Apesar da atenção recente, a escassez de profissionais qualificados na indústria transformadora é um desafio constante há anos.
Esta questão gera um efeito em cadeia na organização, causando atrasos, menor produção, maior cansaço e rotação de trabalhadores. Como tal, acaba por agravar ainda mais o problema.
Para os consumidores, esta falta de mão de obra a nível mundial pode resultar em prateleiras vazias, prazos de entrega mais lentos e custos mais elevados. É provável que estes desafios laborais persistam, a menos que as organizações e os governos tomem medidas para encorajar mais profissionais a trabalhar no sector industrial.
Para que isso se torne realidade, é importante começar por compreender as causas da escassez de mão de obra na indústria transformadora.
Está a sentir "na pele" a escassez de mão de obra? Veja as nossas 11 dicas para o ajudar neste período mais díficil.
ultrapassar a escassez9 potenciais razões para a falta de mão de obra na indústria transformadora
Não existe uma resposta simples para explicar a escassez de mão de obra na indústria transformadora. Em vez disso, trata-se de uma combinação de questões, muitas das quais têm vindo a afetar a indústria há anos.
Vejamos algumas:
Falta de estabilidade
De acordo com o nosso Randstad Workmonitor 2023, a segurança no emprego é uma das principais preocupações dos profissionais actuais. O nosso estudo revela que 92% dos profissionais valorizam a segurança no emprego, e 63% recusariam uma oferta sem essa garantia.
Infelizmente, há vários factores que afectam a estabilidade da indústria transformadora. Em primeiro lugar, as perturbações na cadeia de abastecimento, que atingiram o seu auge durante a pandemia, continuam a afetar a indústria atualmente. Quando os fabricantes não conseguem assegurar as matérias-primas de que necessitam, isso pode resultar numa redução do horário de trabalho dos profissionais.
Os desafios contínuos da cadeia de abastecimento também resultam em custos mais elevados. De acordo com um estudo recente, 71% das organizações globais classificam o aumento dos custos como a principal preocupação da cadeia de abastecimento.
Infelizmente, a instabilidade global também está a provocar perturbações na cadeia de abastecimento e o aumento dos custos. Por exemplo, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia provocou um aumento dos custos do combustível em todo o mundo. Como a Rússia é um grande produtor de metais como cobre, níquel e alumínio, o conflito fez subir os seus custos. O alumínio, por exemplo, registou custos recorde no início do conflito.
O conflito israelo-palestiniano está também a provocar desafios na cadeia de abastecimento. Por exemplo, quaisquer perturbações no Médio Oriente podem resultar num estrangulamento dos navios de carga através do Canal do Suez, o que atrasará os prazos de entrega.
Com a ameaça de recessão global, muitas empresas, incluindo fabricantes, procuram formas de reduzir custos. Isto pode resultar em despedimentos e redução de horários, o que impede a segurança no emprego dos profissionais.
Salários baixos
A atual escassez de mão de obra também provocou um mercado de trabalho orientado para os candidatos. Muitos dos profissionais actuais estão a exigir salários mais elevados. Este facto não é surpreendente. Afinal, há muito que os salários são um dos principais factores de mudança de emprego.
Segundo o nosso estudo sobre employer branding, 62% dos profissionais consideram o salário o principal fator para aceitar ou deixar um emprego.
Isto levou muitos fabricantes a aumentar os salários para satisfazer esta procura. De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes, os fabricantes sediados nos EUA aumentaram os salários em 3,5% em 2022.
Embora este seja um ótimo começo, os profissionais de hoje procuram mais do que apenas revisões salariais anuais. Querem um pacote de compensação completo que inclua outros benefícios monetários, como subsídios mensais para o custo de vida e subsídios para a gasolina.
É importante que os fabricantes reavaliem os seus pacotes de compensação para determinar a sua comparação com os padrões da indústria. Se necessário, a sua empresa poderá ter de ajustar as suas ofertas salariais e de benefícios para satisfazer esta procura.
