Este mês conversámos com Sofia Fonseca, diretora de Recursos Humanos da Procalçado. Poderia ter enveredado por uma carreira culinária e ser sommelier de chocolate, mas o seu percurso foi outro e hoje em dia equilibra diariamente os recursos humanos e a psicologia clínica. Nesta entrevista ficamos a descobrir quais as estratégias de retenção em que mais aposta e as tendências e os desafios que prevê para o setor do calçado.
Entrevista a Sofia Fonseca, Diretora de Recursos Humanos da Procalçado
O que destacaria em cada fase do seu percurso profissional? Quais as principais aprendizagens?
A primeira aprendizagem foi perceber que a carreira é um conceito profundamente dinâmico e que essa plasticidade é boa. Quando concluí o Mestrado em Psicologia, aos 22 anos, ambicionava dar consultas a tempo inteiro. Sonho concretizado. A verdade é que, ao final de algum tempo, sentia não ser só por ali. Depois de uma experiência numa consultora de gestão, percebi que era o trabalho em equipa e o ambiente corporativo que estavam em falta, o que me levou de novo à faculdade, desta feita para estudar Economia e Gestão de Recursos Humanos. Foi importante compreender que somos plurais nas ambições profissionais e que, muitas vezes, pode ser um 'e' em vez de um 'ou'. Mais recentemente, aprendi que, às vezes, o entusiasmo com o projeto profissional traz a reboque um estado fusional com ele mesmo, que não nos protege emocionalmente. Estarmos profundamente investidos não implica estarmos profunda e emocionalmente envolvidos. Ter consciência disso foi essencial para, intencionalmente, procurar, cada vez mais, um equilíbrio entre a dimensão profissional e a vida pessoal.
Imagina-se a fazer outra coisa profissionalmente? O quê?
Não só imagino como faço. Continuo a fazer consulta até aos dias de hoje e é na simbiose das duas áreas - Recursos Humanos e Psicologia Clínica -, que me vou realizando profissionalmente. Sommelier de chocolate também me caberia bem!
Quais são os principais desafios que a Procalçado enfrenta atualmente?
O maior é mesmo a crise que o setor do calçado e seus componentes vem enfrentando este ano. Tem havido um abrandamento dos mercados que se traduziu num decréscimo de encomendas, vendas e faturação. Fomos obrigados a fazer um ajustamento na nossa estrutura. Estas mudanças acabam, muitas vezes, por torná-la mais ágil e traduzem-se, também, em oportunidades de reestruturação funcional, reorientando pessoas para áreas mais críticas do negócio, o que lhes possibilita o desenvolvimento de novas competências.
Que tendências perspetiva para o futuro do setor?
É difícil fazer previsões. Há uma volatilidade tão grande dos mercados internacionais que é- nos complicado antecipar o que irá acontecer. Não obstante, estamos otimistas, não parámos os investimentos estratégicos e perseveramos na inovação, estando a explorar, por exemplo, a utilização de novas matérias-primas e tecnologias de produção.
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oiça aquiQuais são as estratégias da Procalçado para atrair e reter talento?
Oferecer uma proposta de valor holística e uma experiência de colaborador autêntica. A par de um salário competitivo, dado adquirido nos dias que correm, e de benefícios como o seguro de saúde, o bolo de aniversário, o cabaz de Natal, o desconto de colaborador nas nossas marcas, procuramos proporcionar uma experiência genuína, intensa e dinâmica. Apesar da idade. madura, somos uma empresa de espírito jovem e irreverente, onde as pessoas, tratadas como tal, contam e fazem verdadeira diferença. Não abrimos mão da ética e dos valores e levamos a sério o contrato psicológico. Estabelecemos uma relação transparente com o candidato e, depois, futuro colaborador, fazendo uma gestão de expectativas honesta. É minha preocupação que sejam superadas, nunca defraudadas.
Segundo o Randstad Employer Brand Research, cerca de 4 em 5 profissionais esperam do seu empregador apoio e benefícios relacionados com o bem-estar, equilíbrio e saúde mental. A Procalçado tem adotado estratégias neste sentido? Se sim, quais?
São preocupações nossas, naturalmente. Minhas, em particulpar, sendo eu psicóloga clínica também. Com a pandemia, adotámos um Regime de Trabalho Flexível que não mais perdemos. Nas funções em que tal é possível, possibilitamos o trabalho remoto e damos muita liberdade e autonomia às equipas na gestão do mesmo, não tendo estipulado dias de presença obrigatória. Ainda assim, ancorados nas recomendações técnico-científicas, sugerimos como boa prática um modelo híbrido com três dias de trabalho presencial, por acreditarmos que terá um papel protetor dos efeitos de um regime exclusivo de teletrabalho, para a empresa e, sobretudo, para os colaboradores. Acreditamos ser o formato ideal para usufruir dos benefícios de cada um dos regimes e, consequentemente, aumentar a produtividade organizacional e a satisfação e o bem-estar das nossas pessoas.
Além da Medicina no Trabalho, temos instituído um serviço gratuito de clínica geral para os nossos colaboradores. O próprio seguro de saúde e as parcerias que temos com ginásios e centros de bem-estar são também reflexo dessa preocupação. E porque, de facto, valorizamos a saúde mental, temos agendada formação em primeiros socorros psicológicos com vista à promoção de uma conduta mais sensível e informada por parte das nossas lideranças.
Dentro da vossa estratégia de recrutamento, recorrem a empresas especializadas? Porquê?
Sempre que sentimos poder ser uma mais-valia, recorremos. Fazemo-lo, por exemplo, para posições mais estratégicas ou para funções que requerem uma expertise mais específica, confiando na amplitude de alcance que, à partida, estes parceiros conseguem.
Como se descreve, para lá da Sofia profissional?
Apaixonada pela vida. Sempre a sonhar com a próxima viagem. Gosto de uma boa conversa. Deleito-me com o cinema, o teatro e a música. Espanto-me e relaxo entre montanhas. Encanto-me com a Língua Portuguesa e alimento-me das palavras. Gosto de as ler, escrever e oferecer. Os livros são relíquias. E o chocolate a minha maior perdição.