O Doutor Finanças tem seis anos de existência, começou com cinco colaboradores e agora tem mais de 100 e propõe-se curar as “dores na carteira” aos seus clientes, fazendo o bem, bem feito. Para isso, conta com o envolvimento dos seus “doutores”, promovendo uma cultura de empatia.
Entrevista a Irene Vieira Rua, directora de Recursos Humanos do Doutor Finanças
O Doutor Finanças é uma empresa relativamente recente. Como surgiu e o que mais valia veio trazer para o mercado?
O Doutor Finanças nasceu em 2014, num contexto de crise e de austeridade financeira, com a missão de ajudar as famílias a encontrar soluções, facilitando as decisões em áreas tão sérias e delicadas como a gestão das suas finanças. É por isso que nos apelidamos de doutores ou médicos, porque, no fundo, o nosso processo é similar ao dos médicos verdadeiros.
Como assim?
Recebemos o cliente, realizamos um diagnóstico e tomamos as medidas necessárias para melhorar a sua condição. Actuamos desde o primeiro momento de uma forma muito próxima das pessoas também, dando-lhes ferramentas e conteúdos que contribuem para a sua literacia financeira. Como dizemos, propomo-nos a curar as “dores na carteira” dos nossos clientes.
Em seis anos, cresceram bastante…
A empresa nasceu com cinco doutores, tendo ajudado 2000 famílias no primeiro ano. Actualmente somos mais de 100 – e estamos a crescer. Só em 2019, recebemos mais de 100 mil pedidos de ajuda, o que é uma prova de que fazia falta este tipo de serviço.
Quais têm sido os principais desafios neste percurso?
O principal desafio tem sido fazer as coisas à medida do nosso slogan: fazer o bem, bem feito. E fazer bem feito é fazer com os pés no chão, é fazer uma coisa sustentada, que perdure no tempo. Essa tem sido a principal preocupação: que o Doutor Finanças seja uma empresa sustentável e que perdure no tempo. Continuarmos todos os anos a crescer, a aumentar a estrutura sem responsabilidades nos bancos, criando uma empresa autossustentável. Todos os investimentos que temos feito ao longo deste período têm sido com aquilo que produzimos, com as receitas que tivemos ao longo do tempo, sem recorrer a terceiros e sem vender capital.
O outro desafio são as pessoas, gerir pessoas: manter as pessoas, fazer crescer as pessoas. E é com orgulho que dizemos que temos pessoas que começaram por ser colaboradores e são hoje sócios, outras que entraram com uma determinada posição e foram crescendo e hoje são responsáveis por departamentos, ajudando-nos a crescer também.
O rápido crescimento também traz desafios acrescidos, nomeadamente na Gestão de Pessoas…
Crescer rapidamente é algo que todos ambicionamos quando decidimos empreender, mas, por outro lado, é algo que tememos, quanto mais não seja porque, em algum momento, já lemos e/ou sentimos na pele aquilo a que chama “dores de crescimento”.
Como temos crescido de forma rápida desde 2014, temos sentido esses desafios, sobretudo na gestão das pessoas, sim. Temos sempre o desafio de as fazer sentir-se parte do ADN do Doutor Finanças, pois o nosso negócio é feito por elas e com elas. Tem sido esse o nosso foco, criando e melhorando os mecanismos de integração e de formação, para que esse crescimento se possa manter de forma saudável.
Qual a importância que as pessoas assumem na estratégia do negócio?
As pessoas não são importantes, são tão fundamentais como o cliente para a estratégia do negócio. No Doutor Finanças sabemo-lo desde o momento zero. Somos adeptos do “fazer o bem, bem feito” e esta máxima tem, obviamente, expressão na forma como cuidamos das nossas pessoas. Valorizamos, investimos e reconhecemos as nossas pessoas, e sabemos que elas são pilares fundamentais do nosso sucesso.
Mas como tem sido gerido esse crescimento? Será bastante diferente ter uma empresa com cinco pessoas, para as mais de 100 que existem agora…
O crescimento tem sido grande, mas ponderado. E ainda que seja mais fácil gerir cinco pessoas do que 100, a verdade é que a nossa cultura de proximidade e de preocupação com as pessoas facilita a gestão do dia-a-dia.