Envelhecimento dos profissionais
Embora o envelhecimento dos profissionais esteja a afetar os empregadores de todas as indústrias, o sector da indústria está a ser particularmente afetado. A investigação mostra que 30% dos recursos humanos a nível global terão 50 anos ou mais em 2050. Esta é uma preocupação para os empregadores da indústria transformadora, que já enfrentam dificuldades em preencher vagas e encontrar profissionais com as competências certas.
O envelhecimento da força de trabalho na indústria transformadora obriga os empregadores a substituir cargos, perdendo a experiência e o conhecimento desses profissionais.
Os empregadores devem criar programas de mentoria para que os profissionais mais experientes transmitam competências e conhecimentos às novas gerações. Também é importante ter uma estratégia de substituição em vigor para ajudar a preencher essas vagas.
A boa notícia para os fabricantes é o facto de alguns profissionais mais velhos que se reformaram durante a pandemia estarem a considerar regressar à vida ativa. Talvez isto se deva às crescentes preocupações com a recessão. Os estudos mostram que 1 em cada 6 profissionais reformados nos EUA está a considerar fortemente voltar ao trabalho.
Os fabricantes podem ser capazes de atrair estes profissionais de volta com benefícios, tais como opções de trabalho a tempo parcial, horários flexíveis e formação dos funcionários.
Saiba mais sobre as causas da atual escassez de mão de obra na indústria transformadora com estas 7 estatísticas.
saber maisMaior procura de competências tecnológicas
Outro grande desafio que a indústria transformadora enfrenta é a implementação de tecnologia avançada no local de trabalho.
É verdade que a utilização desta tecnologia, como a robótica e a impressão 3D, permitiu aos fabricantes automatizar muitas tarefas que os profissionais costumavam efetuar manualmente.
Embora esta transformação para a automatização tenha eliminado milhões de postos de trabalho na indústria transformadora, também abriu as portas a uma variedade de novas funções.
Infelizmente, estes novos empregos requerem um novo conjunto de competências que muitos profissionais da indústria transformadora simplesmente não têm. Este desafio bloqueia as empresas na procura de competências. Estima-se que 10 milhões de vagas na indústria transformadora fiquem por preencher devido à falta de qualificação.
Para ajudar a combater este problema, muitos empregadores estão a investir na requalificação e na melhoria das competências dos seus profissionais actuais. Assim garantem as competências específicas de que a empresa necessita.
Perceção negativa do setor da indústria
A indústria transformadora tem enfrentado um problema de imagem há anos. Nos Estados Unidos, a maioria dos pais reconhece a sua importância, mas apenas 40% encorajariam os filhos a seguir essa carreira. O que justifica esta perceção negativa?
Muitos acreditam que os empregos na indústria transformadora exigem esforço físico intenso, longas horas e oferecem salários baixos. Embora algumas dessas crenças possam ter fundamento, as empresas falham em comunicar o verdadeiro impacto do setor.
As novas gerações querem sentir que o seu trabalho tem significado. Os fabricantes precisam de evidenciar o valor dos seus produtos e o ambiente moderno e tecnológico das fábricas atuais.
Além disso, existe a ideia errada de que a progressão na indústria transformadora é limitada. Para atrair jovens talentos, os fabricantes devem destacar os seus programas de formação e desenvolvimento.
Empresas como a Schneider Electric investem na capacitação dos seus profissionais. A sua Universidade Schneider Electric permite formação interna, e a plataforma online Energy University oferece mais de 200 cursos gratuitos para evolução profissional.
A indústria transformadora precisa de mudar esta narrativa. Destacar inovação, impacto social e oportunidades de crescimento pode ser a chave para atrair novos talentos.
