilização dos recursos, sempre adaptados à nossa realidade. Como exemplos, implementámos o AGV no terreno, as ZAPs e GAPS têm toda a informação digitalizada; todos os nossos inquéritos, clima organizacional, avaliações de desempenho, são realizados por tablet e o seu tratamento é automático; a gestão das equipas é feita através de software de RH.. Tudo isto implicou da nossa parte muito tempo, dedicação, paciência, porque nada era feito assim. Primeiro tivemos de acreditar no que estávamos a fazer e transmitir com entusiasmo o objetivo, trabalhar o medo das pessoas em mexer em novas ferramentas informáticas e dar-lhes a informação necessária para que se sentissem seguras, e acreditassem que iam ser capazes. Inicialmente foi um trabalho de fundo, lado a lado, mas que agora compensa e muito.
Qual o melhor conselho profissional que já recebeu?
Aproveitando as palavras de um amigo e mentor, Hay Que Ser FELICES, NO PERFECTOS...
E que conselho daria a alguém que quer trabalhar neste setor?
Conselho, gostava mais que fosse uma partilha de algo apreendido e em constante evolução:
1º Aprender com os erros e evoluir
2º Ouvir e observar
3º Acreditar em si e encarar o desconforto como uma oportunidade
4º Desenvolver a capacidade de resiliência e de adaptação
5º Ter a noção das suas lacunas e superar-se a cada dia.
O caminho não foi, não é e não será fácil mas o ser humano é algo incrível com uma capacidade de adaptação única. Eu acreditava, ainda acredito e acreditarei que será sempre o elemento diferenciador nas organizações.
Por fim, não queria deixar de agradecer à Randstad pela oportunidade da partilha, como à minha equipa e a todas as pessoas da Trèves Portugal, por me ajudarem a cada dia a ser melhor.