Felizmente temos um ambiente de trabalho excepcional, o que só é possível tendo as pessoas certas. E este tem sido o maior trunfo do Doutor Finanças para um crescimento sem grandes dores: o envolvimento das pessoas no projecto.
Provavelmente, a sua função, directora de Recursos Humanos, não existe desde o início da empresa. Quando assumiu funções e o que assumiu como prioridades de actuação?
Como é relativamente comum no tecido empresarial português, a função de director/a de Recursos Humanos não existe em regime de full time desde que as empresas são criadas. No Doutor Finanças, apesar de a preocupação pelas pessoas estar patente desde o momento zero, a decisão de ter alguém dedicado às pessoas em regime de full time – o que até então ocorria em regime de part time em acumulação com outras responsabilidades – foi tomada aquando da uma reestruturação ocorrida em 2017.
Quando, em 2017, integrei a empresa, a minha prioridade foi conhecer toda a equipa e, desta forma, conhecer a empresa. Sentei-me individualmente com cada um e ouvi todos, sem excepção. Na altura eramos aproximadamente 50 pessoas.
Quais são os pilares da política de Recursos Humanos do Doutor Finanças?
Os pilares da política de Recursos Humanos são a “Proximidade”, enquanto ferramenta de conhecimento das nossas pessoas e base sólida a partir da qual espoletamos iniciativas significativas para as pessoas e para a empresa, e a “Empatia”, enquanto capacidade de compreender o outro e, desta forma, contribuir para um melhor ambiente de trabalho, onde impere a cooperação e o reconhecimento, enquanto alavanca de motivação, compromisso e produtividade.
Que políticas internas destacaria, quer como mais inovadoras, quer como mais apreciadas pelas pessoas?
As iniciativas que utilizamos para atrair, gerir e reter talento resultam da proximidade com que gerimos as nossas pessoas, o que por sua vez contribui para um grande conhecimento daquelas que são as suas necessidades, motivações, ansiedades e desequilíbrios, e nos permite definir iniciativas significativas.
Esta tomada de consciência permitiu-nos perceber o desequilíbrio que a maioria das nossas pessoas experienciava no mês de Agosto, nomeadamente aquelas que nunca tiveram outra alternativa que não fosse a de virarem malabaristas na gestão das obrigações profissionais, familiares e pessoais. De forma a possibilitar um equilíbrio efectivo entre os eixos profissional, familiar e pessoal, decidimos promover uma iniciativa de babysitting durante todo o mês de Agosto.
Adicionalmente, também percebemos que as vantagens de conceder dias extra de férias, sobretudo quando colados a fins-de-semana ou feriados ou em dia de aniversário, suplantam largamente as desvantagens inerentes. Esta tomada de consciência fez com que, anualmente, proporcionemos em média mais cinco dias de férias extra às nossas pessoas. Esta é sem dúvida uma medida muito apreciada.
Conscientes da importância que um bom ambiente de trabalho tem, desenvolvemos também iniciativas de team building periódicas e juntamo-nos regularmente para momentos de partilha e celebração.
De enfatizar ainda a importância do processo de acolhimento de quem chega, um processo de integração que conta com um buddy, formação em sala, formação on the job, almoços com a directora de Recursos Humanos e com todos os elementos da administração, “estágio” de um dia em todos os departamentos da empresa, entre outras iniciativas.
Já este ano, a empresa foi distinguida pelo Índice da Excelência, pelas boas práticas de Gestão de Pessoas. Entre as dimensões avaliadas, onde se destacaram?
O Doutor Finanças destacou-se com um índice de excelência de 83,7%, estando claramente acima da média em todas as dimensões avaliadas. Quer dentro do seu sector de actuação – banca, seguros e serviços financeiros –, quer no universo das médias empresas.
Os resultados vêm confirmar que aqui todos vestem a ‘bata’. As nossas pessoas destacaram o orgulho que têm em trabalhar no Doutor Finanças, sendo esta a questão, de todo o inquérito, com um índice mais elevado (96%).
