De um percurso profissional de já mais de 25 anos, Elsa Carvalho recorda do início as noites passadas no escritório a comer bolachas e cerejas. Passou por vários setores e empresas com diferentes níveis de maturidade. Em comum têm sido sempre o desafio da transformação.
Entrevista a Elsa Carvalho, diretora central de Recursos Humanos da Caixa Geral de Depósitos (CGD)
É licenciada em Psicologia, mas a sua carreira acabou por, desde o início, estar ligada à Gestão de Pessoas; primeiro como consultora, depois nas empresas, como líder nesta área. Foi uma questão de oportunidade ou é uma área em que sempre teve interesse?
A minha formação de base é em Psicologia, mas sempre tive interesses muito diversificados. Fiz formação também em Gestão e Direito. No secundário pensei também seguir Engenharia, sendo que gostava particularmente de Física.
Decidimos trilhar um caminho muitas vezes por uma questão de oportunidade e a vida acontece. Vamos gostando e aprofundando. Penso que foi o que aconteceu comigo. Sou uma apaixonada pelo que faço e por isso mesmo, tento aprofundar e desenvolver, indo buscar as ferramentas e formação necessárias para ter uma visão cada vez mais completa e aprofundada do mundo, dos negócios e das pessoas.
Antes de assumir a direção de Recursos Humanos da CGD, como foi o seu percurso?
Tenho já mais de 25 anos de experiência profissional, incluindo experiência internacional, em diferentes desafios de negócio e sectores – financeiro, energia, saúde, automóvel como primeira linha de gestão e muitos outros, como consultora e gestora de projetos –, o que me permite ter uma sólida e diversificada experiência dos ciclos de vida das empresas – de startups, a negócios maduros, empresas em reestruturação, fusões e aquisições e crescimento orgânico – e das necessidades de gestão em função dos ciclos de vida. Em comum destaca-se terem sido empresas com desafios de transformação fortes e em sectores em mudança.
Gosto de aprofundar conhecimentos e, por isso, tenho diversificado a formação. Considero fundamental ter uma sólida formação, para melhor abraçar os desafios. Esta dá-nos a capacidade para pensar e ter múltiplas abordagens em função das necessidades.
Tenho tido ainda o privilégio de trabalhar em equipas e com pessoas que me têm desafiado e com as quais tenho crescido e aprendido bastante. Essa tem sido uma constante.
O que recorda de quando começou a trabalhar? Que memória – ou memórias – lhe ficaram marcadas?
Durante o meu percurso académico dei aulas, pelo que a relação com os outros e o partilhar é uma memória que guardo.
Quando acabei a faculdade comecei na consultoria, sendo que nesta atividade temos sempre histórias marcantes. Para além das noites passadas no escritório a comer bolachas e cerejas – há de haver quem ao ler também se recorde –, recordo as viagens e a aventura de estar sempre em projetos novos, a procurar novas soluções. A criatividade, flexibilidade, capacidade de negociação e de comunicação, a par com uma boa capacidade de análise e de planeamento foram competências muito testadas no início da minha atividade profissional.
Mas o que recordo mais são momentos, pessoas e equipas. E todas essas memórias me fazem sorrir. Foram tempos muito desafiantes, mas igualmente muito gratificantes e divertidos.
Quais são os principais desafios, atualmente, não só para si, em particular, mas para a Gestão de Pessoas, em geral?
A Gestão das Pessoas vai passar necessariamente por grandes transformações. Com maior preocupação a nível da sustentabilidade no vetor pessoas, a par com preocupações de carácter económico, social e ambiental.
Na liderança, um maior focus no indivíduo e uma liderança mais personalizada e humanizada.
Temas como a diversidade e inclusão vão ganhar cada vez maior peso na imagem e notoriedade das empresas e na atratividade para captar e reter talento.
A flexibilização dos modelos de organização do trabalho e locais de trabalho, com o necessário surgimento de novos modelos de aquisição de conhecimento e novas formas de relação contratual, com um mundo cada vez mais global e com facilidade de mobilidade.
Também um maior aproveitamento nos desenvolvimentos tecnológicos, para um maior focus no que necessariamente cria valor.
sou uma apaixonada pelo que faço.
Do seu percurso, quais as principais dificuldades – ou desafios - que recorda?
Felizmente, o bom da idade é a maturidade trazida pela experiência, sendo que a experiência vem das novas situações e da capacidade de nos adaptarmos/reinventarmos. Recordo uma vida intensa e repleta de desafios, sabendo que ainda tenho muito para crescer e realizar.
Existem sempre situações que faríamos de forma diferente e a isso chama-se capacidade de autocrítica, de aprendizagem e focus na melhoria. Existe uma expressão que utilizo com muita frequência: “mares calmos não fazem bons marinheiros”.
Tem alguma máxima que a "guie" no seu dia-a-dia ou alguma aprendizagem em particular de que se lembre com maior frequência?
Tenho uma série de “máximas” que me guiam no dia-a-dia. Vou usar uma expressão de Albert Camus – “A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente”. Acredito que o futuro é “uma sucessão de presentes” e que somos nós, com as nossas escolhas e ações, que fazemos o nosso caminho.
O que mais a fascina naquilo que faz?
Envolvo-me e gosto muito do que faço. Quando se tem real paixão, tenta-se, a cada dia, ser melhor. A interacção humana é fundamental para mim – na gestão das pessoas e das equipas – e fazer com cada pessoa/cada equipa seja melhor e consiga dar o melhor de si é muito gratificante.
Imagina-se a fazer outra coisa? Se sim, o quê?
Imagino-me a fazer muitas outras coisas, tendo em comum negócios, gestão e pessoas.
Quem é a Elsa, para lá da profissional?
Uma mulher comum, que aprecia coisas simples e que retira real prazer da vida e dos momentos. Gosto de arte, música e muitas outras formas de expressão artística. Aprecio um bom vinho, um bom livro e uma boa conversa.