Falta de diversidade
A falta de diversidade ao nível laboral tem atormentado a indústria transformadora durante décadas, especialmente no que diz respeito à igualdade de género. Apesar dos progressos, as mulheres ainda são menos de 30% dos profissionais na indústria transformadora a nível global.
Devem ser feitos mais esforços para atrair as mulheres para a indústria. Por exemplo, os fabricantes precisam de avaliar as suas ofertas de emprego e ajustar os seus recursos humanos para poderem construir uma força de trabalho diversificada.
Algumas organizações têm vindo a tomar medidas para melhorar a imagem da indústria transformadora. Nos EUA, a Associação Nacional de Fabricantes lançou a campanha Creators Wanted, investindo 14 milhões de dólares para promover a diversidade e atrair candidatos.
Efeitos secundários da COVID-19
Seria impossível discutir a atual escassez de mão de obra sem compreender o papel desempenhado pela COVID-19. Os trabalhadores de todos os sectores enfrentaram desafios sem precedentes que alteraram seriamente a forma como estes profissionais viam o seu papel nas forças de trabalho. Embora a pandemia tenha terminado, muitos destes desafios e mudanças nas expectativas dos profissionais permanecem.
Apoio à saúde mental
Durante a pandemia, os profissionais das indústrias transformadoras enfrentaram uma vasta gama de desafios. Alguns enfrentaram encerramentos frequentes e despedimentos temporários, enquanto outros se viram a trabalhar longas horas devido à escassez de pessoal e às exigências dos consumidores.
Em casa, os profissionais também enfrentaram desafios sem precedentes, incluindo o encerramento de escolas e a prestação de cuidados a entes queridos idosos. Estas questões são tão generalizadas que um estudo mostrou um aumento de 86% no burnout entre os profissionais da indústria transformadora durante 2020.
Atualmente, o aumento dos custos e as preocupações com a recessão estão a causar um stress extremo nas famílias de todo o mundo. Para responder a esta preocupação, cada vez mais profissionais estão a aceitar segundos empregos. Este facto pode aumentar o risco de esgotamento. Este fator reforça a necessidade de os empregadores oferecerem mais apoio à saúde mental, como exames de bem-estar, aconselhamento e licenças mais flexíveis.
Desejo de flexibilidade
Um grande desafio que a indústria transformadora enfrenta é a sua capacidade limitada de oferecer opções de trabalho à distância. Desde a pandemia, muitos profissionais valorizam agora a importância de manter um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal. Segundo o Workmonitor 2023 da Randstad, 45% dos profissionais recusariam um emprego sem um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal.
Embora o trabalho remoto possa não ser possível para muitos fabricantes, ainda há coisas que sua empresa pode fazer para oferecer mais flexibilidade. Por exemplo, uma folga remunerada adicional pode dar aos funcionários os dias extras de que precisam para lidar com questões pessoais.
Estratégias como troca de turnos, horas extra voluntárias, horários reduzidos e trabalho a tempo parcial podem ampliar a reserva de talentos e melhorar a contratação.
A escassez de mão de obra desafia a indústria, mas entender as causas pode ajudar a superá-la.
Para atrair novos colaboradores, uma boa descrição da vaga é essencial. Veja as nossas dicas!
descrição de vagaQuais são as competências mais procuradas?
A atual escassez de mão de obra é tão grande que os fabricantes estão a contratar para quase todos os cargos. No entanto, há algumas funções que têm atualmente uma procura muito elevada, tais como especialista em garantia de qualidade, engenheiro industrial, montador, gestor de produção e soldador.
As competências que serão mais procuradas a curto prazo incluem a capacidade de colaborar entre disciplinas de fabrico e interagir com clientes e parceiros.
Identificámos algumas das competências mais procuradas na indústria transformadora:
- adaptabilidade
- gestão de programas
- competências de programação e gestão de TI
- competências pessoais
- competências de pensamento crítico
- cibersegurança
Esta é uma versão actualizada de um artigo originalmente publicado em 19 de outubro de 2022.