Começou em advocacia, integrou o Governo ligada a diversas funções de chefia de gabinete, no mundo corporativo foi administradora executiva, passou por diferentes sectores, e atualmente é diretora de Recursos Humanos do Banco Montepio. O gosto por aprender – e ser curiosa – tem determinado o seu percurso, sempre com o objetivo de contribuir e fazer a diferença.
Entrevista a Sandra Brito Pereira, diretora de Recursos Humanos do Banco Montepio
Recorda-se o que queria ser, em criança?
Queria ser atriz e escritora.
E na sua adolescência, quais eram as suas áreas de interesse e o que se imaginava a fazer profissionalmente?
Nessa altura já me imaginava a ser diplomata, gestora ou advogada.
Acabaria por optar pelo curso de advocacia. O que motivou essa escolha e o que mais gostou nessa fase de aprendizagem?
O que mais me motivou foi contribuir para a redução das iniquidades e injustiças e ajudar os mais desprotegidos. Gostei muito dos meus tempos na Faculdade de Direito de Lisboa, tive colegas fantásticos, de quem ainda hoje sou amiga, e o ambiente entre os alunos era muito diversificado e interessante. O tratamento dos professores era menos simpático, mas contribuiu de forma determinante para que eu me tornasse ainda mais resiliente.
Foi mesmo como advogada que começou o seu percurso profissional. O que recorda desse período, de quando começou a trabalhar?
Foi um período muito interessante porque a faculdade não nos ensinava a ser advogados – ensinava-nos a pensar e a procurar soluções. Por outro lado, os estágios de 18 meses não eram remunerados e também por isso comecei logo a dar aulas na faculdade e tenho mantido, desde essa altura, esta atividade docente em paralelo.
Entretanto, em 2000, integrou o Governo, ligada a diversas funções de chefia de gabinete. O mundo corporativo e o mundo público são muito diferentes, a nível profissional? Como foi esse desafio?
São algo diferentes, os gabinetes ministeriais têm um contexto muito específico e limitado no tempo. A gestão da equipa e dos temas depende muito da relação com o membro do Governo respetivo e do mandato que o mesmo nos confia – pode ser uma função mais técnica ou política.
Para mim foi uma grande escola de aprendizagem, uma experiência, ou várias, porque fui chefe de gabinete três vezes, todas muito diferentes e muito enriquecedoras, e o facto de trabalharmos para a causa pública é realmente muito motivador, mas também por vezes algo frustrante.
O nosso mandato na vida corporativa também depende muito da gestão que fazemos dos nossos vários stakeholders mas a dinâmica e a velocidade que imprimimos parece-me ter um nexo de causalidade mais direto com o nosso nível de esforço, empenho, capacidade de trabalho e geração de consensos.
Foi também administradora executiva, responsável de desenvolvimento organizacional e relações internacionais. Esta diversidade de experiência é algo que procure ou é mais uma questão de agarrar as oportunidades quando elas surgem?
Na realidade sou muito curiosa e gosto muito de aprender e talvez por isso a mudança de sector, de indústria, de empresa e até de função, seja para mim, muito atrativa. Pondero também sempre onde vou poder ter mais impacto, qual é o tipo de projeto em que sinto que realmente conseguirei contribuir e fazer a diferença. A abertura a novas oportunidades quando os convites surgem tem também muito a ver com o gosto que tenho por novos desafios e a concretização de projetos.
Em 2013 começaria uma função como head of global learning e como head of Knowledge ainda na Jerónimo Martins, e agora, no Banco Montepio, é diretora de Recursos Humanos. O que mais a fascina na área de Gestão de Pessoas?
Gosto muito da transversalidade da função de responsável pela Gestão de Pessoas no seu todo e de forma integrada e holística. O que mais me fascina nesta área é trabalhar em prol do nosso cliente interno, com o desafio de desenhar soluções flexíveis e aparentemente customizadas para grandes organizações e por outro lado.
O desafio da aprendizagem contínua de adultos em contexto laboral também é um tema fascinante, que desenvolvo também na área académica.
Tendo já sido também administradora executiva, como acredita que esta área é vista pela liderança de topo, genericamente falando?
Creio que é uma área que tem feito o seu caminho com mais credibilidade do que no passado e que hoje em dia é incontornável na agenda de qualquer CEO – essa jornada parece-me que pelo menos nas grandes organizações está concretizada.
O que destacaria em cada fase do seu percurso profissional? Quais as principais aprendizagens?
Todas as experiencias têm sido muito diversificadas e enriquecedoras, por isso destacaria que o trabalho me obriga continuamente a ser melhor pessoa, a estudar mais, a aprender mais, a receber mais e melhor feedback e a ser continuamente desafiada pelas pessoas e pelas suas circunstâncias – é um privilégio!
Consegue identificar uma conquista que a tenha deixado particularmente orgulhosa ou com sentimento de missão cumprida?
Sempre que há uma vida que melhora substancialmente com alguma ajuda ou intervenção da minha parte vou para casa feliz com esta profissão. Sempre que me sinto a construir pontes, a abrir portas, a gerar soluções para problemas complexos, a trazer valor acrescentado para um dilema ou dificuldade humana, esse é um dia bom!
E há algum decisão/ situação que tenha sido particularmente difícil/ desafiante?
Sim, a gestão dos vários stakeholders é muito desafiante, porque raramente é coincidente – cada um tem as suas motivações e a sua agenda própria – esta pode ser explícita, mas muitas vezes é tácita – a gestão desta complexidade humana, das emoções nas organizações, da dissonância cognitiva muitas vezes latente, são temas mobilizadores, mas seguramente muito desafiantes.
Atualmente, quais são os seus principais desafios?
O desafio de apresentar propostas compagináveis com o futuro do nosso negócio, com a grande transformação da nossa indústria, preservando e honrando o legado de uma organização centenária, assente em valores de humanismo e cooperação.
E dos gestores de Pessoas, em geral, quais acredita que serão os principais desafios nos próximos anos?
Sermos capazes de desenhar as melhores propostas e soluções para os nossos colaboradores num mundo em constante mudança, muito exigente e com uma estreita e intrincada relação ao negócio. Saber ler, antecipar, propor, decidir e inovar, para que possamos ser sustentáveis e competitivos.
Que tendências perspetiva para o mundo do trabalho?
Um mundo do trabalho mais flexível, mais ajustável, mais assente em projetos que congregam vários e diferentes interlocutores, num ambiente deliberadamente diverso e inclusivo, onde os temas serão mais universais como a sustentabilidade.
Quem é a Sandra, para lá da profissional?
Uma pessoa grata pela vida, muito entusiasta da mesma, e que tem como mote uma frase do Oscar Wilde: “Vida simples e pensamentos elevados”.