Largos pontos acima da média, estão questões relacionadas com as recompensas associadas ao cumprimento de objectivos de trabalho, à retenção dos colaboradores e à utilização de novas tecnologias na realização do trabalho. Mas não só. As nossas pessoas reconhecem que as suas responsabilidades familiares e pessoais são respeitadas.
Dimensões como a orientação para o cliente e a aprendizagem contínua também foram destacadas pelas nossas pessoas como pontos fortes. No Doutor Finanças, o atrevimento é realmente importante, pelo que todos são incentivados a saírem das suas zonas de conforto. Afinal, é fora da zona de conforto que a magia acontece.
O que assumem como prioridade em termos de áreas de melhoria?
As nossas prioridades no que à Gestão de Pessoas diz respeito estarão sempre alinhadas com aquelas que são as necessidades e motivações das nossas pessoas. Isto só se consegue porque gerimos numa base muito forte de proximidade, o que por sua vez contribui para um grande conhecimento daquelas que são as necessidades, motivações, ansiedades e desequilíbrios das nossas pessoas, permitindo que definamos iniciativas significativas.
Como resultado da fase atípica que estamos a experienciar, a comunicação e a conciliação pessoal-familiar-laboral são frentes a que estamos muito atentos e nas quais estamos a introduzir constantemente melhorias.
Têm estado a recrutar?
Estivemos a recrutar 20 pessoas, sem experiência na área, para integrarem a equipa do Doutor Finanças. E neste momento estamos a recrutar para uma nova área de negócio, que é a rede de intermediários, e tem como responsável Rui Cunha Santos.
Que perfis estão a recrutar para esta nova área?
Rui Cunha Santos: Os perfis que estamos a recrutar são de intermediários de crédito, com experiência na área e certificações necessárias para o exercício das funções de intermediação de crédito.
Em que consiste essa rede de intermediários?
Rui Cunha Santos: É uma rede que funciona através de um franchising e que tem como objetivo conseguir que mais pessoas possam ter acesso aos nossos serviços, nomeadamente através de uma presença física espalhada pelo Continente e Ilhas. Porque também sabemos que nem todas as pessoas estão preparadas para contrair um crédito ou pedir ajuda financeira sem estarem frente a frente com uma pessoa.
Como vai funcionar a rede de intermediários de crédito Doutor Finanças?
Rui Cunha Santos: Funciona através de um franchising, sem fee de entrada. E oferece uma série de ferramentas aos intermediários que facilitam a gestão dos processos e dos clientes. Assim, um intermediário de crédito Doutor Finanças poderá contar com total apoio para desenvolver a função a full time e com ligação directa à equipa central de gestão. E estamos abertos a duas situações: por um lado, estamos a receber pessoas que já têm certificação de intermediário de crédito, oferecendo formação para partilha de valores e conceitos. E estamos também abertos a que pessoas que não estejam certificadas entrem neste sector. Com a nossa ajuda, poderão obter as certificações necessárias e posteriormente integrar a rede.
Em termos de soft skills, o que privilegiam?
Irene Vieira Rua: É curiosa esta pergunta. Defendo que as soft skills são fundamentais em profissionais de qualquer sector e que são elas que distinguem profissionais incríveis da média. As soft skills são realmente importantes e consideradas em todos os processos de recrutamento que decorrem no Doutor Finanças, e este não é excepção.
Naturalmente privilegiamos soft skills alinhadas com aqueles que são os nossos valores: trabalho em equipa, proactividade, criatividade e comunicação. A ajuda ao próximo também é altamente valorizada, pois faz parte do que somos e daquele que é o nosso propósito enquanto empesa.
Têm tido dificuldade em encontrar esses perfis?
A maior dificuldade tem sido na gestão do enorme volume de candidaturas que nos tem chegado.
Quais diria que são os principais “argumentos” do Doutor Finanças enquanto empregador?
O nosso compromisso enquanto empregador de referência é o de estar próximo e escutar, e desta forma compreender e agir em benefício das nossas pessoas. É para nós claro que um bom ambiente de trabalho é fundamental e por isso desenvolvemos inúmeras iniciativas que promovem um bom relacionamento entre todos e que tratam a felicidade corporativa com a importância que tem.
