Contribuir para fazer a diferença na vida das pessoas.
É isto que mais motiva Carla Belo no seu dia-a-dia. Atualmente diretora de Recursos Humanos do Grupo Boticário, é neste área – da Gestão de Pessoas – que te desenvolvido todo o seu percurso profissional, ao longo do qual aprendeu que «as pessoas fazem a diferença, seja onde for, e por isso precisamos cuidar do lado profissional, mas não descurar o lado pessoal.»
Entrevista a Carla Belo, diretora de Recursos Humanos do Grupo Boticário
É licenciada em Recursos Humanos e é nesta área que tem desenvolvido todo o seu percurso profissional. Como surgiu este interesse?
A verdade é que eu queria estar ligada a pessoas e Psicologia foi o que me despertou o interesse – tive essa cadeira no 10º ano de escolaridade. Nesse ano de entrada para a universidade, as médias eram muito elevadas e eu, que sempre fui uma aluna média, acabei por não entrar nessa opção. Entretanto, através de uma amiga, descobri que havia uma licenciatura que tinha “muita” Psicologia que se chamava Gestão de Recursos Humanos. Candidatei-me e acabei por entrar e seguir esse caminho.
Mais atrás, na adolescência, quais eram as suas áreas de interesse? O que se imaginava a fazer profissionalmente?
Imaginei ser professora de português e inglês, pois eram as minhas áreas preferidas.
O que destaca como experiências/ situações mais marcantes do seu percurso profissional? Quer pela positiva, quer pela negativa...
Tive oportunidade de fazer um estágio no final do meu 3.º ano e abracei esse desafio. Foi muito importante ter tido essa oportunidade. Sou uma pessoa de ação e só a componente teórica estava a deixar-me angustiada, porque não conseguia visualizar como se operacionalizavam as políticas de Recursos Humanos no dia-a-dia.
Nesse ano, com esta oportunidade, estive logo em contacto com várias organizações, o que me permitiu perceber que, sim, é possível colocar em prática. Nesta empresa, a MPV-Consultores, acabei depois por ser contratada e lá fiquei cinco anos.
Entretanto, fui convidada para trabalhar na equipa de Recursos Humanos do Grupo Portugália Restauração. Foi um percurso de 10 anos, que me permitiu desenvolver enquanto pessoa e profissional, tive todas as oportunidades que qualquer profissional gostaria de ter. Cresci muito e sou muito grata por esta década nesta organização.
Todas as minhas outras experiências até ao momento tiveram situações marcantes, positivas e negativas, mas que fazem parte da vida de qualquer profissional. O que mais destaco em todas é a oportunidade que tive, enquanto RH, de contribuir para fazer a diferença na vida das pessoas. Isso é o que me move!
O que identifica como principais aprendizagens?
As pessoas fazem a diferença, seja onde for, e por isso precisamos cuidar do lado profissional, mas não descurar o lado pessoal. Precisamos estar bem para nós e para os outros.
Ser uma pessoa otimista tem-me ajudado muito, principalmente nos momentos mais difíceis. Consigo ver sempre o copo meio cheio.
A resiliência é uma competência básica para liderar, não podemos ser líderes e não ser resilientes. Temos desafios todos os dias.
E qual a principal conquista?
Felizmente tenho muitas, mas as melhores são aquelas em que percebo que eu faço parte de algo maior, que o facto de o meu caminho se ter cruzado com o caminho de alguém fez toda a diferença na vida dessa pessoa, e também na minha.
Se pudesse, faria alguma coisa de maneira diferente?
Não, sou mais de olhar em diante, não gosto de olhar para trás. Acho que devemos ser gratos pelas oportunidades e seguir em frente.
O que recorda de como começou a trabalhar?
Recordo o entusiamo que tinha com tudo o que era novo, poder conhecer pessoas e os processos. Sentia-me mesmo muito feliz com coisas básicas como fazer uma chamada telefónica ou visitar uma fábrica de um cliente para conhecer o ciclo de produção. Ficava maravilhada com tudo!
Como compara essa "época" com os dias de hoje? Pensando nos profissionais que agora estão a entrar no mundo do trabalho, mas também nas empresas, e na própria Gestão de Pessoas - a importância que assume e a forma como é trabalhada, é "outra realidade", "outro mundo"?
Atualmente consigo encontrar o mesmo entusiasmo nas pessoas que iniciam estágio connosco. No entanto, vejo um sentido de urgência diferente. É tudo mais rápido hoje em dia e, por isso, os jovens acham que as empresas vão responder da mesma forma, mas nem sempre é possível, o que causa frustração e leva a que haja mais mobilidade. As organizações precisam de se preparar para esta nova realidade.
A Gestão de Pessoas é o denominador comum no seu percurso, mas tem passado por sectores diversificados. Na sua essência, os desafios são os mesmos ou variam consideravelmente de acordo com o sector, dimensão, nível de maturidade da empresa...?
Os desafios são semelhantes, mas adaptados às diferentes realidades.
Atualmente, quais são os seus principais desafios?
Um dos meus desafios atuais está relacionado com o crescimento acelerado da empresa que, em dois anos, duplicou o número de colaboradores. É necessário ter uma empresa cada vez mais digital, mas muito humana, porque as pessoas são a chave de todo o processo de digital.
A cultura organizacional ganha cada vez mais importância, porque gera confiança, contribui para a retenção de colaboradores, bem como melhora a sua experiência na organização, dando-lhes um sentido de propósito e de bem-estar.
A escassez de talento é também uma preocupação, por isso precisamos ser cada vez mais criativos e flexíveis, de modo que a nossa proposta de valor para atrair talento seja competitiva.
É com esses temas que acredita que os principais desafios dos gestores de Pessoas, e das empresas, em geral, vão estar relacionados nos próximos anos?
Sim. Considero que os principais desafios serão a escassez de talento, a necessidade de reskilling e upskilling das competências dos colaboradores, de acordo com toda a transformação digital em curso. A, como disse, cultura organizacional ganha ainda mais importância, porque é necessário criar estratégias para atrair, reter e engajar os colaboradores neste novo modelo de trabalho.
Que tendências perspetivas para o mundo do trabalho?
O trabalho remoto – ou hibrido – veio para ficar. As pessoas não querem mais voltar ao “antes”, porque perceberam que conseguem equilibrar a sua vida pessoal e profissional, com autonomia e flexibilidade associada. Muitas funções podem ser desempenhadas de qualquer lugar do mundo, desde que se tenha acesso a uma rede de internet. A pandemia mostrou-nos que isso é possível.
Considero também que a formação académica é apenas o princípio, porque vai haver necessidade de estudar mais, com modelos de aprendizagem mais ágeis, em qualquer fase da carreira de um colaborador, permitindo-lhe fazer escolhas na gestão da sua carreira.
Profissionalmente, imagina-se a fazer outra coisa?
Não me imagino, pelo menos por enquanto, a fazer outra coisa, embora goste muito de ensinar e talvez essa possa ser uma carreira a pensar.
Quem é a Carla, para lá da profissional?
Sou a mãe da Joana. Casada com o João. Gosto de conviver, de estar com a família e amigos, de viajar, de conhecer novos locais e culturas. Gosto também de ter tempo para mim, de ler, de ver filmes e séries de televisão; consigo desligar do mundo e descansar.