Se dúvidas existissem a respeito do Doutor Finanças enquanto empregador de referência, bastaria atender ao índice médio de turnover a rondar os 5% para dissipar qualquer dúvida.
O que assumem como propósito? Acredita que isso também é valorizado pelos profissionais?
Temos uma máxima – que já referi – que utilizamos na relação com o cliente mas também “dentro de portas” que é “Fazer o bem, bem feito”. Trabalhamos com o objectivo de deixar uma marca indelével na vida de todos aqueles que se cruzam connosco e essa é a nossa prioridade.
O actual período veio de alguma forma alterar os objectivos/ prioridades que tinham definidas para 2020?
Inicialmente decidimos congelar alguns projectos, para percebermos a evolução de toda a situação. Entretanto, já descongelámos alguns, nomeadamente o lançamento da rede de intermediários de crédito, algo que tínhamos em mente e que acabámos de lançar, permitindo que mais pessoas se juntem a esta equipa e que nos ajudem a ajudar mais pessoas.
Além disso, estamos a contratar especialistas de crédito, oferecendo formação para que possam assimilar a cultura e os valores do Doutor Finanças.
E em termos de práticas de trabalho, alterou alguma coisa? Adoptaram novas práticas/ políticas que pretendam manter?
Quando no dia 13 de Março saímos do escritório para desenvolvermos a nossa actividade integralmente em teletrabalho, confesso que o fiz com uma enorme apreensão. No dia 16 estávamos a trabalhar praticamente em pleno graças ao envolvimento extraordinário de todos e ao facto de todo o nosso negócio estar totalmente digitalizado.
Já conseguimos olhar para trás e perceber nitidamente um mundo do trabalho pré-COVID e outro pós-COVID. Pouca coisa voltará a ser como era, nomeadamente as formas de trabalhar. Nós já tínhamos dado os primeiros passos ao nível do trabalho à distância e este foi o empurrão que provavelmente precisávamos para perceber que o teletrabalho, enquanto forma diferente de organização de trabalho, tem vantagens inequívocas para todos e que não podem ser ignoradas. Uma coisa é certa, o teletrabalho veio para ficar.
Por estranho que pareça, a comunicação interna também saiu fortalecida. Não passámos a comunicar mais, passámos a comunicar melhor: de forma mais assertiva, mais atenta ao perfil do receptor e às suas necessidades e procurando gerar impacto.
Que objectivos pretendem alcançar a curto/ médio-prazo?
Temos dois grandes focos: o pilar da literacia financeira, onde queremos ser cada vez mais uma referência, através de conteúdos. E o pilar da intermediação de crédito, em que queremos ser o número um em Portugal.
Os dois pilares têm um objectivo comum: ajudar as pessoas a terem melhores condições financeiras, a escolherem o melhor crédito habitação, a terem os melhores seguros, a negociarem os seus empréstimos e a terem uma vida financeira consciente e mais saudável.
Que tendências perspectivam para o futuro?
Não tenho dúvidas de que o foco continuará a estar nas pessoas e, fruto da crescente exigência das novas gerações, cada vez mais será necessário desenvolver iniciativas em torno da employer experience. Os Recursos Humanos terão – se é que já não têm – de se posicionar no sentido de proporcionar uma experiência de trabalho gratificante às suas pessoas. Tendencialmente, existirá mais e melhor cooperação entre os recursos humanos e os departamentos de Marketing e Comunicação.
A digitalização, mais do que uma tendência, é uma inevitabilidade. Se, com os últimos desenvolvimentos, ainda existem empresas que não o tenham percebido, receio dizer que poderão ter hipotecado o seu futuro irremediavelmente. Os sistemas de apoio aos RH funcionarão cada vez mais recorrendo à Inteligência Artificial para avaliar dados e apoiar a tomada de decisões.
No que às competências diz respeito, creio que será fundamental continuar a dar palco às soft skills enquanto habilidades comportamentais que impactam de forma decisiva nas relações interpessoais, no trabalho em equipa e no clima organizacional como um todo.
As competências de liderança terão de se ajustar a um mundo do trabalho volátil, incerto, complexo e ambíguo – o tal ambiente VUCA de que tanto se tem escrito e falado – e desta forma oferecer vantagens competitivas à sua organização.